Os irmãos multimodais

Os irmãos multimodais
Os irmãos multimodais

A Bahia possui um legado de interseções artísticas marcadas por amizades e fraternidades, como é o caso de Antônio Carlos e Jocafi e Os Doces Bárbaros (Gil, Bethânia, Gal e Caetano).

De forma mais abrangente há os afetos entre artistas baianos e não baianos, como entre Os Tribalistas (Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown) e os Novos Baianos (Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes, Jorginho Gomes e  Didi Gomes (e ainda os ex-integrantes Luiz Galvão, Moraes Moreira, Dadi Carvalho, Baxinho, Bola Morais, Odair Cabeça de Poeta, Charles Negrita). E olha que os Novos Baianos eram filhos de João Gilberto e, no mínimo, primos dos Doces Bárbaros.

Os Novos Baianos ainda deram crias como a banda A Cor do Som (Mu Carvalho, Dadi Carvalho, Armandinho, Ary Dias, Gustavo Schroeter ( e os ex-integrantes Victor Biglione, Perinho Santana, Jorginho Gomes e Didi Gomes): é um legado atrás do outro, tal qual as pessoas quando estão atrás de um trio elétrico.

Os artistas acima criam um caldeirão de criatividade e não há como enquadrar essas irmandades em algum ritmo musical, tal a diversidade artística que foi gerada por esses pensadores da cultura brasileira.

É preciso lembrar de uma irmandade artística muito peculiar em relação aos registros mencionados acima. Trata-se dos três obás de Xangô: Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé. Estes trazem na irmandade uma pitada a mais de pimenta para melhorar um tempero criativo que atravessava as barreiras do visual, do escrito e do auditivo.

Explico-me melhor: os três mestres da cultura afro-baiana criaram um acervo artístico reconhecido mundialmente e ainda se ressignificaram ao criar entre si laços de amizade alicerçados em cooperação, carinho e muito amor.

E são as tais ressignificações que o leitor poderá apreciar ao assistir 3 obás de Xangô, com direção de Sérgio Machado, um documentário que mistura as belíssimas imagens de Carybé, com o cancioneiro de Dorival Caymmi e a poética da escrita de Jorge Amado.

Quando observo uma imagem feita por Carybé, escuto os sussurros da voz de Caymmi cantarolando  sem parar e invade em mim a poética de Jorge Amado, como se estivesse descrevendo aquelas imagens em forma de narrativas. 

Os três obás de Xangô eram unidos por diversos símbolos, como a labuta do ser artista, a busca pela transcendência e o compromisso com a gente do povo. Isto tudo fortaleceu o senso de amizade entre eles, o que resultou em um conjunto de artes multimodais formado pelas letras de Amado, a voz de Caymmi e as imagens de Carybé. É ver, ouvir e ler para crer.

Até a próxima!

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Publicado por Cleonilton Souza

Educador nas áreas de educação, tecnologias e linguagens.