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Artigos, resenhas e crônicas do cotidiano

O desejo de ter um aparelho com múltiplas funcionalidades é antigo. Quem não se lembra do canivete suíço, cheio de funções ou do antigo três em um, aquele equipamento de som, que trazia embutidas as funções de gravador de fitas, rádio FM e toca-discos? Houve ainda a tentativa de criar um aparelho com diversas funções para a cozinha, o multiprocessador, mas o equipamento não caiu no gosto dos donos e donas de casa.
Mas aí aparece o smartphone com cada dia mais funções: espelho, relógio, scanner, máquina fotográfica, filmadora, régua, gravador de áudio, modem, telefone (????), mesa de desenho, teclado, microfone, karaokê, calendário, mensageiro, cronômetro, agenda, despertador, depósito de arquivos, museu, álbum de fotos, tábua de escrita, televisão, rádio FM. Opa, opa, chega! Realmente o smartphone é um equipamento de múltiplas faces.
Já percebeu como esse aparelhinho não nos dá trégua? Ela rouba de nós a atenção das pessoas mais próximas, pode nos acordar de madrugada, com a voz do nosso chefe, perguntando porque ainda estamos dormindo ou até mesmo pode entregar a todo mundo um momento íntimo que não desejaríamos que alguém mais soubesse.
Pois é, o smartphone invadiu a vida cotidiana e cada dia se transforma em momento de aventura e descobertas sobre como conviver com esse equipamento tão íntimo.
Quanto ao canivete suíço? Ainda tenho os dois no armário de casa, mas cada vez os uso menos. Algum dia abandonaremos o smartphone por gadget mais novo?
Até a próxima!
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É muito comum as pessoas sugerirem para nós a leitura ou a audição de uma música. Nossa vida é rodeada de indicações: visitar um parque inaugurado recentemente ou ir ao cinema assistir ao filme do momento. O que seria de nós se não fossem as recomendações?
Nas artes temos os críticos da cultura, comentando filmes, livros e quadros de pintura; na academia temos os comentadores, que fazem apreciações sobre os pensadores originários de alguma teoria. E assim a vida anda.
Mas o século XXI trouxe muitas surpresas para a vida cotidiana, como a possibilidade de a gente receber recomendações de objetos técnicos.
Você usa GPS com frequência? Já notou como esse objeto cada vez mais faz parte do nosso dia a dia? Fico impressionado quando uso uma rota alternativa que não faz parte da base de dados do GPS, e o aplicativo, “todo preocupado”, lança muitos alertas na tela, relatando o erro que cometi. O que dizer das plataformas pagas de vídeo? É uma longa lista de recomendações: “Em alta”, “Dramas emocionantes”, “Só na Plataforma“, “Filmes independentes”, “Favoritos da crítica”, “Histórias reais” e por aí vai. Ainda há itens de menu como “surpreenda-me”, prontos para buscar novas indicações para o espectador.
E as recomendações não param por aí: quando procuro alguma informação no sistema de busca, sou surpreendido com várias peças publicitárias que vão se acumulando na tela em forma de pop up. Diante de tamanha onda de recomendações mediadas por algoritmos, haja fôlego para o cidadão comum lidar com essa situação, pois muito do que esses objetos técnicos nos oferecem como recomendação não é percebido como recomendação, muito menos é percebido pelo cidadão comum como uma recomendação automática, que é baseada nos rastros dos comportamentos que toda gente vai deixando nos grandes servidores de empresas de mídias sociais e mecanismos de busca.
E assim toda gente vai vivendo, de recomendação em recomendação, só que agora, as recomendações não são realizadas somente por humanos como eram antes; agora humanos e não humanos indicam e direcionam o que os demais humanos precisam fazer.
Há muito o que aprender dentro deste novo mundo de recomendações, em que não conseguimos identificar o sujeito que está sugerindo o que devemos ler, escrever, escutar, falar e pensar. Haja desafios!
Até a próxima!
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Quando fui ver Medida Provisória, assisti a um vídeo, antes do filme, com pequenas entrevistas de pessoas relatando quais filmes impactaram a vida delas.
Em um dos vídeos, Lázaro Ramos dizia que o filme que o impactou foi Corra (2017), que trata das relações raciais a partir da perspectiva do terror. Não por acaso, Medida provisória se insere em uma linha parecida com a do filme estadunidense e discute as questões raciais brasileiras com uma pitada de terror também.
Medida provisória conta a história dos brasileiros que, em um contexto fictício, são obrigados a deixar o Brasil, para voltar para o continente africano, como uma forma de reparação, isto na perspectiva de quem planejou a emigração obrigatória. A partir de tal celeuma, as pessoas entram em conflitos diversos quanto ao direito de ficar no Brasil ou deixar o país.
Mas Medida provisória não se utiliza do terror ou do suspense ou mesmo do drama para contar a referida história. No caso, os organizadores do filme optaram pela tragicomédia, um gênero cinematográfico misto, fazendo o enredo ser conduzido ora por momentos de humor ora por momentos de terror. Alguns poderão até classificar o filme como uma ficção científica distópica, mas Medida provisória está posto para provocar terror mesmo, para desestabilizar as opiniões e rediscutir as assimetrias das relações raciais no Brasil, inserindo na trama momentos de ironia.
Durante o filme fiquei observando as reações das pessoas. Algumas delas riam das cenas trágicas, como se estivessem naqueles filmes estadunidenses de comédia que fazem paródia de filmes de terror. Fiquei pensando se a proposta de Medida provisória era de proporcionar reflexões sobre um tema tão complexo de nossa sociedade ou fazer as pessoas simplesmente se divertirem. Mas eu precisaria assistir ao filme mais vezes e observar as reações de mais pessoas quanto aos momentos trágicos para verificar que tipo de reações ocorreriam, o que não vem ao caso.
Quanto a mim, fiquei impactado com o filme, mesmo já tendo experienciado situações ali contidas ou ter sido testemunha de muitos momentos em que as relações raciais no Brasil não eram tão amistosas Fiquei a pensar o quanto ainda será preciso caminhar para que a sociedade brasileira diminua as assimetrias e as desigualdades nas relações raciais.
O que sei é que Medida provisória é como se fosse um verbo conjugado no futuro do presente. As questões estão lá em ficção, em um futuro distópico, mas elas estão acontecendo no dia a dia das pessoas nas terras brasileiras. A distopia é aqui e agora.
Mas cada um tem a própria sensibilidade quanto a assistir ao filme e reagir aos momentos de terror e de humor propostos na obra cinematográfica.
O filme é inspirado na peça Namíbia, não!, do ator e escritor baiano Aldri Anunciação, que também participou do filme como ator e contribuiu na construção do roteiro.
Um ponto positivo na distribuição do filme foi que os organizadores conseguiram lançar Medida provisória simultaneamente em dez municípios baianos (Feira de Santana, Ibicaraí, Ilhéus, Itabuna, Juazeiro, Jequié, Salvador, Santo Antônio de Jesus, Serrinha e Vitória da Conquista). Para um filme brasileiro, dirigido por um baiano, isso é um motivo para comemorar.
Até a próxima!
Sobre a obra
O que é? Medida provisória {filme} De onde é? Brasil Quanto tempo/ 1: 34 min Quem dirigiu? Lázaro Ramos Quem foram os atores? Taís Araújo, Alfred Enoch, Seu Jorge Quem mais participou do filme? Aldri Anunciação, Renata Sorrah, Adriana Esteves, Emicida e Jéssica Ellen