Akara e os contrastes de vender acarajé na Bahia

Akara e os contrastes da intolerância
Akara e os contrastes da intolerância

Elas estão no time das primeiras mulheres empreendedoras do Brasil. Elas enfrentaram adversidades sociais para se firmarem como parte integrante da cultura brasileira. Elas são as baianas de acarajé.

Se você deseja saber mais sobre esse grupamento tão importante da cultura brasileira assista a Akara no fogo da intolerância.

Akara é um documentário que faz um apanhado histórico da jornada das mulheres trabalhadoras que ajudam na divulgação de comidas típicas da cultura brasileira, tendo de sobre-existir em uma sociedade demarcada pelos preconceitos e pelas intolerâncias no cotidiano.

Em Akara o espectador se deparará com um estilo cultural singular de construção de identidade de mulheres, na maioria negras, que defenderam o direito ao trabalho sem deixar perder os vínculos com o legado africano na cultura brasileira.

Akara fala de religião e mostra como as relações de poder se sustentam nas diversas tentativas de diminuir a contribuição das religiões de matrizes africanas nas produções sociais de resistência aos infortúnios sociais pelos quais as baianas de acarajé tiveram de passar para produzir cultura das diferenças no Brasil.

A intolerância religiosa é um elemento controverso na vida das baianas de acarajé, pois a comida feita por essas trabalhadoras são hoje utilizadas como instrumentos de sustentação econômica de muitas mulheres que não são vinculadas ao candomblé, mas que não aceitam a herança das religiões de matrizes afro-brasileiras como fundantes da tradição de feitura dos acarajés e outras comidas feitas na Bahia. 

Os criadores do documentário tiveram a capacidade de ouvir tanto baianas ligadas ao candomblé, quanto de vendedoras outras que sobrevivem dos quitutes de origem africana, mas não reconhecem os vínculos desses alimentos sagrados com as religiões afro-brasileiras.

Akara também fala de culinária, dos quitutes gostosos oriundos da cozinha afro-brasileira, que serviram também como elementos contra-hegemônicos em relação aos diversos instrumentos de interdição que foram criados para invisibilizar a contribuição africana na cultura brasileira.

Akara trata de uma manifestação econômica e religiosa secular, de algo que pertence ao dia a dia de muitas cidades brasileiras, mesmo as de fora do estado da Bahia. 

O documentário é peça histórica para a gente levar para as salas de aula e discutir uma questão cultural tão importante para entendimento das relações de forças existentes na sociedade brasileira. Esses contrastes precisam ser discutidos, para que possamos compreender mais as nuances do viver em sociedade no Brasil.

Até a próxima!


***
O que é? Akara no fogo da intolerância {documentário}
Quem dirigiu? Claudia Chávez
Quanto durou? 70 min
Onde assisto? Plataforma Amazon Prime
***

Pensando com Manuel Castells

Pensar faz bem - Manuel Castells
Pensar faz bem – Manuel Castells


Dez argumentos para os cidadãos navegarem nas redes sociais

Dez argumentos para os cidadãos navegarem nas redes sociais
Dez argumentos para os cidadãos navegarem nas redes sociais

“Se é para o futuro digital ser o nosso lar, então cabe a nós torná-lo nosso lar. E precisaremos saber. E precisaremos decidir. E precisaremos decidir quem decide.” Shoshana Zuboff, em A era do Capitalismo de vigilância

Uma reação a Dez argumentos para você largar agora suas redes sociais, de Jaron Lanier

Uma explicação: este texto nasceu de uma discussão sobre redes sociais digitais feita em uma disciplina do doutorado de Educação, na Universidade Federal da Bahia. A conversação foi uma aprendizagem e inspirou a criação do texto abaixo. O texto está com algumas adaptações e cada contra-argumento corresponde a um argumento defendido por Lanier.

Aproveitem!

Argumentos

  • Você precisa recuperar sua liberdade de decidir, afinal de contas somos seres pensantes e precisamos agir sobre o mundo sejam lá quais forem as circunstâncias.
  • Estar nas redes é uma maneira de você apresentar seu ponto de vista, sua forma de ler o mundo e contribuir para uma sociedade melhor e mais equitativa.
  • Você pode mediar nas redes situações sociais que sirvam para promover o humano e tornar as pessoas mais saudáveis, nos âmbitos físico, psíquico, social e espiritual.
  • Você tem a responsabilidade de buscar as verdades factuais e discuti-las de maneira a produzir ambientes mais democráticos de acesso à informação.
  • Você pode transformar os ambientes de interações sociais das mídias digitais em contextos de produção de sentidos e contribuir para relações comunicativas com  possibilidades de existência de múltiplas vozes.
  • Todo cidadão precisa se aproximar da sociedade e criar ambientes empáticos nos espaços mediados por tecnologias da informação e comunicação.
  • A felicidade é oriunda de interações sociais e você e os outros precisam entrar em relacionamentos, por vezes simétricos, por vezes assimétricos, de construção de momentos felizes e nem sempre felizes.
  • Participar das redes sociais digitais é uma oportunidade de você contribuir, dentro do possível, para diminuição das desigualdades de todos os tipos (sociais, de gênero, econômica…). Vale a ideia de Beto Guedes: “Vamos precisar de todo mundo”.
  • As redes sociais digitais se abrem para discussões políticas de diversa ordem. Lute como um cidadão de direitos e obrigações contra a desinformação, a pseudociência e o cancelamento. Ajude a tornar este mundo melhor.
  • As relações nas redes sociais digitais são complexas e não podemos partir de posições dicotomizadas. Não seja ingênuo a ponto de imaginar nas mídias sociais digitais espaços paradisíacos. Lá estão as pessoas, e as pessoas guardam em si a luz e a sombra em constante movimentos, e precisamos aprender a fazer escolhas. Precisamos aprender a viver o tempo presente, buscando compreender o que passou e criando projetos de vida para o futuro.

