
As escolas de samba têm muito a nos ensinar sobre História, Política e Artes, ao trazer para a sociedade representações sociais do que é ser brasileiro, ora se alinhando ao poder, ora se rebelando contra o estabelecido.
Na contraposição ao estabelecido, essas agremiações revisitam a História, trazendo a público personalidades e acontecimentos sociais que ficaram sublimados nas narrativas oficiais da historiografia global e nacional.
No carnaval de 2023, a Beija-flor resgatou o Dois de Julho de 1823, na Bahia, como marco da independência do Brasil, ao ressaltar o papel de mulheres, negros, pobres e indígenas na luta em defesa da autonomia política do país.
A Imperatriz Leopoldinense, inspirada na literatura de cordel, reverenciou a história de Lampião, um usurpador para uns, um revolucionário para outros dentro da cultura brasileira.
A Unidos do Viradouro apostou na história de vida de Rosa Maria Egipcíaca, uma personalidade múltipla da história brasileira: mulher negra escravizada, pensadora, meretriz, feiticeira e beata; enfim uma revolucionária para a época em que viveu.
A Unidos da Tijuca trouxe o tema Dança das águas regida por Iemanjá, mergulhando na história da Baía de Todos os Santos, com tudo o que a localização geopolítica tem a nos contar sobre a nação brasileira. Destaque para a presença de Iemanjá, que sempre fora apresentada como entidade de pele branca, na ideologia do sincretismo brasileiro, e agora é ressignificada como mulher negra, de origem afro-brasileira.
A Mangueira trouxe o enredo As Áfricas que a Bahia canta, demonstrando a riqueza da cultura afro advinda da Bahia; já a Acadêmicos do Grande Rio e a Império Serrano fizeram homenagens a grandes artistas do cancioneiro popular, como Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, respectivamente.
A Mocidade Independente dedicou o desfile ao Mestre Vitalino (1909-1963), artesão, ceramista popular e músico, um dos maiores artistas da história da arte do barro no Brasil.
A Salgueiro, com o tema Delírios de um Paraíso Vermelho, discutiu os limites entre o real e o imaginário nos convidando a outros modos de perceber o mundo. Que limites há entre nossa ignorância e nossa sabedoria?
A Mocidade Alegre atravessou o globo para exaltar Yasuke, o primeiro samurai negro da história do Japão, uma história pouco conhecida entre nós brasileiros, mas de relevância para a construção de identidade dos povos de origem africana na contemporaneidade.
Esses discursos de caráter pedagógico precisam ser compartilhados nos ambientes formais de educação, pois nos desafiam à prática da pesquisa como busca constante do saber e nos convidam para o exercício cotidiano da criatividade e da inovação.
Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde [impresso], seção Tempo Presente, Salvador, Bahia, 14 de março de 2023.
Até a próxima!
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