O smartphone nosso de cada dia

O smartphone nosso de cada dia
O smartphone nosso de cada dia

Dias desses peguei o smartphone e comecei a admirá-lo, como a gente se admira diante de um espelho. Naquela admiração narcisista surgiu uma nuvem cheia de objetos que representavam toda minha vida dentro daquele objeto.

No aparelho estava armazenada todos os meus afazeres, todos meus pecados e conquistas. Daquela alucinação refletida, os primeiros objetos a sair foram os dados sobre quem eu devia, a quem eu paguei, onde eu comprei e quanto eu tinha de poupança.

Depois vieram os dados dos meus conhecidos, dos amigos e dos parceiros comerciais. Era muita coisa que saía daquele aparelhinho. Por uma brecha surgiram o título de eleitor, a carteira de motorista e o documento do carro.

Ah, eu  tenho umas mensagens secretas e pensava que ninguém poderia ver. Será verdade?

Vinham atrás os dados sobre onde eu almoçava, a que cinema eu ia, com que frequência eu ia ao shopping. Acha pouco? Também saíram de lá a quantidade de água que bebo, o nível de sedentarismo que tenho, os batimentos cardíacos, o tempo de sono e a quantidade de quilômetros que percorro com caminhadas ou corridas.

Não bastasse tudo isto, em uma cor ruborizada, escaparam de lá sentimentos do dia a dia como gostei, não gostei, me irritei e por aí vai…

Já perto do final apareceram os sites que visito e as mídias sociais que uso no cotidiano. Aquilo não iria parar?

Ah, eu me senti nu em ver tantas coisas íntimas saindo como fumaça para que todos pudessem ver. Meu smartphone é uma verdadeira caixa de pandora. E mais: a última coisa que sai de lá não é a esperança como narrado na mitologia, mas o que sai de lá mesmo é a desesperança de não ter mais estes dados como de acesso exclusivo meu, mas como herança da nova vida compartilhada.


Até a próxima!


Trabalho licenciado com Creative Commons

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Publicado por Cleonilton Souza

Educador nas áreas de educação, tecnologias e linguagens.