Eu no divã e Clarice na cabeceira

Eu no divã - Clarice na cabeceira
Eu no divã – Clarice na cabeceira

Clarice na cabeceira – crônicas é uma coletânea de textos de Clarice Lispector, com textos que foram selecionados por um grupo de leitores da escritora. Na obra cada texto de Clarice é antecedido por comentários de um leitor a respeito da peça literária.

Os textos trazem temas do cotidiano com aquele jeito de Clarice de manifestar a existência a partir das coisas simples da vida.

Textos assim podem ser lidos de diversas formas: o leitor pode fazer o itinerário início-meio-fim, pode ler primeiro os comentários dos leitores e depois ler as crônicas. Pode mesmo fazer leitura aleatória, fazendo uma viagem não linear, navegando nas crônicas filosóficas da autora.

Ao ler as crônicas de Clarice parece que a vejo em um divã, de olhos bem-fechados, contando tudo que lhe vem à mente e lhe atravessou a alma.

É assim que em Banhos de mar, a cronista desperta as próprias reminiscências e faz uma viagem ao mundo da infância, com tudo de gostoso que ali viveu. 

Ou faz revelações primordiais a respeito Das vantagens de ser bobo e traça um panorama dos altos e baixos das relações entre as pessoas nesse mundo de espertalhões. 

Em Brasília: esplendor, a cronista recupera as impressões a respeito da capital do Brasil. Depois de ler a crônica, veio em mim saudades dos tempos em que vivi na capital federal. Clarice ali no divã, abre os olhos, e eu vendo o brilho no olhar quando ela se debruça sobre a cidade sem esquinas, fazendo com que eu revivesse as experiências que tive em Brasília. Cada palavra de Clarice se transforma em imagens para eu ver a cidade do planalto central.

Já em Persona, Clarice desloca o pensar existencial para o mundo psicanalítico-literário, navegando sobre os modos como nos vemos e nos representamos no mundo. Fez-me lembrar do conto machadiano O espelho, que possui abordagem diferente, mas se preocupa com as mesmas questões levantadas por Clarice.

Amor imorredouro é como se fosse um purgatório sobre a questão do ofício da escrita por dinheiro. Em poucas linhas, Clarice consegue expressar o quanto as vicissitudes da arte da escrita a devora. Mas ela não se deixa abater pelos nebulosos pensamentos que a perseguem em torno do ato de escrever e nos presenteia com uma crônica sabor ímpar. Às vezes parecia que era eu que estava no divã ouvindo Clarice e pondo para fora tudo que há em mim e que tenho medo de expressar. E nesse vai e vem a gente vai construindo a própria rota de leitura: uma viagem existencial.

E não para por aqui. O leitor precisa, ele mesmo, visitar o livro de crônicas de Clarice Lispector e vasculhar cada pensamento dessa esplêndida escritora.

Até a próxima leitura!


Dados da Obra
O que é? Livro Clarice na cabeceira – crônicas
Quem editou editora Rocco



Descubra mais sobre Canal EPraxe

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Publicado por Cleonilton Souza

Educador nas áreas de educação, tecnologias e linguagens.