Ofício de Educador

O educador e as tecnologias educacionais

Já fiz um balanço de trajetória de usos de ferramentas para fins educacionais e agora farei um relato dos atuais usos tecnológicos para trabalhar em educação.
Umas das coisas que sempre procurei levar comigo para as atividades educacionais é um kit com algumas ferramentas imprescindíveis para a atividade pedagógica.
O kit é formado por:
. Um apontador eletrônico para interagir com imagens, vídeos e apresentações;
. Uma caixa de som portátil (com recurso de transmissão sem fio ainda é melhor);
. Um tablet para leitura, consulta à internet e produção de conteúdos pedagógicos;
. Um smartphone para comunicação, consulta à internet, inserção de dados e organização de eventos;
. Um caderno de anotações, dois lápis, duas canetas, uma borracha e uma régua;
. Um mouse e um teclado sem fio e dois pendrives;
. Textos postados em plataformas de armazenamento on-line (Drive, OneDrive, Icloud…) 
. Pacote com cabos de energia, pilhas e cabos de comunicação entre os dispositivos móveis;
. Dicionário Eletrônico e aplicativo VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa);
Para as interações educacionais, tenho como práticas:
. Fazer anotações quase diárias, pois um educador está sempre aprendendo. Nesta tarefa, utilizo o Keep e o OneNot) e blocos de papel.
. Manter diversos tipos de arquivos (textos, imagens, planilhas, gráficos, mapas mentais, apresentações, bancos de dados, vídeos, áudios…) em pendrive, no celular, no tablet e na WEB (Drive e OneDrive).
. Manter contato com pessoas sobre temas educacionais em mídias sociais diversas (Facebook, WhatsApp, Blogger e LinkedIn).
. Manter acervo de livros e discos (filmes, documentários, depoimentos e músicas) sobre educação.
O que percebo é que o uso faz com que eu me aproprie das funcionalidades das ferramentas educacionais existentes, o que favorece um posicionamento crítico quanto aos benefícios e limitações na utilização de tais tecnologias.
Note o leitor que aqui é apresentado um relato de experiência de usos; cabe a você, autor do seu processo de desenvolvimento profissional, decidir quais ferramentas são mais adequadas para sua atuação como profissional de educação.
Última questão: e se você não tiver recursos financeiros suficientes para manter tal plataforma tecnológica? Comece com papel e caneta!
Até a Próxima!

