
Na semana passada deixei a nostalgia me visitar com o filme O estranho no ninho. O estranho no ninho aborda uma situação bem peculiar. Mildred Ratched, uma das principais personagens do filme, exerce um papel preponderante na história. Ela é uma enfermeira que tudo vê e controla.
Mildred é a antagonista no filme e traça uma guerra por poder contra Randle Patrick McMurphy, o personagem principal, um paciente que a desafia ao ter um comportamento transgressor em relação às regras do sanatório.
Mas no filme o espectador não tem oportunidade de conhecer a intimidade de Ratched, tendo de se contentar somente com o que está aparente na narrativa.
Até o final do filme, Mildred Ratched é um mistério, uma caixa preta, uma pessoa inalcançável. É aqui que entra a série Ratched, que intenta desvendar os mistérios daquela mulher tão enigmática.
Em Ratched, Mildred vai trabalhar em um sanatório, pois tem um propósito a alcançar (que propósito é este, você só vai saber se assistir à série). Agora ela deixa o lugar de antagonista e protagoniza a si própria. Se prepare expectador, pois você penetrará nos mais sublimes segredos dessa enfermeira invulgar.
A narrativa da série vai construindo a personagem a cada capítulo. Parece a cena de uma mulher cheia de roupas, que vai se despindo a cada instante, provocando o espectador e fazendo nossa imaginação voar.
Observe, leitor, as perguntas que eu me fazia a cada momento: ela é fria assim mesmo? Ela é capaz de amar? Que pode essa mulher? Ela se emocionará agora?
Ah, foram muitas inquietações!
Algumas pessoas utilizam um dito popular com certa frequência: “Eu sou um livro aberto”, ao qual outras pessoas refutam: “Quando o livro está aberto, as pessoas deixam de ver a capa”. Em Ratched tive oportunidade de ver a capa e o interior do livro. A história me fez olhar a enfermeira em vários ângulos. Observar a personagem de perto, em alguns momentos, e espreitá-la de uma certa distância em outros instantes.
No fundo nosso íntimo tem muito disto: esta situação interna, que navega entre o racional e o emotivo, que faz com que, em determinadas circunstâncias, apareçamos para o outro e nos escondamos em nossas sombras em outras.
Ratched é um bom exercício de percepção das coisas que a gente vive cotidianamente. Um estranho no ninho e Ratched são um segundo e um terceiro olhar sobre a natureza humana, nos âmbitos do emotivo e do racional. E de quem foi o primeiro olhar? Ora, foi o do romance One Flew Over the Cuckoo’s Nest, de Ken Kesey (1962), que inspirou a série e o filme. Foi aquele olhar da imaginação-primeira da literatura que despertou em nós tanta reflexão.
Que possamos nos afetar mais e mais com as artes!
Até a próxima!
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