
O mês de novembro vem se tornando um período do ano de intensas discussões sobre o legado das culturas de origem africana no Brasil. Passamos muitos anos com uma sobrevalorização do dia 13 de maio como o dia de libertação da população afrobrasileira por parte do colonizador português, quando a narrativa histórica deveria ter a responsabilidade de tratar do longo processo de luta do povo negro contra a escravização imposta pelo colonizador. Foi para combater essa abordagem do 13 de maio que a população afrodescendente reivindicou o mês de novembro como significativo para discutir as questões do negro na cultura brasileira.
As abordagens históricas conciliadoras criaram uma imagem benevolente da nação portuguesa e ainda consolidaram visões estereotipadas dos afrodescendentes dentro da cultura brasileira. Mas esse estado de representatividade tem sido revisto, e o povo afrodescendente tem aberto caminhos para contar a própria história e contribuir para alterações na forma como os negros são vistos e representados dentro da sociedade brasileira. Neste mês de novembro, por exemplo, aconteceu o Potências pretas da Bahia, um programa de TV aberta que buscou ressignificar a cultura afro e dar visibilidade à produção de origem africana no contexto da Bahia.
O programa foi uma homenagem ao mês da consciência negra (novembro) e teve na apresentação a cantora Márcia Short, que é um dos ícones da música de origem afro da Bahia. Potências pretas da Bahia aconteceu no período de 14 a 18 de novembro de 2022. O evento foi realizado pela TV Bahia, afiliada da Rede Globo, e teve direção e produção de Ricardo Ishmael, repórter da emissora e escritor.
As palavras-chave do Potências foram ancestralidade, por resgatar o legado que os cidadãos afrodescendentes vão construindo entre si ao longo dos tempos; afetos, por expressar o quanto é possível uma comunidade estabelecer trocas significativas, de geração em geração, criando laços duradouros; cultura, por discutir as formas culturais construídas pelo afrodescendente brasileiro ao longo da história.
O programa foi estruturado em cinco capítulos e teve temas ligados à criação artística produzida na Bahia nos últimos tempos. O primeiro programa foi o Potências pretas: a força da mulher preta no canto lírico (14 min.) realizado no dia 14 de novembro de 2022 e tratou de música lírica, um tesouro da potencialidade de matriz africana que ainda não é de conhecimento de boa parte da sociedade brasileira. O programa contou com a participação das cantoras líricas Inaicyra Falcão e Irma Ferreira.
O programa do dia 15 foi Potências pretas: Marcia Short entrevista as atrizes Edvana Carvalho e Shirlei Silva (13 min.) e tratou da produção cênica baiana.
No dia 16 foi a vez do Potências pretas: Negra Jhô destaca a importância da coroa na estética (14 min.). Pois é, o negro é estética e beleza. As convidadas foram Negra Jhô e Marília Aragão, cabeleireiras de primeira linha no circuito soteropolitano.
No dia 17 o assunto foi culinária, com a participação da cozinheira Dadá e da cozinheira e nutricionista Elba Boa Morte e teve o título sugestivo de Potências pretas: cozinheiras mostram a ancestralidade nos pratos (13 min.).
No dia 18 foi a vez de Potências pretas: artistas expressam a cultura negra através da dança (14 min), com a participação de Negrizu Santos, o negro lindo do Baudauê, segundo Caetano Veloso, e Wagner Santana, um representante da nova geração da dança afro na Bahia.
A iniciativa Potências pretas da Bahia é muito bem-vinda por mostrar as contribuições da cultura afro-brasileira para a formação da sociedade brasileira. E que mais espaços como esse possam ser conquistados pelo povo de origem africana que vive no Brasil.
Até a próxima!
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Leia+
Programação do Potências pretas
- A força da mulher preta no canto lírico
- Marcia Short entrevista as atrizes Edvana Carvalho e Shirlei Silva
- Negra Jhô destaca a importância da coroa na estética
- Cozinheiras mostram a ancestralidade nos pratos
- Artistas expressam a cultura negra através da dança
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