Uma trilogia de Paulo Freire

Uma trilogia de Paulo Freire
Uma trilogia de Paulo Freire

Aproximações com Paulo Freire

Conheci Paulo Freire em 1982 quando trabalhava com contabilidade e nem pensava em ser educador. Naquele tempo a gente usava o horário de almoço para discutir questões da política brasileira. 

Foi quando um colega me apresentou o livro Educação como prática da liberdade. Ele explicou que as coisas que a gente discutia tinha tudo que ver com o pensamento filosófico de Paulo Freire e que aquela leitura era essencial. Confesso que não dei muita atenção para aquele aviso.

Somente me aproximei de Paulo Freire por volta de 1987 quando adquiri Educação como prática da liberdade, pois alguma coisa já me ligava à educação. Li algumas partes da obra, mas ainda não fiquei tocado pela abordagem filosófica do autor.

De 1989 a 1994 fiz o curso de Letras Vernáculas. Lá tive a disciplina de Didática. No semestre discutimos o livro Medo e ousadia, que trazia conversas entre Paulo Freire e Isa Shor. Caiu a ficha. Ali eu percebi o quanto era importante ler Paulo Freire não como uma obrigação acadêmica, mas como uma reflexão sobre a minha vida, como profissional e como cidadão.

De Medo e ousadia, naveguei em Educação e mudança, A importância do ato de ler, Paulo Freire ao vivo, Pedagogia do Oprimido e por aí foi sendo construído meu itinerário de educador.

Ao terminar a licenciatura, fui trabalhar com alfabetização de jovens e adultos, depois educação corporativa e educação em eventos preparatórios para o vestibular. Não parei mais.

Ser contra as ideias não é ser contra o homem

Mas houve uma coisa interessante no itinerário: parei de ler Paulo Freire, de teorizar sobre a obra do educador brasileiro. Eu queria somente experimentar a prática no cotidiano profissional. Olha, não é fácil trabalhar com Paulo Freire em educação corporativa, mas é possível. Também não é fácil alfabetizar, pois quando a gente se arvora a alfabetizar precisa aprender muita coisa. A gente precisa fazer leituras com olhares diversos, com base em educação, psicologia, antropologia, política, matemática, estatística, semiótica, se não a gente não consegue compreender como as pessoas aprendem, para a partir daí, fazer intervenções pedagógicas para desenvolvimento dos educandos.

No ano de 2015 começaram a aparecer de forma mais enfática mensagens na Internet contra a pessoa de Paulo Freire. Eram textos desqualificadores, que tentavam diminuir a importância deste pensador para a cultura brasileira. Fiquei perplexo com os insultos eram recorrentes. Não compartilho de todas as ideias de Paulo Freire, inclusive discutia nas salas de alfabetização os problemas do que era denominado Método Paulo Freire, mas as questões na abordagem do “Método” de Freire não se constituiriam motivo para desqualificações.

Precisamos criticar a obra de Paulo Freire. Fazer apreciações sobre os argumentos trazidos por ele e contribuir para a melhoria da educação de modo geral, mas o problema é quando há críticas contra a pessoa e não sobre a concepção metodológico-filosófica do autor.

Paulo Freire em três momentos

Foi dentro deste contexto que, a partir de 2018, voltei a pesquisar a concepção filosófica de Freire, o que resultou na formalização de três artigos interseccionados, que discutiam os meandros da Pedagogia da Autonomia e as mediações sociotécnicas do cotidiano do início do século XXI. 

Os três artigos foram Aplicabilidade do círculo de cultura em contextos de pós-verdade (2019), O diálogo de Paulo Freire em cenas de cinema (2020) e A Pedagogia da Autonomia na cultura do algoritmo (2020). Os artigos foram publicados pelo Instituto Paulo Freire e são frutos de discussões sobre educação ocorridas em cursos a respeito de Paulo Freire, organizados por aquela Instituição.


Abaixo o leitor vai encontrar resumos dos artigos, com os respectivos links de e-books.

Artigo: A Pedagogia da Autonomia na cultura do algoritmo (2020)
E-book:: Como alfabetizar com Paulo Freire
Resumo: A humanidade outorga cada vez mais a produção da cultura a aparatos tecnológicos, o que resulta em impactos significativos na vida cotidiana dos cidadãos. A partir desta questão, este artigo discute pressupostos da Pedagogia da Autonomia como proposta de intervenção educacional para o contexto da cultura dos algoritmos, levando em consideração as dimensões epistemológicas e ontológicas da práxis educacional freiriana.
Artigo: O diálogo em Paulo Freire nas cenas de cinema (2020)
E-book:: Aprenda a dizer a sua palavra
Resumo: Este artigo propõe analisar cenas do filme Escritores da liberdade a partir da concepção de educação dialógica defendida por Paulo Freire, na obra Pedagogia da autonomia, com base nas premissas: Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. Ensinar exige saber escutar e Ensinar exige disponibilidade para o diálogo.
Artigo: Aplicabilidade do círculo de cultura em contextos de pós-verdade (2019)
E-book:: Paulo Freire em tempos de fake news
Resumo: Este artigo analisa o nível de aplicabilidade do círculo de cultura em contextos de pós-verdade e produção de fake news, nas conformações socioculturais que dificultam o diálogo entre os homens nas mediações sociais na WEB. Para efetivação da análise, articula o pensamento de Paulo Freire sobre “círculos de segurança” com a ideia de “filtros de bolhas” dos estudos de Eli Pariser sobre sociabilidades na Internet.

A produção dos artigos serviu para uma volta às teorias sobre educação e renovar o trabalho cotidiano de interlocução entre a teoria e a prática.


Até a próxima!

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Publicado por Cleonilton Souza

Educador nas áreas de educação, tecnologias e linguagens.