
Uma arqueologia da cultura africana no Brasil
Nos textos aqui criados está evidente uma preocupação em resgatar no movimento Axé Music as influências de matrizes africanas sobre a cultura baiana. É nada melhor do que trazer um pouco da produção fonográfica dos blocos afros e afoxés que tão bem fizeram uma arqueologia da cultura africana que foi ressignificada dentro da cultura baiana. O primeiro registro que traremos aqui é o do álbum Núbia Axum Etiópia, do Olodum. Vamos lá?
Um dos propósitos dos blocos afros desde os momentos iniciais em que foram concebidos era de cultivar a ideia de coletivismo entre os integrantes das agremiações afro-baianas, e isto ficou evidente no álbum Núbia Axum Etiópia, lançado em 1988 pela Continental. Era o ano dos 100 anos da promulgação da Lei Áurea, em que as desigualdades de toda ordem ainda continuavam atravessando a sociedade brasileira e que lutar ainda era preciso, segundo os princípios filosóficos do Olodum.
Para o leitor ter uma noção do sentido de coletividade no Olodum, Núbia Axum Etiópia foi construído envolto de contribuições de vários músicos, cantores e compositores, que produziram uma obra de arte com os olhos na África, em um ritmo que cruzada os sons afro-brasileiros com os da cultura jamaicana também, outra cultura que ressignificou a cultura africana.
No encarte do álbum, uma mensagem para os ouvintes, demonstrando o quanto de compromisso político havia nos artistas comprometidos com a música afro-baiana:
“Este disco é dedicado a Nelson Mandela, ao Movimento Negro Brasileiro, ao Maciel-Pelourinho, a Socialista Etiópia, a força e luz do Rastafarismo, a João Rodrigues da Silva (+), a nossa luta contra o racismo no mundo, contra o apartheid, pela paz mundial e contra todas as formas de guerra.”
Grupo Cultural Olodum
Ainda sobre a coletividade, além dos cantores e compositores, a banda do Olodum tinha como instrumentistas mestre Neguinho do Samba, na regência e nos timbales, Mapia, Dedezinho, Melo, Carranca e Nelson na marcação II, Fernando Macaé e Coroa na Marcação I, Long-Dong na caixa, Memeu, Ivan e Roseval no repique, Cristina Rodrigues, Alice, Euzébio Cardoso, Nego e Germano no coro, e Bira Reis, Euzébio Cardoso e Felipe Cavalieri nos efeitos (metais).
Para dar um gostinho do disco, trazemos abaixo um pouco dos conteúdos da letras, para o leitor se deliciar:
“O povo trazido do seio da África
Fez o Pelourinho virar páginas
Trouxeram o primeiro, o segundo e terceiro
E foram tantas cabeças que não sei contar a a a…
(..)
Espalharam o negro no mundo intereiro
Para, para para nos enganar á á á
(...)
Vai Olodum e ensina esse povo a lutar
Com seu canto forte Olodum
Esses guetos precisam acabar”
Em um outro momento:
“Aids se expandiu
E o terror já domina o Brasil
Faz denúncia Olodum Pelourinho
E lá vou eu..”
Querem saber quem eram os intérpretes e compositores de Núbia Axum Etiópia, gente?
| Música | Intérprete | Compositor |
| Olodum cosmopolita | Tonho Matéria | Tonho Matéria e Rey Zulu |
| Ranavalona (Bravuras malgaxes) | Beto do Carmo | Marcelo Gentil e Julinho |
| Olodum, a banda do Pelô | Beto do Carmo | Jaguaracy Esseerre |
| O poder da trindade | Betão | Betão e Jamoliva |
| Influências egípcias | Nêgo | Ademário |
| Etiópia mundo negro | Bira Reis | Bira Reis |
| Denúncia | Lazinho | Tita Lopes e Lazinho |
| Tempos de criança | Germano | Germano |
| Lutar é preciso | Valmir Brito | Caj Carlão |
| Negra luta | Valmir Brito | Marcelo Gentil e Bobôco |
| Protesto Olodum | Betão | Tatau |
| Banda reggae Olodum ritmos | Neguinho do Samba | Neguinho do Samba |
Até a próxima parada!
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