
Quando menos se espera, aparece um filme de Pedro Almodóvar nas plataformas de vídeo. E aí? Assisto de forma despretensiosa ao filme somente para me divertir? Ou me engajo em uma narrativa cujo histórico do diretor é subverter a ordem da contação de história e nos fazer viajar pelo mundo alternativo do cotidiano, dos fatos inusitados e das histórias que mexem em tudo dentro de nós?
Depois de produzir filmes como Carne Trêmula, Ata-me, Tudo sobre minha mãe, Má educação, Dor e glória, A pele que habito e Maus hábitos ainda há fôlego na veia criativa de Almodóvar?
Confesso que criei muitas expectativas para assistir a Mães paralelas, filme novo de Almodóvar, que revisita o feminino com o olhar sempre arguto de um diretor que consegue articular os limites entre o social e a vida privada cotidiana.
Mas Mães paralelas é esse caminho sem fim que Pedro Almodóvar cria no próprio itinerário profissional para traçar em alguns momentos um voo rasante, em outros, um mergulho em profundidade sobre a existência da mulher. No caso do filme, a narrativa envereda na mulher como mãe, mãe identidade e mãe não identidade, não importa, o que a história retrata são as mães em múltiplas faces: do amor à rejeição, do arrependimento à convicção. No filme o diretor consegue nos oferecer uma espécie de múltiplos pontos de observação sobre as dimensões da mãe e do feminino.
E Mães paralelas não fica somente na Base falando somente de aspectos íntimos e psíquicos do feminino, ele avança na Superestrutura e nos convida a refletir sobre a solidão profunda das mulheres quando o assunto é a maternidade. Na história os planos individuais e coletivos estão entrelaçados, mesmo quando é difícil enxergar tais entrelaçamentos. Os tempos passam, e as mulheres ainda continuam assumidas como mães sob diversas circunstâncias sociais, mesmo quando a maternidade é uma existência de negação.
Junto com toda a problemática das maternidades, Almodóvar dirige a narrativa para problemas históricos que ainda estão encravados em nós, como a luta para transformar nossa ancestralidade em parte da História, um resgate de vida pessoal dentro do contexto social das controversas vivências políticas pelas quais a humanidade passou no século XX e continua a passar no século XXI. É preciso assistir ao filme!
Penélope Cruz protagoniza a história e leva o espectador a uma vivência dramática do que é ser mulher. Ela e Almodóvar se combinam e se completam. O desempenho da atriz é como goles saborosos de um vinho que deixamos fermentar durante anos e agora faz-nos deleitar tanto pela via do pensamento e conhecimento histórico, quanto pelos sentimentos produzidos a cada sequência da narrativa.
É preciso parar por aqui e convidar o leitor a ir à fonte: saborear cada gole do vinho e dá-se o direito de se embriagar em momentos tão sublimes da arte cinematográfica por meio das múltiplas faces de Pedro Almodóvar.
***
Dados da obra:
O que é? Mães paralelas {filme}
Quem dirigiu? Pedro Almodóvar
Quem produziu o roteiro? Pedro Almodóvar
Quem protagonizou? Penélope Cruz, Milena Smit e Israel Elejalde
De quando é? 2021
Qual o tempo de exibição? 2 h 2 min
Qual a origem? Espanhola
Onde assisto? Plataforma Netflix
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Até a próxima!
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