
No dia 15 de julho de 2021 publiquei no espaço Lugar de Fala da revista Cult um artigo de opinião denominado Memórias de um estudante brasileiro de periferia. Trata-se de um texto que narra a trajetória individual de meninos e meninas de periferia que desejam estudar, mas se deparam com os obstáculos das desigualdades sociais, obstáculos esses que dificultam o acesso da população mais pobre do Brasil ao direito básico de educação.
Dias depois da criação do artigo de opinião me deparei com o ensaio A ideia de uma cultura comum, de Raymond Williams, do livro Recursos da esperança, p. 49-57. O ensaio é de 1968 e traz uma análise de Williams sobre as interseções entre as questões por que passam os indivíduos em relação às questões por que passam as coletividades.
Confesso que fiquei muito satisfeito ao ler o texto de Raymond Williams e perceber as proximidades com o artigo que foi publicado na revista Cult.
Para incentivar as leituras do artigo de opinião e do ensaio, trago abaixo dois fragmentos, um de cada texto, para o leitor construir as próprias reflexões.
Trecho do texto de Raymond Williams retirado do artigo A ideia de uma cultura comum:
Cultura foi a maneira pela qual se revelaram o processo da educação, a experiência da literatura e – para alguém que se transferiu de uma família de classe trabalhadora para o ensino superior – a desigualdade. Tudo o que outras pessoas, em situações diferentes, podem sentir mais objetivamente como desigualdade econômica ou política, em meu itinerário pessoal foi principalmente ressentido como uma desigualdade de cultura: uma desigualdade que também era, em sentido óbvio, uma não comunidade. A meu ver é o modo mais pertinente de continuar o debate sobre cultura, porque em toda parte, mas muito especificamente na Inglaterra, a cultura é a maneira pela qual se revela a classe, o fato de existir grandes divisões entre os homens.
Raymond Williams, em Recursos da esperança, p. 49.
Trecho do artigo de opinião Memórias de um estudante brasileiro de periferia
É necessário reconhecer essa imbricação entre o individual e o histórico para que a gente aprenda a perder a vergonha e passe a contar a própria história, uma vez que os problemas de vulnerabilidade social pelos quais os cidadãos vivenciam no intrapsíquico são fruto de processos sociais de pobreza criados em sociedades desiguais, como é o caso da sociedade brasileira.
Cleonilton Souza, Seção Lugar de Fala da revista Cult.
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- Mais artigos de Cleonilton na revista Cult.
- Williams, Raymond. Recursos da esperança. São Paulo, SP: editora Unesp, 2014.
Até a próxima…
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