Flusser em uma autobiografia filosófica

Flusser em uma autobiografia filosófica
Flusser em uma autobiografia filosófica

Terminei em 31 de dezembro passado a leitura de Bodenlos – uma autobiografia filosófica, de Vilém Flusser.

Em Bodenlos, Flusser escreve sobre si de olho na questão do “sem fundamento”, não ter chão e mover-se pelas entranhas das incertezas frente à construção de uma base filosófica.

A obra começa com Monólogo, onde Flusser vagueia por assuntos díspares, versando pela ideia da falta de fundamento, ou seja, a consciência de que somos seres de conhecimento e de desconhecimento, partindo para discutir as formas como a realidade brasileira se constrói, indo parar na controversa discussão sobre o nazismo. Haja fôlego para tanta diversidade temática.

Em um segundo momento, Flusser escreve sobre Diálogo, em que trata das conversações que estabeleceu durante a vida com gente como Alex Bloch, Guimarães Rosa, Dora Ferreira da Silva e Miguel Reale, por exemplo, e outros artistas e pensadores. As discussões são atravessadas por literatura, estética, educação, filosofia e ciências. São conversações radiantes, em que o filósofo ensina e aprende com as pelejas do bom debate.

Na terceira parte, Discurso, Flusser faz um depoimento do próprio processo de atuação como educador, abordando a construção de duas experiências pedagógicas: as aulas sobre Teoria da comunicação e sobre Filosofia da ciência.

Na última parte, chamada de Reflexões, Flusser trata da questão da pátria, tema caro à existência do autor, e dos relacionamentos com a juventude nos diversos encontros que estabeleceu na vivência acadêmica; por último, o autor trata do relacionamento que teve com a cidade de Praga, refletindo sobre a própria existência como um humano navegante, adotante de muitas pátrias e línguas. 

Bodenlos é o testamento filosófico de Flusser. É um texto múltiplo, bem ao estilo dos ensaios, gênero discursivo que o autor mais utilizou para a construção de um arcabouço teórico denso, apesar da preocupação do filósofo com a questão da falta de fundamento que pode atravessar o processo de produção de conhecimento.

Ler Bodenlos foi uma aventura filosófica, um encontro prazeroso com a arte de pensar. Haveria melhor texto para finalizar as leituras de 2024?

Até a próxima!


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Publicado por Cleonilton Souza

Educador nas áreas de educação, tecnologias e linguagens.