
Voltei a usar uma mídia social digital que estava desativada desde 2012. Naquela época estava envolvido em um projeto de pesquisa acadêmica e utilizava a mídia social como campo de trabalho, o que fazia com que eu não atuasse na plataforma como usuário comum. As atividades na plataforma eram somente para pesquisa, observação e levantamento de dados.
Para minha surpresa, nos primeiros dias da volta à mídia social, notei que recebia com frequência notícias e sugestões de vínculo a um determinado grupamento político-partidário brasileiro. Intrigado com a situação resolvi me vincular a perfis de políticos brasileiros ligados a outras opções partidárias diferentes das que eu recebia os convites e notei, uma semana depois, que não mais recebia contatos da referida facção partidária.
Gente, eu estava sendo monitorado pela própria plataforma digital para engajamento a um partido político por meio do serviço de negócios disponibilizado na mídia social. Os algoritmos agiam ali patrocinando ideias e tentando direcionar a minha vontade. É o novo estado de convivência digital.
Mas estas coisas não acontecem somente na política????
Utilizo também uma plataforma digital de comércio de livros analógicos e digitais. Quando acesso o aplicativo da empresa, noto que são direcionadas para mim várias ofertas de livros com base no meu itinerário pregresso e ainda me ofertam produtos novos relacionados aos temas que costumo pesquisar no acervo da empresa. Neste caso o negociante tenta prever meus gostos e interesses e assim vender mais produtos.
Quando uso o leitor de páginas WEB para buscar informações sobre determinado produto ou serviço, observo depois que, quando visito uma mídia social WEB, várias empresas aparecem no meu perfil de notícias com a etiqueta de “patrocinado”, ofertando produtos parecidos com o que eu estava procurando.
São os algoritmos gerenciadores de cookies no browser que registram tudo o que faço no ambiente WEB e tentam predizer o que devo comprar por meio de múltiplas ofertas dentro das mídias sociais.
O interessante dessas situações é que, em algum momento, eu cliquei em um termo de condições de usos e autorizei essas intermediadoras a agirem dessa forma intrusiva sobre a minha navegação.
Hoje estamos sob o domínio dos algoritmos que se juntam a tecnologias de big data e internet das coisas para a elaboração de complexos sistemas de inteligência artificial para espreitar tudo que estou fazendo e ainda sugestionar que ação devo ter durante a navegação na Rede.
Parece que estamos assistindo a um filme cujo título poderia ser Os algoritmos sabem o que fizemos no ano passado. Delegamos de tal maneira nossas ações aos artefatos lógico-computacionais que nem percebemos como os algoritmos invadiram a nossa vida cotidiana.
Na prática a gente virou criador de rastros. E tudo que fazemos pode ser transformado em motivo de comercialização.
Isto é sinal de que precisamos repensar sobre o estado de convivência que estabelecemos na Internet. Na grande rede o exercício de cidadania passa por interações com humanos e não humanos ou por humanos muito bem assessorados por artefatos técnicos: os novos ciborgues.
Precisamos nos preparar para o novo estado de convivência em que algoritmos estarão, em todo tempo e todo lugar, perscrutando a nossa vida.
E você? Como tem se comportado neste novo estado de convivência? Acha normal? Procura se informar mais?
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