
O largo do Campo Grande (também conhecido como praça Dois de Julho), em Salvador, estava lotado de gente esperando para ver os desfiles do Afro Fashion Day Estilistas e Modelos!. O evento completou dez anos de existência e, a cada ano, a audiência só aumenta. Só de ver aquela multidão desejosa de assistir ao Evento já me senti feliz.
Mas eu estava muito dividido porque naquela mesma noite de primeiro de novembro de 2024, a Concha Acústica, espaço de entretenimento em Salvador, também estava lotada de gente para celebrar os 50 anos de existência do Ilê Aiyê, uma instituição multicultural, que trabalha cotidianamente para a inserção dos afrodescendentes na economia, educação, lazer, artes e tudo que possa aproximar os descendentes de africanos da cidadania brasileira.
Ao me dirigir do Campo Grande para a Concha Acústica, vi passar um jovem negro, cabelos encaracolados, de óculos, com uma camisa multicolorida. Alguém tocou no braço do rapaz e disse que o pessoal da filmagem já havia chegado, pensando que ele estava ali para trabalhar.
O rapaz é jornalista e trabalha em uma emissora de televisão local. No meio da escadaria que leva à Concha, notei que o jornalista se encontrou com umas cinco pessoas e ao olhar com mais cuidado para o grupo, percebi que eram todos jornalistas da emissora. Eles estavam muito radiantes em ir ao show de 50 anos do Ilê e mais radiante estava eu por ver a juventude negra ocupando espaços no jornalismo baiano.
O motivo da felicidade não foi à toa, pois há 50 anos quando o Ilê se organizou e foi para as ruas do carnaval da Bahia, a recepção dos meios de comunicação não foi tão afetuosa, pois a instituição recém-criada inaugurava uma forma diferenciada de fazer política no carnaval da Bahia, chamando a atenção para os processos de racismo e discriminação existentes em relação aos negros ou como diriam Caetano Veloso e Gilberto Gil, os quase brancos e os quase pretos.
Pois é, só em ver aqueles jovens no momento de folga irem assistir ao show do Ilê demonstra uma significativa mudança nas relações sociais dentro da Bahia, como a de termos afrodescendentes trabalhando na imprensa local e ainda valorizando as produções culturais afrocentradas.
O show de 50 anos fez uma retrospectiva musical da história da Instituição e contou com a participação especial de Daniela Mercury, BaianaSystem, Carlinhos Brown, Beto Jamaica, Aloísio Menezes, Orquestra Afrosinfônica, Amanda Maria e Matilde Charles: como é diversa a produção artística deste povo?
Cantei, dancei e refleti sobre os últimos 50 anos de minha vida, atravessados pela existência de entidades como o Ilê Aiyê, que por meio da arte, da educação e do trabalho estimulam o desenvolvimento da estima coletiva dos descendentes dos povos africanos. Durante a festa meu corpo virou linguagem e minha alma resplandeceu. “Valeu, Zumbi!” - “Ah, se não fosse o Ilê Aiyê”.
Até a próxima!
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