
No tempo de criança, havia um pé de jaca de pobre no terreno de minha avó, bem em frente da rua. A jaca de pobre era uma fruta desprezada, pois as crianças queriam mesmo era desfrutar de mangas, jacas e umbus. Ficávamos esperando chegar o tempo das frutas para se lambuzar.
A jaca de pobre? Quem queria jaca de pobre? Aquela fruta azeda, esverdeada, cheia de pontas que mais pareciam espinhos. Ora, se elas fossem como as pinhas, aí seria outra coisa!
O que a gente gostava mesmo era subir no pé de jaca de pobre para mexer nas pessoas que passavam na rua. A gente gritava lá de cima: – Psiu! – a pessoa olhava para trás e não via nada. Êta tempo bom!
Mas um dia a gente entrou em uma fria. Eu e os vizinhos decidimos perturbar as caretas e as mortalhas que passavam na rua para ir curtir o carnaval no centro da cidade. Caretas e mortalhas eram pessoas que se fantasiavam para ir brincar o carnaval. As caretas usavam roupas de pierrô, e as mortalhas eram aquelas pessoas fantasiadas com um roupão preto ou azul bem escuro e com uma máscara parecida com um cone.
Eu achava aquelas fantasias assustadoras. Morria de medo. Mas os meninos da rua combinaram que a gente iria gritar chamando as caretas e subiríamos correndo no pé de jaca de pobre.
Só que um mascarado descobriu onde a gente se escondia e fez gesto que iria subir a árvore para nos pegar. Foi um chororô. O medo se apossou de mim. Eu só gritava: – Me perdoa, seu careta, me perdoa, seu careta.
Depois de fazer alguns grunhidos, a careta foi embora. Descemos da árvore apavorados e não brincamos mais até o fim do carnaval.
E assim, o pé de jaca de pobre se tornou o lugar de nossas brincadeiras. Mas a gente nem queria saber de provar daquela fruta.
Anos mais tarde, passei a consumir polpas de frutas, e uma das minhas frutas preferidas era a graviola. Que fruta gostosa era aquela, gente. Aquele sabor azedinho. Às vezes eu consumia com leite. A polpa de graviola passou a ser um dos meus alimentos preferidos.
Certo dia vi um anúncio no alto falante do supermercado que havia graviola à venda. Fui à área de hortifrutigranjeiros para conhecer a tal da graviola em estado natural. Ao chegar no balcão de frutas, percebi que aquela fruta era conhecida: era a jaca de pobre. Ela mesma!
Fiquei pasmado com a situação. Mais pasmado ainda era saber que aquela fruta fora tão desprezada na infância. Hoje a graviola pertence ao grupo dos alimentos especiais. E o preço? Quase não dava para comprar.
Hoje sou apreciador de graviolas e não perco a oportunidade de tomar um suco in natura da fruta ou ir à Ribeira, na beira da praia, tomar um delicioso sorvete de graviola, ops, de jaca de pobre.
E quem quiser que conte outra…
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