Itinerário de um educador analógico-digital

Aqui em casa há uma quantidade enorme de equipamentos velhos que poderiam ser jogados fora. Fico arrependido quando lembro que doei uma máquina de datilografia. Apesar de saber que ela teve uma utilização social, bem que eu ainda poderia lançar algumas ideias no papel usando aquela maquininha.
Para uso em educação já tive de tudo. E é o que vou tentar contar neste texto para você, leitor.
Minha primeira ferramenta de luxo foi um caderno de anotações, acompanhado de uma caneta. Ali eu anotava de tudo: perguntas, esquemas, desenhos, comentários, resumos, cópias de trechos. Até hoje ainda os uso.
Mas nasci em uma época diferenciada entre a consolidação das grandes invenções analógicas e o surgimento das grandes invenções eletrônicas, chegando a este mundo em que as interações acontecem em nuvens digitais.
De tanto fazer anotações em papel veio uma necessidade enorme de utilizar máquinas de datilografias manuais. Fazia textos ali e reproduzia em mimeógrafos. O material saía na cor azul, podíamos inserir nos espaços desenhos para melhorar a interação com os educandos.
Como era muito curioso, percebi que nas antigas relojoarias, era vendidas agendas eletrônicas, que tinham funcionalidades como calendário, calculadora e memorandos. A dificuldade era não poder reproduzir aquelas informações em papel.
Tempos depois apareceram as primeiras imagens dos chamados microcomputadores. Aqueles homens bem vestidos, de terno e gravata, segurando computadores portáteis de quase 4 quilos nas fotos das revistas semanais me deixava fascinado com as ideias do eletrônico, do portátil e da mobilidade.
Foi então que adquirir um Apple IIIe, computador pouco utilizado no Brasil, mas que prometia fazer milagres quanto ao gerenciamento de informações. Que sofrimento: comprar disquetes que queimavam com facilidade; usar impressoras que demoravam 30 minutos para imprimir uma página com gráficos. Era um horror! Mesmo assim aprendi a usar a ferramenta para realizar atividades como aluno na universidade.
A história todos já conhecem: o computador evoluiu e passou a ser dispositivo multimídia e muito utilizado nos lares e nas corporações.
Vieram os notebooks. Já não era necessário ficar preso em casa quando o assunto era produzir conteúdos…
Trabalhei de 1997 a 2008 pelo interior do Brasil. Foi quando percebi que andar pelo nosso país na época significava não ter computador na cidade, muito menos projetor. Internet? Nem pensar!
As ferramentas mais utilizadas eram telas transparentes com textos e imagens sobre um retroprojetor. E quadro de giz, giz, cartolina, papel ofício…
Trabalhava com alfabetização de adultos e queria usar ábacos para trabalhar noções de matemática com os alfabetizadores em formação. Foi quando surgiu a ideia de criar uma alternativa aos ábacos, pois eram muito pesados para serem transportados. A ideia foi criar um Tabuleiro Numérico, que foi utilizado para reconhecimento de número, posicionamento de números e identificação de quantidade e valor numérico. Esta tecnologia analógica ajudou bastante.
Foi naquela fase que surgiram os computadores de mão. As coisas digitais começaram a melhorar. Corria os interiores do nosso país e quando voltava, trazia lista dos educandos e pequenos relatórios das atividade realizadas. 
O trabalho de mídia era utilizar uma máquina fotográfica manual, em que tirava as fotos e só conhecia aos resultados quase um mês após ter participado do evento educacional.
Levava também um gravador (de fitas) para registrar alguma coisa que achasse interessante ou mesmo ouvir músicas daquelas fitas de 45 a 60 minutos de duração.
Quando usei a primeira câmara digital, foi uma festa na turma. Descobri intuitivamente que a máquina também filmava. Foi um marco no uso de tecnologias em sala de aula.
Em dezembro de 2010 foi possível adquirir um Ipad. Aquele equipamento não era novidade em termos de usos, pois já utilizava os palmtops. O negócio era pôr o dedo na tela e deixar o equipamento todo sujo de digitais.
Já estávamos nos tempos das nuvens, da portabilidade, da mobilidade e da ubiquidade.
Hoje uso tecnologia cotidianamente, tanto a digital quanto a analógica; depende do contexto, da necessidade e estou sempre descobrindo novas possibilidades de aprender a usar essas ferramentas novas que vão surgindo.
As velhas ferramentas ainda estão aqui, em sacos empoeirados. Não as vejo como simples ferramentas que foram jogadas ao relento, mas como um conjunto de itens que participaram da minha formação como educador. Quem sabe elas não possam formar um pequeno museu pessoal de tecnologias educacionais?
A seguir algumas fotos que retratam o itinerário de usos de recursos educacionais.
Teclado de um Palmtop
Tabuleiro Numérico 

