
Aprendi a ouvir Bethânia com minha mãe. Durante as manhãs ela passava horas lavando roupas em frente a uma grande bacia. Para lidar com aqueles momentos de suplícios sob o sol, ela cantava bastante.
Anos mais tarde descobri que as canções que minha mãe tanto gostava eram interpretadas por Maria Bethânia. Foi lá nos tempos de criança que fui descobrindo todo o espectro daquela artista que cantava o amor de forma tão singular.
Na idade adulta me deparei com o disco Ciclo (1983) e descobri que Bethânia ia muito além das músicas românticas. Bethânia era artífice de muitas perspectivas. Bethânia era romance, era alegria, era cultura popular, era transcendência.
Continuei a jornada de aprendizagem e conhecimento sobre Maria Bethânia embalado pelos momentos de silêncio e sussurros daquela voz grave, cheia de energia e suavidade. Bethânia canta como se estivesse orando, em uma ladainha apaixonada pela vida.
De repente todas essas lembranças me invadem e me puxam para um redemoinho gostoso de cantorias e declamações, ao assistir a Maria Bethânia apresentar uma live em homenagem ao disco Rosas dos Ventos. O disco dos inícios dos tempos desse arauto da música popular brasileira, tempo em que eu mal tinha nascido, mas minha alma já clamava por esses cânticos em forma de oração. Parece que minhas músicas de ninar eram as músicas que Bethânia cantava.
O canto de Bethânia é como a voz encantadora das sereias nos chamando para a espiritualidade, deste meditar necessário que não é partidário de religiões, mas que é ligação com o transcendente.
O espetáculo foi atravessando meu ser, como cantiga que embala criança, que não se sabe triste; cantiga a navegar pelos ouvidos, pelo nariz, pelo corpo inteiro, chamando-nos a celebrar.
Quando a gente ouve Bethânia a vida é todo sentimento. Se for preciso chorar, a gente chora. Se preciso sorrir, a gente se entrega a uma imensa alegria, pois sentimento é sinal de bom viver.
Enquanto Bethânia canta, as memórias vão e vem o tempo todo, e a gente lembra que para viver é preciso existir-se em cada momento, pois a vida clama por poesia, por sentimentos e por paixão.
E foi nesse embalo que me vi na infância, na adolescência, na vida inteira me experimentando entre a música e a poesia sob as bênçãos de Maria Bethânia.
O que é? Live de Maria Bethânia
Para quê? Comemorar o lançamento do disco Rosa dos ventos
Quando foi? 13 fev. 2021
Quanto durou? 69 min
Quem estava na live? Nas cordas: João Cavalheiro, Paulinho Dáfilin e Jorge Helder (regente); na bateria, Marcelo Costa
Onde aconteceu? Globoplay
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Belíssimo texto, Souza – desses texto que diz o que gostaríamos de ter dito
Grata!!!
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Obrigado, Erê. Seu incentivo foi fundamental para o processo de escrita.
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