
Inacreditável imaginar um mundo sem GPS (Global Position System [Sistema de Posicionamento Global]), uma invenção tão útil para a vida cotidiana. Mas houve um tempo, não muito distante, em que as pessoas se moviam mundo afora sem precisar desse sistema.
Ainda no segundo ano do ensino médio, vivi a experiência de usar mapas sob diversas formas nas aulas de Geografia. A professora era uma entusiasta das ciências e mobilizou a turma para aprender a disciplina na prática. Durante aquele ano tive oportunidade de estudar teorias sobre o espaço e ao mesmo tempo praticar movimentos e localizações por meio de análise de mapas para identificar limites entre regiões, distâncias entre cidades, questões climáticas de países, tipos de culturas de estados brasileiros: a Geografia passou a ter novos significados na minha vida.
Foi a partir daquelas abordagens que fui aprendendo a como me localizar nos mapas e simular movimentos de uma localidade a outra. Naquelas práticas os estudantes conheciam o mundo e percebiam o que havia além do horizonte.
Ali estávamos aprendendo a lógica que hoje é outorgada aos sistemas GPS, pois os cálculos e as medições eram feitos pelos próprios aprendizes com a orientação e acompanhamento da educadora.
Na idade adulta, quando eu queria viajar, comprava mapas e guias de viagens e, com base naquelas fontes, conhecia muitas regiões brasileiras, mesmo sem a existência do GPS. Hoje deixei o hábito de consultar mapas e guias de viagem e me oriento por meio de códigos digitais, esquecendo de toda aquela aprendizagem que algum dia desenvolvi na vida.
Os sistemas GPS são tão sofisticados que me informam onde estou, a distância que falta para o destino a que me dirijo e até os pontos em que haverá dispositivos de multa. Acha pouco, há informações sobre as condições da estrada e a situação do fluxo de veículos que transitam nos próximos caminhos que iremos percorrer. O sistema ainda avisa se a pessoa está ultrapassando a velocidade permitida na via de transporte.
Notem como nossa forma de pensar fica cada vez mais dependente de objetos técnicos, pois quanto menos acionamos nosso raciocínio e memória mais dependentes tendemos a ficar de objetos técnicos. Todavia os leitores poderão argumentar que a humanidade poderia desenvolver outras formas cognitivas para interagir com o mundo já que não precisa mais se preocupar com essas questões de movimento e localização. Mas é preciso lembrar, que daqui em diante, algumas formas de raciocínio em nós humanos tenderão a diminuir e ainda não sabemos quais consequências essas situações sociotécnicas trarão para o dia a dia.
Como ficará nossa memória de agora em diante? Abandonaremos o cálculo mental? Deixaremos de usar os gestos precisos de manipular objetos como caneta e pincel para ressignificar o mundo?
Sempre que tenho oportunidade, volto a fazer os velhos cálculos mentais, mesmo sabendo que uma máquina de calcular faz melhor do que eu. Em viagens, na medida do possível, desligo o GPS e vou organizando a viagem utilizando meus olhos, meus ouvidos e meu pensamento. Afinal de contas ainda gosto de viver e existir com ou sem tecnologia.
Até a próxima!
Aviso aos leitores
A partir desta semana só teremos publicação no EPraxe nas segundas-feiras. Por enquanto, deixaremos de postar nas sextas-feiras. Quando houver necessidade, faremos postagens extraordinárias sobre algum assunto que se torne urgente compartilhar.
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