
O estudioso de discurso Teun van Dijk alerta sobre uma certa tendência de o discurso jornalístico do ocidente retratar de maneira estereotipada os países mais pobres, ao explorarem com mais vigor temas como golpes de Estado, terremotos, pobreza, ditadura, ausência de democracia, violência, guerra civil e atraso econômico.
Já a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie fez um relato contundente sobre a forma como os discursos são criados sobre a África, o que ocasiona, segundo a escritora, O perigo de uma história única, ao qual ela traça uma crítica pertinente sobre as visões estereotipadas sobre os modos de vida no continente africano e as formas como as narrativas são construídas a respeito das nações daquele continente.
Ainda sobre a questão dos estereótipos, vale a pena fazer leitura do texto Pode um subordinado falar?, de Gayatri Chakravorty Spivak, que discute relações de poder no âmbito do discurso, em que o controle da comunicação se centra naqueles que detêm poder na sociedade.
Foi preciso fazer todo este preâmbulo para comentar sobre a sexta temporada da série Expresso Futuro, no canal Futura, que busca resgatar valores considerados positivos sobre as formas culturais no continente africando, não enfatizando tanto as mazelas sociais que tanto assolam aquele continente.
A temporada é apresentada pelo advogado e especialista em tecnologias digitais Ronaldo Lemos, que visitou alguns países africanos e nos trouxe uma visão no âmbito das tecnologias e das inovações sobre o que se está em produção na África.
A temporada é dividida em oito capítulos, em que são esmiuçados assuntos contemporâneos como: plataformas digitais, animação, energia renovável, produção de ilustração, cerveja de mandioca, celulares com especificidades técnicas favoráveis à produção de fotos de pessoas de pele negra, vacina contra a malária, serviços de geolocalização e confecção de absorventes reutilizáveis. Todas estas pesquisas e invenções são para dar conta de atender às características socioculturais da sociedade continental africana.
Alguns dos países visitados foram Gana, Moçambique, Angola e Quênia. Em cada visita ficava visível o quanto os brasileiros poderiam aprender com o estabelecimento de relações mais estreitas com aqueles países.
O leitor poderá achar em alguns momentos que a visão trazida pela série é um tanto utópica, ao enfatizar mais o processo criativo e inovador dos países da sociedade africana, mas, a cada capítulo, perceberá que muito do que ali é discutido poderá servir de aprendizagem para a sociedade brasileira. Principalmente porque as discussões sobre inovação e formações tecnológicas são tratadas sob a ótica do social, do bem comum, em benefício de todos. Está curioso, leitor? Então vai lá, ao Canal Futura, e descubra por você próprio.
Até a próxima!
Dados da obra
O que foi? Expresso Futuro {sexta temporada}
Quando foi? 2022
Onde foi? Canal Futura {ou no canal YouTube}
Quem apresentou? Ronaldo Lemos
Como foi a narrativa? (capítulos):
. Afropresentismo: mudando a narrativa sobre a África - 27:05 min
. Moçambique: Maratonando para inovar - 27:23 min
. Moçambique: natureza e tecnologia - 26:07
. A Savana do Silício - 26:11 min
. Afrofuturismo - 27:31 min
. Inovação tecnológica e social - 26:19 min
. Fintechs e inovação financeira - 26:52 min
. Wakanda existe? - 26:46 min
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Programa Expresso Futuro – Sexta Temporada
Livro de Teun van Dijk: Discurso e Poder, editora Contexto
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