O pensamento faz bem com Antonio Candido

Pensar faz bem com Antonio Candido
Pensar faz bem com Antonio Candido
Pensar faz bem traz quinzenalmente para os leitores pensamentos de diversas áreas do saber, vinculados à cultura e ao cotidiano. Uma parte significativa dos textos Pensar faz bem é fruto das leituras que fazemos para construção dos artigos, crônicas e resenhas para o EPraxe.
Boas reflexões!

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A construção da identidade negra segundo Neusa Santos Souza

Tornar-se-negro
Tornar-se-negro
Em uma foto em preto e branco aparece Neusa Santos Souza, com sorriso largo, sobrancelhas bem delineadas e cabelos no estilo black power estadunidense. Nas orelhas, longas argolas, formando uma comunicação precisa com a capa do livro Tornar-se negro.
A capa reluzente, na cor preta, vem ornamentada com letras brancas, tendo no centro uma imagem de uma mulher negra, em uma tonalidade mais escura da cor preta: um luxo.
Mas Tornar-se negro vai muito além da questão estética da capa do livro e elabora uma análise psíquica e da ideologia contida na realidade das pessoas entrevistadas, demonstrando o quão são próximas as questões sociais de pessoas tão distintas quanto às implicações do racismo na vida de toda a gente brasileira.
Tornar-se negro traz os resultados da pesquisa em nível de dissertação feita por Neusa Santos. Além do texto oriundo da dissertação, a obra ainda traz os textos do acervo pessoal da autora: Loucart: a quem serve a arte, E agora, José?, O que pode um analista aprender com os pacientes psicóticos?, O corpo em psicanálise. Traz também o artigo Contra o racismo: com muito orgulho e amor, publicado em jornal, A casa, que foi utilizado em uma apresentação, e O estrangeiro: nossa condição, originalmente publicado em uma coletânea de livro, com a participação de outros autores.
Neusa foi psiquiatra e psicanalista. Nascida em Cachoeira, Bahia, trabalhou na formação de profissionais de saúde. Na face da escritora, há em Neusa leveza na escrita sem perda do compromisso de luta cotidiana contra o racismo no Brasil.
Disto resulta um livro relevante para entender as questões raciais no Brasil, tanto nos aspectos do psíquico, no que diz respeito à formação dos indivíduos negros, quanto nos aspectos relacionados às relações sociais entre as diversas etnias que compõem a civilização brasileira.
Na tarefa de discutir os mitos que recaem sobre os negros no Brasil, utilizando da dialética e da psicanálise, Neusa Santos argumenta sobre a construção do imaginário sobre o negro no país, ao qual ela denomina de “O ideal do ego”, em que a autora esmiúça muitas das questões que dizem respeito às relações inter-raciais no Brasil.
No livro há dois prefácios, um de Maria Lúcia da Silva e outro de Jurandir Freire Costa, que trazem visões distintas e complementares sobre o pensamento da autora.
O livro Tornar-se negro é de relevância para a discussão da formação da cultura brasileira, por discutir a questão da identidade negra em um país cuja formação étnica é constituída historicamente por diversas matrizes civilizatórias.
Até a próxima!
Dados da obra
O que é? Tornar-se negro {livro}
Quem escreveu? Neusa Santos Souza
Quem editou? Zarah
Quando foi lançado? 2021

Pensar faz bem com Neusa Santos Souza

Pensar faz bem!

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Pensar faz bem traz quinzenalmente para os leitores pensamentos de diversas áreas do saber, vinculados à cultura e ao cotidiano. Uma parte significativa dos textos Pensar faz bem é fruto das leituras que fazemos para construção dos artigos, crônicas e resenhas para o EPraxe.
Boas reflexões!

O mito é uma fala, um discurso – verbal ou visual -, uma forma de comunicação sobre qualquer objeto: coisa, comunicação ou pessoa. Mas o mito não é uma fala qualquer. É uma fala que objetiva escamotear o real, produzir o ilusório, negar a história, transformá-la em “natureza”. Instrumento formal da ideologia, o mito é um efeito social que se pode entender como resultante da convergência de determinações econômico-político-ideológicas e psíquicas.

Neusa Santos Souza
Tornar-se negro, p. 54

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Uma transa de 50 anos

Uma transa de 50 anos
Uma transa de 50 anos

Fiz um pacto comigo mesmo desde o final da adolescência: quando o sono vem, desligo a televisão e vou dormir independente do nível de interesse do programa que está passando na TV.

Mas fui desafiado a desistir do pacto, pois Caetano Veloso, em janeiro último, iria fazer um show nos 25 anos do Festival Verão, em Salvador, Bahia, no meio de  uma turma descolada de um público cheio de agitação por novidades.

Chegou o dia do show e lá estou eu em frente à TV, conectado em um serviço de streaming, esperando a apresentação começar. O show demorou tanto que desliguei a TV e fui cumprir meu acordo de décadas. Confesso: tive um sono gostoso e acordei no outro dia com receio de não encontrar gravação daquela live disponível no canal da TV patrocinadora do evento.

Depois de alguns momentos de busca, finalmente achei a apresentação em homenagem ao disco Transa, que completou 50 anos de produzido no ano passado.

Você conhece Caetano? Se não conhece vai se deliciar com You don’t know me, música de abertura do show, que nos conduz ao silêncio, à quietude do que virá depois.

