
Quando fui ver Medida Provisória, assisti a um vídeo, antes do filme, com pequenas entrevistas de pessoas relatando quais filmes impactaram a vida delas.
Em um dos vídeos, Lázaro Ramos dizia que o filme que o impactou foi Corra (2017), que trata das relações raciais a partir da perspectiva do terror. Não por acaso, Medida provisória se insere em uma linha parecida com a do filme estadunidense e discute as questões raciais brasileiras com uma pitada de terror também.
Medida provisória conta a história dos brasileiros que, em um contexto fictício, são obrigados a deixar o Brasil, para voltar para o continente africano, como uma forma de reparação, isto na perspectiva de quem planejou a emigração obrigatória. A partir de tal celeuma, as pessoas entram em conflitos diversos quanto ao direito de ficar no Brasil ou deixar o país.
Mas Medida provisória não se utiliza do terror ou do suspense ou mesmo do drama para contar a referida história. No caso, os organizadores do filme optaram pela tragicomédia, um gênero cinematográfico misto, fazendo o enredo ser conduzido ora por momentos de humor ora por momentos de terror. Alguns poderão até classificar o filme como uma ficção científica distópica, mas Medida provisória está posto para provocar terror mesmo, para desestabilizar as opiniões e rediscutir as assimetrias das relações raciais no Brasil, inserindo na trama momentos de ironia.
Durante o filme fiquei observando as reações das pessoas. Algumas delas riam das cenas trágicas, como se estivessem naqueles filmes estadunidenses de comédia que fazem paródia de filmes de terror. Fiquei pensando se a proposta de Medida provisória era de proporcionar reflexões sobre um tema tão complexo de nossa sociedade ou fazer as pessoas simplesmente se divertirem. Mas eu precisaria assistir ao filme mais vezes e observar as reações de mais pessoas quanto aos momentos trágicos para verificar que tipo de reações ocorreriam, o que não vem ao caso.
Quanto a mim, fiquei impactado com o filme, mesmo já tendo experienciado situações ali contidas ou ter sido testemunha de muitos momentos em que as relações raciais no Brasil não eram tão amistosas Fiquei a pensar o quanto ainda será preciso caminhar para que a sociedade brasileira diminua as assimetrias e as desigualdades nas relações raciais.
O que sei é que Medida provisória é como se fosse um verbo conjugado no futuro do presente. As questões estão lá em ficção, em um futuro distópico, mas elas estão acontecendo no dia a dia das pessoas nas terras brasileiras. A distopia é aqui e agora.
Mas cada um tem a própria sensibilidade quanto a assistir ao filme e reagir aos momentos de terror e de humor propostos na obra cinematográfica.
O filme é inspirado na peça Namíbia, não!, do ator e escritor baiano Aldri Anunciação, que também participou do filme como ator e contribuiu na construção do roteiro.
Um ponto positivo na distribuição do filme foi que os organizadores conseguiram lançar Medida provisória simultaneamente em dez municípios baianos (Feira de Santana, Ibicaraí, Ilhéus, Itabuna, Juazeiro, Jequié, Salvador, Santo Antônio de Jesus, Serrinha e Vitória da Conquista). Para um filme brasileiro, dirigido por um baiano, isso é um motivo para comemorar.
Até a próxima!
Sobre a obra
O que é? Medida provisória {filme} De onde é? Brasil Quanto tempo/ 1: 34 min Quem dirigiu? Lázaro Ramos Quem foram os atores? Taís Araújo, Alfred Enoch, Seu Jorge Quem mais participou do filme? Aldri Anunciação, Renata Sorrah, Adriana Esteves, Emicida e Jéssica Ellen
Descubra mais sobre Canal EPraxe
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Orcid de Cleonilton Souza