
Os textos que lemos, de uma maneira ou de outra, influenciam a nossa forma de olhar a vida, mas há textos que se tornam fundamentais para a nossa forma de perceber o mundo e as relações que travamos no cotidiano.
No meu processo de escrevivência e “leitura-vivência”, dialogar com os escritos de Sueli Carneiro se torna fundamental para a compreensão do mundo em que vivemos neste início de milênio.
Depois de ler Olhos D’água, de Conceição Evaristo, um texto literário de olhar contra-colonial, cai sobre meus olhos o livro Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil, de Sueli Carneiro. Um conjunto de textos escrito, na maioria, há cerca de quase vinte anos, sobre questões que se repetem e se complicam quanto ao estado de cidadania das pessoas afrodescendentes no Brasil do século XXI.
Quanto mais o tempo passa, mais se escreve sobre questões prementes em torno dos direitos dos descendentes de filhos da África, mais a luta se torna necessária.
Sueli Carneiro escreve com desenvoltura, leveza, acessibilidade e inclusão, fazendo do livro um convite ao pensar e ao agir junto contra todo tipo de discriminação.
Lendo Sueli Carneiro lembro do tempo em que atuava na formação de alfabetizadores, quando dizia aos professores: “precisamos de objetividade: dizer o máximo com o mínimo de palavras que for possível usar” . É justamente isto que faz a autora, ela conduz uma escrita em profundidade por meio da leveza, repito, e busca de proximidade com o leitor.
Escrever sobre racismo e sexismo no Brasil não é tarefa das mais fáceis, pois vivenciamos sob a construção de discursos de negação da existência de processos estruturais discriminatórios no país, fato este muito comum no uso corrente de jargões como “democracia racial”, “todos juntos e misturados” e outras pérolas que se repetem e se renovam no dia a dia.
Sueli subverte a ordem discursiva e traz dados histórico-econômicos nos argumentos, tecendo um novo foco de conversação sobre raça e gênero no Brasil.
Daí um desfile de questões sociais sendo discutidas em torno de problemas relacionados a direitos fundamentais, racismo, gênero, educação, história brasileira, religião, lugar de convivência, miséria, saúde, trabalho, violência…
A lista é longa!
Sueli também não deixa de fazer notação sobre questões prementes das desigualdades, do racismo e do sexismo em âmbito global, demonstrando como o local e o global se relacionam e se diferenciam nas dinâmicas das desigualdades de todo tipo.
Depois de ler Sueli fiquei aqui pensando sobre como será a sociedade brasileira no próximo milênio. Estaremos ainda no ciclo de Sísifo?
Meu desejo é que tenhamos nos civilizado mais e aprendido a dominar mais nossa barbárie.
Enquanto esse tempo não chega, precisamos ler e reler Conceição Evaristo e Sueli Carneiro: olhar a realidade pelo literário e pelo sociológico e agirmos para a melhoria da convivência cotidiana.
Até a próxima!
Sobre a obra
O que é? Racismo, sexismo e desigualdade no BrasilQuem escreveu? Sueli Carneiro
De que ano foi? 2011
Quem editou? Selo Negro Edições
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Orcid de Cleonilton Souza