No show, em meio à agitação própria desses festivais midiáticos, as pessoas ao ouvirem Caetano param; param não, elas ficam atentas ao que está sendo cantado, pois as canções silenciosas nos convidam a ouvir e contemplar. As canções, ora as canções, fazem o pensamento dançar, e os ouvidos se educam, enquanto o corpo transmuta Irene, uma homenagem à irmã mais velha do cantor, ou Maria Bethânia, uma ode à irmã mais nova.

Daí em diante Caetano passeia por, Asa Branca, London London e The empty boat, criando uma tensão que leva o espectador a cada vez mais mergulhar nas mensagens que o compositor baiano exala pela voz, pelos gestos e pelo suor que se espalha pelo corpo.

Segue Caetano na jornada transcendental, parecida com a ideia de cinema advinda do imaginário do cantor. O cenário expõe uma mistura de vermelho e preto, adequada à forma sussurrante do filho de dona Canô. No meio da paisagem rubro-negra, Caetano realça a cena por meio de uma indumentária marcada por uma calça escura e uma camisa avermelhada. O visual e o sonoro se encontram para a elaboração de uma espécie de exercício para os ouvidos, em que o santo-amarense conta as vivências no exílio durante o período da ditadura no Brasil.

É daquele sussurrar que surgem Araçá Azul, Triste Bahia, Neolithic Man, It’s long way. Estamos no meio do mar, e as forças da natureza não estão revoltas. Revolta é a forma de cantar do músico santo-amarense.

Aí Caetano revisita You don’t know me, agora acompanhado de Jards Macalé, Tutty Moreno e Áureo de Sousa, os menestréis que estiveram com ele no princípio de tudo. Logo após, Jards Macalé por meio de Mal Secreto assume as rédeas da navegação e provoca Caetano com Sem samba não dá. Caetano retoma os rumos da jornada com Mora na Filosofia e Nostalgia, apontando que já estava na hora de terminar a caminhada musical. Meu coração entristeceu. Eles não tocarão Nine out of ten? Mas não é que Caetano e banda abrem alas para a música que hoje é passado, presente e futuro da cultura brasileira?

Até a próxima!

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Sobre o evento
Que aconteceu? Show Transa
Onde aconteceu? Festival de Verão, Salvador, Bahia
Quem transmitiu? Globoplay
Quem participou? Caetano Veloso, Lucas Nunes, Alberto Continentino, Rodrigo Tavares, Pretinho da Serrinha, Thiaguinho da Serrinha, Tainã do Gege, Jards Macalé, Tutty Moreno, Áureo de Sousa e Moacir Albuquerque
Quanto tempo? 1:17 min
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Rubem Braga - o homem e a cidade
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Os momentos das leituras prazerosas

Leituras Plurais e Prazerosas
Leituras Plurais e Prazerosas

Tempos de férias são momentos para se mudar a rotina, certo? Ora, nem sempre isto acontece, principalmente quando a pessoa tem como rotina a prática da leitura. 

E foi o que aconteceu comigo, quando resolvi viajar de férias e mudar a rotina. 

Parei tudo e separei uns livros para levar comigo e assim modificar o dia a dia fazendo outras atividades. O certo é que a leitura para mim acontece tanto no trabalho quanto no lazer.

No planejamento das atividades de lazer reservei um tempinho do descanso para me deleitar com alguns livros que estavam abandonados na estante me esperando fazia tempos.

Como o assunto de 2023 foi sobre essa tal de inteligência artificial, que de novidade não tem muita coisa, as primeiras leituras foram os livros Ética na inteligência artificial, de Mark Coeckelbergh, e Inteligência Artificial e educação: refletindo sobre os desafios contemporâneos, organizado pela pesquisadora Lynn Alves. São duas leituras interessantes, mas pecam por utilizarem um robô (a metonímia da inteligência artificial generativa) para a feitura dos prefácios, um momento ímpar em que seria possível polemizar e politizar os usos da inteligência artificial na vida cotidiana logo de início serviu para simplesmente apresentar das destrezas do ser maquínico. Como faz falta o debate sobre a técnica a partir de pensadores como Álvaro Vieira Pinto, Vilém Flusser, Laymert Santos e Arlindo Machado! Ora, ora, isto é assunto para outra postagem!

Concomitante a estas leituras, revisitei o pensamento de Antonio Candido por meio de um livro que estava amarelando no fundo da prateleira: Iniciação à literatura brasileira, um primor de leitura.

Há também outro livro me esperando: Os gêneros do discurso, de Mikhail Bakhtin: oh, vida, oh, dó… Pelo menos a leitura já está encaminhada e falta pouco para o término. O texto é essencial para quem deseja estudar linguagem neste início de milênio.

Enquanto escrevo esta postagem, alguns livros estão ali escondidos a me esperar: Tornar-se negro, de Neusa Santos; Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação, de Walter Benjamin; Alienígenas em sala de aula: uma introdução  aos estudos culturais em educação, organização de Tomaz Tadeu da Silva; Inteligência artificial a nosso favor: como manter o controle sobre a tecnologia, de Stuart Russel. Ufa, haja pluralidade!

Outros livros estão me espreitando, e alguns alegam que eu não sou um leitor justo, pois vivo furando filas e mais filas de leitura 

O que percebo é que não é possível dissociar leitura de prazer e leitura de trabalho, pois ler é algo maravilhoso nesta confusão misto de prazer e trabalho é que meu coração vai-se partindo a cada dia mergulhado nesta maravilhosa experiência de leituras tão plurais.

Até a próxima!


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