
O grito no Monte Ipiranga, em São Paulo, de independência ou morte, feito pelo príncipe regente Dom Pedro I, em 7 de setembro de 1822, não foi um manifesto de libertação política do Brasil em relação a Portugal, mas foi, antes de tudo, um grito de acomodação, como um freio para que o processo de independência do país se arrastasse ainda por algum tempo sob a forma de lutas, revoltas e levantes em prol da autonomia política brasileira. E dessa luta o príncipe regente não participou.
Na verdade, as lutas dos brasileiros contra a opressão portuguesa continuaram por quase um ano. A sociedade baiana, formada pelos povos originários, negros e negras libertos, religiosos e toda gente que amava a terra brasileira, incluse alguns dos cidadãos nascidos em Portugal, não se intimidou e levou à frente todo um ideário de libertação. Toda essa gente é simbolizada na Bahia com a figura do Caboclo, um personagem que integra toda diversidade de cidadãos que lutaram pela pátria.
As lutas armadas aconteceram em Salvador e redondezas, alcançando os municípios de Mata de São João, Dias D’Ávila, Camaçari, Cachoeira, São Félix, Vera Cruz, Itaparica, Pedrão e outros. Dentro de Salvador a situação não foi fácil; bairros como Pirajá, Campinas de Pirajá, Alto do Cabrito, Nazaré, em especial a Avenida Joana Angélica, Itapuã, Pituba, Estrada da Liberdade, Barra têm muito a nos contar sobre aquele momento histórico.
Na infância quando estudei História da Bahia, minha admiração era pelas mulheres daquele período, como Maria Quitéria e Joana Angélica, que foram à luta em defesa de uma civilização brasileira livre e independente. Maria Felipa? Maria Felipa, mulher negra, outro símbolo da luta contra a opressão portuguesa, só foi reconhecida como heroína da independência do Brasil em 2018, 195 anos após o acontecido.
O desfecho da luta pela libertação foi a Batalha de Pirajá, momento muito conhecido pela controversa narrativa de que o corneteiro Lopes, ao receber a ordem de dar o sinal à tropa brasileira para recuar, tocou a corneta para que os guerreiros brasileiros avançassem contra os portugueses, sinal este que confundiu os inimigos e os fez partir em recuada, cedendo ao ataque em massa realizado pelos brasileiros. Era o dia 2 de julho de 1823.
Ontem completou 200 anos daquele dois de julho de 1823, e cabe a nós brasileiros reivindicar a data como símbolo maior de nossa independência, em vez do 7 de setembro, pois a independência do Brasil é comemorada na Bahia no 2 de julho e precisamos politizar este assunto.
E enquanto uma discussão politizada do assunto não toma conta do país, compartilho com o leitor alguns versos do Hino ao Dois de Julho:
"Nunca mais, nunca mais o despotismo Regerá, regerá nossas ações Com tiranos não combinam Brasileiros, brasileiros corações" Entre príncipes e caboclos, quem são os verdadeiros heróis brasileiros?
Leia também: Qual independência? postado aqui no sítio no ano passado.
Conheça o Hino ao Dois de Julho na íntegra.
Até a próxima!
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