Tela de transparência para uso em retroprojetor

Palmtop

Um gravador portátil de fitas cassetes

Computador de Bolso

Aprendizagens Móvel e Ubíqua

Aproximações e afastamentos sucessivos das novas tecnologias

Que bom seria se os educadores que atuam nos ambientes educacionais presenciais físicos se dedicassem a aprender mais sobre a aprendizagem presencial digital, ou seja, as aprendizagens a distância mediadas por dispositivos móveis (tablets, smartphones, consoles de games e outros) e as aprendizagens mediadas em diferentes espaços e lugares (ubíqua).
Um convite a essa aproximação é o livro M-Learning e U-Learning, que trata da educação nos novos tempos e espaços.
O livro é bem organizado, trazendo informações sobre temas como informação, aprendizagem, conhecimento e competências. Depois discute os conceitos de M-Learning, e U/Learning diante da nova, mas já incorporada noção de E-Learning.
Mas a obra não se limita aos conceitos anteriores e aborda alguns pontos das novas tecnologias móveis e ubíquas, tocando em assuntos como contextos, metodologias, práticas e mediação pedagógica para aplicação nesse novo contexto.
Outros temas trazidos no texto são a avaliação educacional e a abordagem interacionista (“construtivista sistêmico-complexo”) para as aprendizagens móvel e ubíqua. Aqui as concepções de caráter problematizador são tratadas como um dos caminhos para atuar nesse contexto diferenciado.
Há um capítulo em que são trazidas algumas experiências de M-Learning e U-Learning que foram acompanhadas pelos autores, o que facilitam o entendimento a respeito da aplicação dessas modalidades de educação no contexto educacional brasileiro.
O livro é bem coeso na condução das ideias relativas ao M-Learning e U-Learning tratando em um contínuo aprendizagem, tecnologias, abordagens didáticas e experiências. Como foi escrito em 2010, há necessidade de atualização sobre as novas tecnologias para os contextos móveis e ubíquos de aprendizagem.
M-Learning e U-Learning é uma leitura pertinente tanto para os educadores  “integrados”, aqueles que abraçaram as tecnologias digitais, quanto para os “apocalípticos”, aqueles que valorizam a educação presencial física e se afastam das novas facilidades que a computação educacional pode trazer.
E agora? Agora é hora da leitura atenta do texto: de se aproximar cada vez mais das novidades tecnológicas e educacionais, para exercer o papel crítico que todo educador deve ter quanto à própria prática profissional.

Até a próxima!

O que eu li? M-Learning e U-Learning – novas perspectivas da aprendi§zanguem móvel e ubíqua
De quem é o texto? Amarolinda Saccol, Eliane Schiemmer e Jorge Barbosa
Quando o texto foi escrito? 2010
Quem editou o texto? Editora Pearson
O que eu achei do texto? Muito Bom!

Pensando com os Sentidos

Ou a leitura construindo sentidos em minha vida

Pensando com os Sentidos nasceu de uma pergunta que vez por outra aparece no Facebook: “Que você está pensando?”. Disto surgiu a ideia de escrever textos com as questões: Pensando com os olhos e Pensando com os ouvidos. Aqui no blog esta ideias se traduzem com a questão Pensando com os Sentidos, que se expressa aqui por meio de comentários sobre livros e discos que li, porque há em mim uma sede de leitura.

E ler é uma sensação  difícil de expressar. Para mim, que adoro dançar, a leitura é como entrar em uma casa de dança e ver as pessoas em movimentos harmoniosos sob luzes multicoloridas. Todos suadas só pensando em relaxar, integrando corpo e espírito; é também, para quem gosta do mar, pegar as ondas das ondas e navegar sobre as águas vigorosas num ritmo também dançante e desafiador ; é tomar aquele vinho à noite, em casa, depois de um dia extenuante, sentindo o corpo cada vez mais distenso.
É como o atleta corredor que chega ao final da jornada e nem pensa sobre quem venceu ou perdeu o intento.
Ler é a própria totalidade, pois integra o corpo, a mente e o espírito, sendo, ao mesmo tempo, um estado de zen, de um mergulho na própria racionalidade.

Boas Leituras!

