Pensar faz bem – Clifford Geertz

Pensar faz bem - Solange Barros
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Releitura no final do ano

Final de ano com releitura
Final de ano com releitura

Faltando menos de dez dias para o final do ano, resolvi reler Sobre o artesanato intelectual e outros ensaios, de Charles Wright Mills, um reencontro agradável com um pensamento ágil sobre as coisas da sociologia e da formação do intelectual da área de ciências sociais. Observei que da primeira leitura ficou impregnado em mim o estilo direto, objetivo do autor, que se dirige ao povo que deseja se enveredar no trabalho cotidiano de pesquisa, mostrando os pontos fundamentais da prática e da teoria de pesquisa em ciências sociais.

Charles Mills é elucidativo ao abordar ideias originais como a imaginação sociológica e o artesanato intelectual e vai demonstrando como ele foi-se construindo como pesquisador na área nos sucessivos embates entre a teoria e a prática. Se o leitor espera que eu explicite aqui o que o autor pensa sobre imaginação sociológica e artesanato intelectual está enganado. Aconselho a ler o livro, pois seria um pecado tirar o prazer de quem ler a obra saber como o autor se organiza como pesquisador.

Se na primeira vez adotei um itinerário linear de leitura, nesta segunda oportunidade, iniciei com o capítulo O que significa ser um intelectual?, depois fui ao capítulo A promessa, passando logo após para O homem no centro: o designer, descendo a leitura das páginas para o texto O ideal do artesanato, até chegar ao início do livro com o texto Sobre o artesanato intelectual, ensaio que dá nome à obra. Os ensaios são independentes, mas se cruzam, dando uma noção de totalidade ao que está sendo discutido no livro: o trabalho intelectual do sociólogo. O livro traz a possibilidade de o leitor escolher a forma como vai dialogar com o pensamento do autor, não havendo problema sobre em qual ordem a leitura será feita.

Um capítulo à parte no livro é o da Introdução: sociologia e a arte da manutenção de motocicletas, feita pelo pesquisador brasileiro Celso Castro, um momento ímpar, em que o leitor conhece um pouco da biografia de Mills. Quer saber o porquê de o título ter o termo motocicletas? Nem vou te dizer, leitor.

Apesar de o texto ser direcionado a pesquisadores, principalmente aos iniciantes, considero a leitura apropriada para uma gama muito maior de público-leitor  e recomendaria  a leitura cuidadosa do livro a professores da educação básica de qualquer área do conhecimento, pois aprender a pesquisar é um processo que ajudaria bastante na formação das crianças e adolescentes do ensino fundamental e médio.

Com esta leitura, finalizei o ano de 2022, renovado para 2023. Para terminar, fiquei intrigado com alguns pensamentos de Mills, os quais replico abaixo.

Até a próxima!


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Charles Wright Mills por ele próprio

Não acho que é demais dizer que o intelectual político é alguém que exige de si formulações claras de posição política. Ele não pode ser precipitado; quando tem de fazê-lo, isso o que constrange. Ele leva a sério o que experimenta e o que diz a respeito. Se sua tarefa é formular planos de ação, é também lutar por uma compensação metódica da realidade, pois tal compreensão deve ser obtida para que a qualidade de seus planos de ação corresponda a seus padrões auto-impostos (sic). Página. 90

O trabalho do artesão é a mola mestra da única vida que ele conhece; ele não foge do trabalho numa esfera separada do lazer; leva para suas horas de ócio os valores e qualidades desenvolvidos empregados em suas horas de trabalho. Sua conversa em momentos de lazer gira em torno do trabalho; seus amigos seguem as mesmas linhas de trabalho que ele, e partilham uma infinidade de sentimento e pensamento. Página 62.

Para superar a prosa acadêmica temos de superar primeiro a pose acadêmica. Página 50.

Pensar faz bem – Clifford Geertz

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O EPraxe no túnel do tempo em 2022

O EPraxe no túnel do tempo
O EPraxe no túnel do tempo

A passagem por 2022 foi muito intensa, e a gente não pode deixar de olhar para o passado e observar o que fizemos. Desta forma, apresentamos para os leitores doze textos publicados no nosso site no ano passado como uma pequena retrospectiva.
Muitas aprendizagens e muito para construir em 2023!


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Pensar faz bem – Italo Marconi

Pensar faz bem - Italo Marconi
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Terra de gigantes

Terra de gigantes
Terra de gigantes

Nos anos 1990, o Brasil passou por uma controvertida discussão. De um lado havia as pessoas que defendiam a produção industrial de carros grandes, potentes e velozes, tal quais os carros que eram importados pela classe alta do país; do outro lado, muita gente desejava comprar um carro com preço popular e acessível para as classes menos favorecidas da sociedade.

Foi assim que surgiu o carro popular, de baixa cilindrada, de pouca robustez e de consumo razoável de combustível. Essa geração de carros ajudou a família de baixa renda a se locomover nos momentos de diversão, de trabalho e de necessidade doméstica.

Comprei na época um fusquinha verde. Achava o carro uma beleza e com ele pude fazer viagens com até 400 KM de distância. Rodei durante cinco anos sem problemas no campo e na cidade. Quando eu chegava a algum lugar desconhecido, recordo que as pessoas me abordavam, perguntando se aquele carro não era de Itamar, e eu respondia que não, era meu mesmo, pois naquele período tão repleto de carros populares, o novo fusquinha era chamado de “fusca do Itamar”, presidente da República na época.

O tempo foi passando e chegamos ao século XXI, marcado pelo gosto por carros grandes, quatro por quatro, cabine dupla, motor turbinado, carros feitos para terra de gigantes.

Ao lado desses novos hábitos de consumo que foram se desenvolvendo na vida cotidiana, surgiu a pandemia do coronavírus, junto com agravamento da crise econômico-financeira que já existia e se exacerbou mais ainda no país.

Aí vieram as saídas das empresas automobilísticas do Brasil: diminuir paulatinamente a produção de carros populares, até quase não haver mais produção de carros mais baratos para a população menos afortunada. O interesse do mercado prevaleceu, e a tática da indústria automobilística foi se direcionar para a venda de carros sofisticados, avaliados em mais 100 mil reais. Hoje o carro mais barato não sai por menos de 65 mil reais, o equivalente a 54 salários mínimos. O mundo de hoje é o dos carros de cabines duplas, ocupados geralmente por uma pessoa durante as viagens.

Enquanto isso, os condomínios residenciais e os shoppings center se estruturam com estacionamentos cada vez mais apertados, dificultando a vida dos donos dos gigantes carros que passeiam pela cidade. Nos bairros populares há um amontoado de carros antigos, que ocupam ruas e vielas cada vez mais estreitas: ficamos sem saída. 

Diante dessa situação, como vão trabalhar os pequenos empresários, que precisam ter acesso a esses carros populares? E como ficarão as famílias das classes mais pobres que perderão acesso a carros mais populares no futuro próximo? São desafios macroestruturais que se apresentam para as nações no início do terceiro milênio.

Até a próxima!


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