
No período de 27 jul. a 2 ago. 2020 lancei, em mídias sociais, os cartões Sete mulheres impactantes da literatura brasileira sobre personagens femininas da literatura brasileira, levando-se em conta o quanto esses arquétipos do feminino influenciaram a minha formação como pessoa e como profissional.
Confesso: não sou mulher, mas carrego muitas mulheres em mim. De outra forma poderia dizer que as mulheres são imanentes à minha construção existencial.
É preciso dizer que sempre fui muito próximo das entidades femininas e teria o que escrever sobre muitas outras personagens da nossa literatura, mas para efeito do projeto Sete mulheres, sete personas já seriam suficientes.
Das impactantes ficaram Iracema, do romance Iracema, de José de Alencar; Dona Plácida, do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; Aurélia, do romance Senhora, de José Alencar; Capitu, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis; Ismália, do poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraens; A cartomante, do conto A cartomante, de Machado de Assis; Macabéa, do romance A hora da estrela, de Clarice Lispector.
Impactante assume o sentido de algo vivido e vívido, algo experienciado, um mergulho de corpo e alma no texto lido. Assim, não vá esperar o leitor só impressões prazerosas do experimentado. Os relatos representam uma simbiose de prazer e dor, pois o vivido vai muito além do prazer e da dor.
Mas por que essas personagens foram tão impactantes?
Iracema – entre o mito e a realidade
O romance Iracema foi escolhido por representar um das mais importantes tentativas de explicitar a formação da nacionalidade brasileira. É um livro difícil de ler, por conter um extenso vocabulário indígena. E isto já é um problema de formação de nacionalidade, pois somos um país cuja matriz de idioma é o português, e o português é uma língua colonizadora; foi usada para oprimir e diminuir as manifestações culturais dos povos nativos e dos escravizados.
Outro ponto de Iracema é que, dentro do contexto histórico da época, fora escrito para um grupo reduzido de leitores, afinal de contas, passamos por todo o século XIX com mais de 90% da população em estado de analfabeta.
Nesta perspectiva Iracema precisa ser decifrado, discutido exaustivamente.
Iracema suscita em mim questões como: o que o romance trouxe de inovador? O que trouxe de conservador? Que ideologias estavam impregnados nos contextos da época?
A minha primeira leitura de Iracema foi muito “escolar”: identificação de época literária, análise de características do indianismo, o que me levou a uma análise parcial do romance.
Anos depois, precisei fazer um estudo mais apurado do livro e me deparei com questionamentos sobre a leitura anterior em relação a aspectos que foram sublimados por mim em relação ao real valor da peça literária.
Na segunda leitura, pude olhar para o mundo de hoje e ver índios sendo queimados em praça pública, terras indígenas igualmente queimadas. Ver também terras sendo invadidas 520 anos depois da chegada dos portugueses. E mais: riquezas sendo expropriadas cotidianamente.
São muitas questões em torno de nossa brasilidade que ainda precisam ser discutidas, questionadas ou ratificadas. E a gente pode começar tais discussões a partir das visões românticas de Iracema.
Dona Plácida – a mulher em uma encruzilhada
Dona Plácida provavelmente foi uma das primeiras personagens empregadas domésticas da nossa ficção. Ela traz, em um curto espaço de escrita, muito da formação do caráter nacional, das relações de forças que se construíam nos lares e se propagavam para a vida em sociedade.
Senhora – as relações de poder entre o masculino e o feminino
Senhora é um romance que trata do intricado espaço de disputas entre os homens e as mulheres. Fala também sobre a força hegemônica das dissimulações do amor romântico como instrumento de poder, de ascensão social, de relações políticas de dominação.
Capitu – as mil e uma faces de uma mulher
Capitu é a caixa de Pandora entre as personas femininas, onde o bem e o mal se confabulam em busca de decifrar os poderes ocultos de uma mulher.
Ismália – entre os extremos
Ismália entrou no grupo (não é de WhatsApp) por representar minha aproximação com a poesia de questionamento da existência. Mais bonito aprender sobre isto sob a perspectiva de uma mulher. Ismália deixa aflorar a ideia do ser de vida intensa em meio aos dualismos, mesmo que para isto tenha de morrer.
A cartomante – a quem pertence o futuro?
A cartomante representa toda pergunta que gostaríamos de fazer ao nosso destino. Ela é um mundo sem respostas e se converte nesta procura infinda de recursos sobre-humanos de decifrar o que ainda não foi vivido.
Macabéa – uma odisseia da mulher brasileira
E a gente termina com a mulher que não quer se ver no espelho: a mulher-sombra, a que não está visível, a que foge aos padrões, a mulher de todo dia, a mulher fria diante de um mundo patriarcal. Agora podemos ir para os cartões
Isto foi um pouco o que essas personagens me proporcionaram. E você, leitor? Houve mulheres da literatura que impactaram seu viver? Conte sua própria história.
Aproveite e reveja os cartões com as ideias que inspiraram o projeto.
Ou assista aos vídeos sobre As Sete mulheres nas mídias sociais:
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Veja+ sobre a questão indígena no blog Socialista Morena e boa jornada
Até a próxima
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