Teatro do Oprimido

Um diálogo entre arte e educação 

Depois que terminei a leitura de Teatro do Oprimido, fiquei imaginando uma conversa entre Paulo Freire (Pedagogia do Oprimido) e Augusto Boal. Nessa conversa eles discutiriam o imbricamento entre educação, artes (em especial, o teatro) e política. E quantas coisas boas e pertinentes sairiam dessa conversa: a autoria, a autonomia, o protagonismo, os meandros das relações de poder quando essas instâncias do existir humano interagem entre si.
Teatro do Oprimido começa com a seguinte mensagem:  “Este livro procurar mostrar que todo teatro é necessariamente político, porque políticas são todas as atividades dos homens, e o teatro é uma delas.”
Ora, e é justamente  isto que o autor vai argumentar durante o livro, convidando o leitor, a não só discutir, mas praticar um teatro protagonista, em que o especatador deixa a vida de expectativas, deixa de ser aquele que só vê, para construir uma jornada de elaboração de novas perspectivas para a própria vida e assume o papel de coautor das histórias.
Assim testemunhamos um livro criativo e inovador em que são tratados assuntos relacionados ao funcionamento do Teatro do Oprimido, as instâncias entre opressor e oprimido, um apanhado histórico sobre a concepção de teatro, até culminar com um relato de experiência de teatro popular no Peru.
A obra tem um posfácio feito por Julían Boal, filho do autor, que vale muito a leitura.
E é nisto tudo que as ideias de Pedagogia do Oprimido e Teatro do Oprimido dialogam: ambas defendem a construção de um homem político diferenciado, que se percebe num muito desigual e busca cotidianamente existir-se neste mesmo mundo.
Fica então o convite de pensarmos um teatro que funcionaria na perspectiva do cidadão que se torna coparticipante das cenas, dos figurinos, do enredo e do que for mais necessário para a construção coletiva da representação teatral.
Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas – Augusto Boal – Cosac Naify, 2013

O outro lado dos contos de fadas

E as histórias não eram tão inocentes assim…
Era uma vez um tempo e um lugar em que os príncipes não eram tão encantados, os contos não eram de fadas e elfos, as bruxas eram arquétipos de coisas difíceis que vemos em nós próprios e os finais não tão felizes assim. Esses tempos, lugares e acontecimentos representam os lados sombrios dos contos de fadas.
Como assim?
O fantasioso povoa a vida das civilizações desde sempre. A humanidade necessita de explicações metafísicas para melhor compreender a si e a realidade.
Então surgem as lendas, as fábulas, os contos de fadas e outras narrativas mais para explicar por que vivemos, qual a origem das coisas, qual o nosso objetivo aqui na terra.
Os contos de fadas são contribuintes dos diversos mitos criados pela humanidade para compreendermos essa figura de luz e sombra que é o ser humano.
Com isto criamos imagens como heróis, princesas, príncipes encantados, bruxas, ogros e fadas como representantes de nosso imaginário diante da realidade muitas vezes dolorosas.
No livro O lado sombrio dos contos de fadas , Karin Hueck nos apresenta o lado às vezes não percebido por nós trazidos por essas histórias: o sombrio. A autora aborda na obra como, com o passar dos anos, essas narrativas foram sendo adaptadas para o público infantil e passaram a ter enredos mais eufêmicos em relação às narrativas originais, em que situações de estupro, abandono dos filhos, figuração negativa da mulher (imagem de feiticeiras e bruxas), roubos e traições foram sendo construídos de forma que as crianças percebessem esses fatos como situações brandas das relações interpessoais e socioculturais da humanidade.
O resultado disto é um panorama dos tempos e lugares em que essas narrativas foram criadas, apontando como construções textuais direcionadas a adultos chegaram aos nossos dias “adocicadas” e menos explícitas quanto à revelação das sombras inerentes ao ser humano.
Vale a leitura para quem gosta de contar histórias; vale também para quem deseja voltar às leituras dessas narrativas intrigantes, que fizeram parte da nossa formação durante a infância e a adolescência.
O lado sombrio dos contos de fadas – as origens sangrentas das histórias infantis
Karin Hueck, 2017, editora Abril