Vilém Flusser e a questão da técnica

Vilém Flusser e a questão da técnica
Vilém Flusser e a questão da técnica

Estou realizando pesquisa em nível de doutorado na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia sobre mediações algorítmicas na internet no âmbito da educação e durante o primeiro semestre de 2021, realizei o trabalho teórico denominado Conceitos-chave em Vilém Flusser para entendimento dos algoritmos computacionais. No trabalho são discutidos os conceitos Prescrições, Imagem técnica, Aparelho, Decifrações, Códigos digitais e Transcodificação.

O trabalho foi apresentado no VII COMCULT, Congresso Internacional de Comunicação e Cultura, evento on-line, realizado de 13 a 17 de setembro de 2021, na mesa de discussão sobre Aspectos da Automação.

Para o leitor ter uma ideia do que foi apresentado no COMCULT, trago abaixo alguns argumentos da pesquisa, que foram defendidos durante o encontro.

No âmbito das ciências da computação, o algoritmo é concebido como conjunto sequencial de passos para atingir um objetivo ou resolver um problema, mas a realidade vem mostrando que esse conceito restrito à computação não dá conta da multiplicidade de significações que esse objeto técnico pode proporcionar. Diante desta questão, elaborei um mapeamento bibliográfico, com base em Vilém Flusser, para ajudar na compreensão dos algoritmos computacionais.

No mapeamento, verifiquei que, no início do século XXI, pesquisadores buscaram estudar os algoritmos em perspectivas que iam além da análise técnica desses objetos culturais. Entre os estudiosos Claire Wardle pesquisou os algoritmos no âmbito da desordem da informação; já Ted Striphas pesquisou os algoritmos a partir da ideia de cultura algorítmica, ou seja, o processo de cada vez mais os humanos delegarem a objetos técnicos as atividades antes realizadas pelos humanos, e Tarleton Gillespie estudou a relevância dos algoritmos, tendo em conta especificidades como construção lógico-discursiva desses objetos e o processo de outorga de decisões aos algoritmos quanto ao que seja relevante para o humano saber.

Se já existe um conjunto de reflexões a respeito dos algoritmos, haveria necessidade de se debruçar sobre os conceitos de Flusser para estudar esse objeto técnico? Esta foi uma questão desafiadora para a construção da pesquisa.

O primeiro conceito que analisei foi o de Imagem técnica. Flusser considera que as imagens técnicas são componentes culturais de uma fase pós-histórica da existência humana, posterior às imagens tradicionais e ao processo da escrita.

Elas são produzidas por aparelhos e “aparelhos são objetos do mundo pós-industrial, para o qual ainda não dispomos de categorias adequadas” (Flusser, em A escrita) para estudar.

Flusser denomina de Prescrições o gesto humano de se comunicar com os objetos técnicos: o ato de programar.

Flusser desenvolve também o conceito de Decifrações como o gesto de tentar decodificar os objetos técnicos. Nas decifrações, podemos agir comentando, o qual ele denominava de o Desdobrar Cauteloso, podemos agir de maneira alinhada à lógica do código, que ele denominava de o Sobrevoar Precipitado, ou podemos exercer uma atitude crítica diante da decifração do código, o qual ele denominava de o Farejar Desconfiado.

Os novos códigos eram denominados por Flusser de Códigos Digitais. Para ele, “Os códigos são considerados digitais por simularem a função de atribuir sentidos do que antes era realizado pelo cérebro humano”, (Flusser, em A escrita). 

Por fim, Flusser desenvolve o conceito de Transcodificação. Segundo ele, “Um método crítico completamente diferente é aqui imprescindível, a saber, aquele que é designado, de maneira aproximada, pelo conceito de “análise de sistemas”, (Flusser, em A escrita).  Flusser entende a transcodificação como uma nova experiência espaço-temporal, que exigirá de nós novas aprendizagens.

Com os conceitos de Flusser, é possível verificar aproximações entre o filósofo e os pesquisadores do início do século XXI que se debruçaram sobre o advento dos algoritmos. E mais: a contribuição filosófica de Vilém Flusser pode incentivar estudos futuros sobre a relação do humano com a técnica, em um mundo mediado por códigos digitais.

Os textos de Flusser que serviram de base para a pesquisa foram os livros O mundo codificado, Filosofia da caixa preta, A escrita, O universo da imagem técnicas e o artigo A sociedade alfanumérica.

Em linhas gerais estas foram as ideias discutidas no Congresso. Caso deseje ter acesso ao conteúdo integral da pesquisa teórica realizada sobre o pensamento de Vilém Flusser, visite o site do Congresso.

Até a próxima!




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Publicado por Cleonilton Souza

Educador nas áreas de educação, tecnologias e linguagens.