
Hoje faremos uma breve leitura de Vidas secas, romance de Graciliano Ramos, escritor brasileiro, que viveu no século XX. O livro que tenho em mãos foi lançado pela editora Principis (São Paulo) em 2024.
Vidas secas trata da vida de uma família de camponeses, sem terra, que migra pelas regiões secas nordestinas atrás de comida, moradia, trabalho, dinheiro, lazer, espiritualidade; enfim, todas essas coisas que um grupo familiar deseja.
A história se desenrola por meio da jornada feita pela família de camponeses na tentativa de sobreviver frente às adversidades climáticas e sociais próprias das comunidades nordestinas brasileiras que vivem no campo.
Os capítulos que narram a referida jornada da família de camponeses são intercalados por lapidares momentos que tratam de descrever os personagens que compõem a história, uma feliz opção de organização narrativa feita pelo autor. Não vamos aqui detalhar cada modo de ser dos personagens, para que o leitor não perca o prazer de ler a obra, mas é possível trazer alguns trechos do livro, como estímulo ao acesso direto ao texto original. Vamos aos trechos?
Personagens de Vidas secas por Graciliano Ramos
Fabiano
Estava escondido no mato como tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca, andaria com a cabeça levantada, seria homem.
– Um homem, Fabiano
Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro. Não, provavelmente, não seria homem: seria aquilo mesmo a vida inteira, cabra governado pelos brancos, quase uma rês na fazenda alheia.
Vidas secas secas, p. 18-19
Sinha Vitória
Sentou-se na janela baixa da cozinha, desgostosa. Venderia as galinhas e a marrã, deixaria de comprar querosene. Inútil consultar Fabiano, que sempre se entusiasmava, arrumava projetos. Esfriava logo – e ela franzia a testa, espantada; certa de que o marido se satisfazia com a ideia de possuir uma cama. Sinha Vitória desejava uma cama real, de couro e sucupira, igual à de seu Tomás Bolandeira.
Vidas Secas, p. 35
O menino mais novo
Retirou-se. A humilhação atenuou-se pouco a pouco e morreu. Precisava entrar em casa, jantar, dormir. E precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar cabras a mão de pilão, trazer uma faca de ponta à cintura. Ia crescer, espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru.
Vidas Secas, p. 40-41
O menino mais velho
Ele, o menino mais velho, caíra no chão que lhe torrava os pés. Escurecera de repente, os xiquexiques e os mandacarus haviam desaparecido. Mal sentia as pancadas que Fabiano lhe dava com a bainha da faca de ponta.
Vidas Secas, p. 40-41
Baleia
Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se esponjariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás gordos, enormes.
Vidas Secas, p. 69
O soldado amarelo
De repente notou que aquilo era um homem e, coisa mais grave, uma autoridade.
(…)
O soldado, magrinho, enfezadinho, tremia.
(…)
O soldado encolhia-se, escondia-se por trás da árvore.
(…)
Por que motivo o governo aproveita gente assim? Só se ele tinha receio de empregar tipos direitos. Aquela cambada só servia para morder as pessoas inofensivas. Ele, Fabiano , seria tão ruim se andasse fardado? Iria pisar os pés dos trabalhadores e dá pancada neles?
Vidas Secas, entre as p. 77 e 79.
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