O texto de Lanier é  bem oportuno. Precisamos discuti-lo, pois no contemporâneo, as relações no digital estão cada vez mais presentes na vida cotidiana. Que o texto possa ser percebido como um espaço de anúncio das vicissitudes por que passamos na vida presente, mas que tenhamos coragem de intervir no contexto para transformá-lo. Este é o desafio.


Abaixo os dez argumentos apresentados por Lanier:

  • Você está perdendo seu livre-arbítrio
  • Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos
  • As redes sociais estão tornando você um babaca
  • As redes sociais minam a verdade
  • As redes sociais transformam o que você diz em algo sem sentido
  • As redes sociais destroem sua capacidade de empatia
  • As redes sociais deixam você infeliz
  • As redes sociais não querem que você tenha dignidade econômica
  • As redes sociais tornam a política impossível
  • As redes sociais odeiam sua alma

Pensando com Michel Foucault

Pensar faz bem - Michel Foucault
Pensar faz bem – Michel Foucault

Um ano de pandemia em casa

Um ano de pandemia em casa

Quando iniciei 2020 não imaginava que teria de ficar um longo período em casa por causa da pandemia. Mas a vida é o inesperado, aquilo que não temos condições de adivinhar e agora em março 2021, completamos um ano em casa aprendendo a sobreviver a cada dia.
Nossa família tinha uma rotina bem demarcada: ir à escola, comprar no mercado, passear no shopping, visitar os amigos, ir a shows e aos cinemas, viajar… As possibilidades de ficar na rua eram incontáveis.
Mas com a pandemia tudo mudou…
Fizemos de tudo um pouco. Brincamos de Juno, aprendemos pocket. Lives? Ah, a gente fez até calendário para não perder os espetáculos. Se a gente gostava de assistir a filmes e a séries, o negócio se intensificou e esta foi uma das atividades que fizemos quase todos os dias.
Houve gente na casa que fez ensaios fotográficos do nosso conjunto de plantas, outros intensificaram as leituras, houve gente também que se dedicou a fazer artesanato. A gente não parou.
As saídas foram muito reduzidas, pois todos em casa têm medo da doença e acredita na vacina como uma das possíveis saídas contra a crise pandêmica, ou alguma outra saída indicada pela ciência.
E as nossas saídas? Só para ir ao dentista, com data marcada, ir ao supermercado ou a algum centro comercial para comprar coisas de necessidade básica. Quando batia uma vontade de consumir, fazíamos, caso houvesse dinheiro, alguma compra pela internet.
Daqui de casa presenciamos muitas coisas: pessoas jogando bola na quadra a noite toda, bares abertos durante na madrugada, e cheios, adolescentes correndo com skate na rua, outros jogando voleibol . Vimos homem que bateu em mulher, e foi preso. Assistimos ao ano novo passar com as pessoas olhando o mundo lá fora pela janela. De vez em quando ouvíamos sons bem altos depois das 22 horas (verdade). O que apareceu de crianças nas áreas comuns dos condomínios, a gente perdeu a conta. Parecia que estávamos em férias.
Com receio do risco que significava o não isolamento, aprendemos a fazer algumas atividades domésticas básicas, como reaproveitar móvel que quebrou; colocar pés com roldanas em armários, criar peças para suporte de plantas, ajustar encanamentos e pontos da rede elétrica de casa. Se fosse em outro período, provavelmente contrataríamos o serviço de terceiros.
Mesmo com todas as restrições para ficar em casa, resistimos e sobrevivemos.
Precisamos ressaltar nesta experiência que somos uma família com o mínimo de segurança social, o que não acontece com boa parte da sociedade brasileira, em que a vulnerabilidade social é o estado vigente, o que leva muita gente a correr riscos diários fora de casa para sobreviver. Estamos sensíveis a isto.
A rotina que criamos nos ajudou a sobreviver nos últimos 12 meses e a não se entregar a comportamentos agressivos ou depressivos. Tivemos de nos reinventar todos os dias.
E você? Como foram seus tempos de pandemia?



Pensando com Margaret Hefernan

Pensar faz bem - Margaret Hefernan
Pensar faz bem – Margaret Hefernan