
Dia 13 de setembro foi um dia histórico para a comunidade afrodescendente do estado da Bahia, pois foi ordenado bispo auxiliar da Arquidiocese Metropolitana de São Salvador da Bahia: Gabriel dos Santos Filho.
Gabriel, ou melhor Monsenhor Gabriel, é homem negro nascido e criado na velha São Salvador. Ele circulou muito, como padre, em bairros como IAPI, Liberdade e Pelourinho, um conhecedor do cotidiano da periferia de Salvador.
Monsenhor Gabriel fez filosofia e teologia na graduação, depois fez especialização em Antropologia e mestrado em Ciências Sociais. Atualmente é doutorando em Antropologia na Universidade Federal da Bahia.
Gabriel é um cidadão que conhece as letras e um pouco da vida de toda gente de algumas comunidades da primeira capital do país. Gabriel é um cidadão que faz cotidianamente a leitura de mundo e a leitura da palavra, nas palavras de Paulo Freire.
Durante a ordenação episcopal Gabriel chorou, chorou por ter alcançado um desejo pessoal e um objetivo social: inscrever na história da Bahia o registro do primeiro cidadão negro, nascido em Salvador, a ser bispo daquele lugar, um esperançar, como diria Paulo Freire (novamente), e que caracteriza o que alguns segmentos da sociedade chama de “resiliência”. Os negros são seres de resiliência, pois dificilmente desistem de continuar a construção de objetivos maiores de emancipação da comunidade afrodescente.
As portas das igrejas católicas no Brasil precisaram ser abertas por cidadãos como Gabriel, um ser de comunicação, um homem de comunidade, palavra e ação. As portas foram abertas com palavras de amor, concretizadas no discurso de posse do Monsenhor.
Conheci Monsenhor Gabriel, quando era padre, entre o final do milênio anterior e o início do atual. Uma colega de faculdade me indicou um curso para preparação de jovens e adultos da periferia para que estes alcançassem o nível superior.
Gabriel era o líder espiritual do grupo de professores e coordenadores pedagógicos que trabalhava voluntariamente para a melhoria das condições educacionais dos jovens e adultos, com preocupação especial com os afrodescendentes, do bairro do IAPI, Salvador, Bahia, e arredores.
Os professores e coordenadores pedagógicos voluntários deram o nome de Quilombo Milton ao grupo, em homenagem ao geógrafo brasileiro Milton Santos, um dos grandes pensadores brasileiros.
Foram quatro anos de contato com o Monsenhor, que estava sempre preocupado em cultivar a fé e a esperança no grupo de professores. Foram também momentos de muita aprendizagem com aquele grupo de professores voluntários e com os jovens e adultos que por ali passaram em busca de melhorias de vida.
O 13 de setembro está gravado em minha memória como um dia de construção histórica, afinal de contas foram necessários 476 anos (período de existência da cidade de São Salvador) para que um cidadão negro soteropolitano alcançasse uma função de destaque dentro da hierarquia da igreja católica na Bahia.
O momento é de celebração e de construção de novos rumos em direção à formação de outras estruturas nas instituições religiosas na Bahia, em que a diversidade possa aflorar como um desígnio de transcendência.
Até a próxima!
Dados do Evento
O que é? Ordenação Episcopal
Quem foi ordenado? Gabriel dos Santos Filho
Quando foi? 13 set. 2025
Onde posso assistir? Canal YouTube da Arquidiocese de Salvador
Onde Foi? Catedral-Basílica Primacial de São Salvador
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