
Em 27 jan. 2021 participei de um bate-papo sobre tecnologias no canal YouTube Rodas de Conversa, organizado por Sara Sanches.
Repassamos para os leitores do EPraxe o material escrito que deu origem à fala no Evento. O tema que abordei foi Educação e Tecnologias no âmbito do trabalho. Espero que gostem.
Minuta do discurso escrito Educação no contexto das tecnologias
Abertura
Boa noite. Gostaria de agradecer à presença de vocês e espero compartilhar informações relevantes com todos. Um agradecimento especial a Sara pela organização deste tipo de evento tão necessário e aos parceiros deste encontro, Alison e Sephora.
Esta fala tem origem em uma pessoa cuja formação é de educador. Falaremos sobre educação no contexto das tecnologias focada no mundo do trabalho. Vamos lá?
Ligados no aqui e o agora
Em 2009 apresentei um trabalho de conclusão de curso na área de Segurança da Informação em Santa Catarina. Na época a apresentação foi feita por live, pois a banca examinadora estava em Florianópolis e o meu orientador estava em Salvador. Isto foi há 11 anos.
Argumento aqui que as tecnologias relevantes aparecem, e a gente só percebe quando situações inusitadas acontecem, como o que ocorreu com a pandemia em que muita gente teve de aprender a organizar lives e utilizarem tecnologias para condução de eventos on-line.
Na prática não houve aparecimento de grandes novidades tecnológicas neste período de pandemia. Trago aqui uma lista de serviços alicerçados por tecnologias, com as respectivas datas de lançamento para que tenhamos uma ideia da situação: Google Meet: 2017, Moodle: 2002, Skype: 2003, Google Classroom: 2014, Zoom: 2011, Google Buscador: 1998, Facebook: 2004, Twitter: 2006, WordPress: 2003.
A plataforma mais recente é o Google Meet que já vai completar quatro anos de lançada. Por isto é vital que nos perguntemos quanto à nossa educação: onde estamos em termos de tecnologias? O que sabemos sobre tecnologias é relevante?
Em 2001 o estudioso de informação Marc Prensky lançou um artigo que ficou bem conhecido no Brasil. Ele defendia a ideia a respeito de nativos versus imigrantes digitais. Para ele as pessoas que nasceram após o lançamento da Internet tinham mais capacidade de interagir na cultura digital. Em 2009, o mesmo Prensky lançou outro artigo ao qual ele revia as ideias contidas no artigo de 2001 e já defendia a concepção de Sabedoria Digital. Naquele momento Prensky já argumentava que não haveria mais sentido defender a dicotomia entre imigrantes e nativos digitais, pois as pessoas já estavam acostumadas a interagir na cultura digital havia quase duas décadas.
Só que no Brasil ainda há muitos influenciadores que utilizam esse feitiche para separar os que sabem dos que não sabem interagir na cultura digital, mesmo depois do reposicionamento de Marc Prensky a respeito da questão.
Precisamos pensar sobre essas coisas!
A necessidade da aprendizagem em grupo
Um fator preponderante na educação em tecnologias diz respeito à nossa jornada profissional dentro das empresas.
A gente precisa se aproximar de empresas que sejam educadoras, instituições que tenham práticas cotidianas voltadas para a educação dos funcionários. Empresas que tenham por objetivo desenvolver profissionais que não se eduquem por meio de aprendizagens mecânicas: essas aprendizagens para memorização, para passar em processos seletivos ou encher os currículos de cursos.
Empresas educadoras que se comprometam com aprendizagens significativas, dessas em que a gente consegue raciocinar e resolver problemas, dessas que estimulam a nossa criatividade, dessas aprendizagens que dão sentido ao mundo do trabalho e favorecem o nosso desenvolvimento como pessoa e como cidadão.
E para aprender significativamente é necessário a gente desenvolver o espírito crítico, no sentido de saber questionar o que precisa ser melhorado e apoiar o que está dando certo. É necessário também desenvolver a capacidade de acolher feedbacks quando estes são construtivos.
Desenvolver o espírito crítico é se educar para a emancipação e a autonomia. Autonomia com solidariedade, pois é necessário que uns ajudem os outros, para que haja crescimento de todos.
É preciso também que o ambiente educacional favoreça uma dinâmica dialético-dialógica. Quer dizer, as pessoas precisam pensar além dos limites da lógica formal para se aproximarem da realidade cotidiana, que é imprecisa, incerta e imponderável. Elas precisam pensar dialogicamente para que estabeleçam relações comunicativas propiciadoras de laços sociais em que o Eu e o Outro se manifestem de forma horizontal, onde os turnos dinâmicos de falas e escritas, de escutas e leituras sejam produzidos tanto pelo Eu quanto pelo Outro.
Tudo isto não ocorre se não levarmos em conta as relações de afetos. As pessoas têm emoções e elas precisam, dentro do possível, externar o que sentem. Elas precisam dizer como os afetos interferem na vida delas nas relações de trabalho.
Então, quando o assunto é educação empresarial, precisamos pensar em educação como processo cultural, como um processo de existência: uma educação não prescritiva. Disto resulta que o ato de educar nas empresas precisa ser trabalhado a partir de algum referencial filosófico: “Aonde queremos chegar?”, “Que tipo de ser humano almejamos desenvolver em nossa empresa?” Estas são perguntas fundamentais que todo gestor deveria fazer a si próprio. E quando a gente reflete sobre nossa existência, a gente está filosofando.
O mundo e as tecnologias
Quanto às tecnologias ligadas à educação, a gente precisa estar atento aos movimentos culturais do desenvolvimento da técnica pelos quais estamos passando. As dinâmicas culturais do século XXI estão calcadas em pilares como: códigos, dados, coisas e conexões. Vejam bem! Eu não disse pilares tecnológicos. Eu disse pilares culturais, pois hoje a humanidade usa cotidianamente os algoritmos, o big data e a internet das coisas como regentes da vida social, e precisamos aprender a lidar com tudo isto e utilizá-los da melhor maneira para o bem da humanidade.
É aqui que entram as empresas educadoras, que têm como propósito elevar o nível de formação dos trabalhadores. São empresas em que a cultura organizacional está embreada de educação, onde os espaços de trabalho são espontaneamente lugares de Aprendizagem Significativa.
O pilar que aqui denominamos coisas é a tomada de consciência de que o homem não é centro do mundo, ele não está só. Ele é um dos elementos do ecossistema no Universo. Os animais, os minerais e os vegetais agem sobre nós também. As coisas interagem entre si e sobre nós o tempo todo.
Há entre as coisas do ecossistema um elemento relevante na vida cotidiana que são os objetos técnicos que criamos para viver e sobreviver. Assim como agimos sobre eles, eles agem sobre nós. Por isto é possível falar em mundo das coisas, formado por esses diversos elementos que nos influenciam enquanto nós os influenciamos. Esta é a vida na terra. É uma vida de aprendizagem .
O que esperamos é lidar com empresas que não temem o espírito crítico dos trabalhadores, mas que se juntem aos trabalhadores sem medo de inovar e progredir. E melhor ainda: que essa coisa chamada empresa seja um elemento do ecossistema que favoreça a convivência entre a humanidade e as outras coisas.
Encerramento
Com estes argumentos espero que todos aqui possam pensar maneiras melhores de lidar com as dinâmicas culturais que envolvem educação e tecnologias.
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Como sempre, uma reflexão significativa
Enriquecedor ouvir vc
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Muito deste processo de escrita, deve-se ao trabalho que realizamos em educação dos trabalhadores. Abraços
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