O pensamento de Ciro Marcondes

Pensar faz bem com Ciro Marcondes
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A jornada de aprendizagem da língua portuguesa

A jornada de aprendizagem da língua portuguesa

Texto..

O livro Aula de Português – encontro & interação estava guardado na estante havia tempo. Folheava páginas, relia as orelhas e capa de fundo e nada! Até que por questão de trabalho, tive de lê-lo para entender melhor umas questões que estava estudando.

Eu sabia da qualidade do livro, mas sempre postergava a leitura, até que as obrigações laborais fizeram com que a obra se transformasse em primeira prioridade de leitura e pesquisa. Isto já deve ter acontecido também com você, caro leitor. 

Quando, enfim, comecei a leitura do texto, fui arrebatado por um processo de ler, anotar, reler, olhar para a minha realidade de escrita e consultar outros livros para ampliar conhecimentos. 

O livro foi escrito pela professora e pesquisadora Irandé Antunes  Ela é professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco e docente da Universidade Estadual do Ceará. Pois é, ela não para. 

Aula de Português é um trabalho conversacional sobre o processo de escuta, escrita, fala e leitura, uma aproximação com a língua portuguesa na inteireza. O texto busca criar em nós autonomia na interação textual, fazendo a gente refletir sobre as dinâmicas do ensino e da aprendizagem da língua materna.

O livro é um misto de abordagem teórica com narração de experiências, provocando debates de questões da língua portuguesa e apontando as implicações pedagógicas das referidas questões. Nos textos o leitor navega pelas ondas da oralidade, da escrita, da leitura e da gramática, mergulhando em um trabalho que prima pelo rigor, mas não deixa escapar momentos de prazer.

A professora Irandé é enfática em sinalizar a necessidade de se aprender a construção textual na prática da revisão em conjunto com a elaboração da escrita, um ponto de destaque no livro, pois o comentário sobre a atividade de revisão às vezes fica sublimado em muitos textos tradicionais sobre a produção, escrita e leitura de textos. 

O livro estabelece uma subversão da ordem: em vez de a gramática ser o centro da aprendizagem do Português, os usos da língua, nas mais diversas situações comunicativas, passam a ser central. E claro, há um olhar atento sobre as interações conversacionais, nas formas de construção linguística das camadas privilegiadas na sociedade, mas a autora não deixa de salientar a importância de estarmos atentos às demais variedades de produção na língua portuguesa.

A aprendizagem da variação linguística das classes prestigiadas se torna imprescindível, pois as decisões tomadas a partir das  referidas classes, em termos de linguagem, influenciam a vida cotidiana das pessoas nos diversos aspectos econômicos, artísticos, sociais e educacionais, ou seja, todos precisamos entender como o poder funciona.

Irandé se posiciona contra as aulas de Português que optam por trabalhar exclusivamente com nomenclaturas e classificações enfadonhas que, cada vez mais, distanciam os aprendentes dos usos efetivos da língua. Para a autora é necessário criar outros modos de interagir em sala de aula a fim de que as pessoas se desenvolvam nos usos da língua. 

No livro A professora Irandé discute práticas que poderiam ser utilizadas em sala de aula, com enfoque nas situações de uso na vida social, o que faz da obra um texto que discute por meio de atravessamentos a teoria e a prática. 

Aula de Português é um livro técnico e político. Técnico por explorar as especificidades de usos da língua, tratando das implicações pedagógicas da educação voltada para a linguagem; é político por trazer uma visão de educação comprometida em combater as diversas formas de desigualdades próprias das relações de poder exercidas por meio da língua. 

Aulas de Português é uma obra para ser lida por todos: cidadãos, dirigentes, pais, educadores e políticos que estejam imbuídos de contribuir para melhorar a vida em sociedade. 

Até a próxima!


O que é? Aula de Português - encontro & interação {livro}
Quem escreveu? Irandé Antunes
É de qual editora? Parábola
Em que ano foi lançado? 2003 
A apresentação do livro é de quem?  Carlos Alberto Faraco



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O pensamento de Vilém Flusser

Pensar faz bem com Vilém Flusser
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O dilema entre programar e ser programado

O dilema entre programar e ser programado

O livro As 10 questões essenciais da era digital – programe seu futuro para não ser programado por ele – traz de forma simples e acessível questões fundamentais sobre a convivência na internet.

Escrita em 2010, a obra foi lançada no Brasil em 2012. Não se engane o leitor imaginando que o texto está ultrapassado, por ter sido escrito há mais de dez anos, pois Rushkoff escreve sobre um assunto que é pauta de discussões no tempo presente e continuará como questão social central nos tempos vindouros. 

O texto é relevante para as pessoas que desejam se aproximar de questões sociais fundamentais do mundo contemporâneo, de um assunto que ainda é de leitura restrita a acadêmicos e cientistas que abordam questões da influência das tecnologias na vida humana.

Rushkoff traz para pauta um debate atual e necessário para toda sociedade  a partir da abordagem de dez temas (tempo, lugar, escolha, complexidade, escala, identidade, social, fato, compartilhamento e propósito). Douglas Rushkoff faz uma radiografia da convivência do humano com as tecnologias neste início de milênio ao tocar em temas relacionados às formas como consumimos tecnologia, e a tecnologia nos consome, pois

quanto mais se desenvolvem os meios técnicos, mais a humanidade deixa para trás coisas que fazia cotidianamente, mais entrega os afazeres antes feitos por nós humanos para os objetos técnicos realizarem.

Assim, os objetos técnicos orientam a nossa vida, decidindo por nós, instaurando novas formas de relações sociais. Estas são algumas das preocupações de Douglas Rushkoff. 

Como viveremos neste contexto? Como nos relacionaremos nesta nova era? São muitos os desafios aos quais Rushkoff discute por meio do que ele denomina de dez questões essenciais para a convivência na era digital. 

As 10 questões é leitura ímpar e necessária por tratar o tema de forma não mitifica a convivência na internet e abrir debate sobre o mundo em que vivemos, cheio de possibilidades,  limitações e desafios.

Vou deixar o próprio Rushkoff se pronunciar, para que você, leitor, possa tirar as próprias conclusões e, quem sabe, acessar a obra na íntegra.


Rushkoff - Primeiro Tempo - as dez questões essenciais

1. Tempo - não fique ligado o tempo todo Nossos computadores vivem nos tic-tacs do relógio. Nós vivemos nos grandes intervalos entre esses tic-tacs, quando o tempo realmente flui. Estando “sempre ligados”, nós entregamos o tempo para uma tecnologia que não conhece nem precisa disso. P. 37 2. Lugar - viva em pessoa Reconhecendo a tendência da mídia digital para deslocamento, estamos habilitados a explorar seu poder de promover interatividade por meio de longa distância ao mesmo tempo em que prazer vamos nós habilidades de enganar sem a sua interferência quando desejamos um conectar localmente., p. 48. 3. Escolha - você sempre pode escolher nenhuma das anteriores A tendência da tecnologia digital em direção a escolhas forçadas nos encaixa muito bem nos nossos papéis de consumidores, reforçando essa noção de escolha como de algum modo libertadora enquanto transforma as nossas vidas interativas em alimentos para pesquisa de consumidores. Sites da web e programas tornam-se laboratórios no quais nossos toques de teclados e clique de mouse são medidos e comparados, cada escolha sendo registrada por sua capacidade de prever e influenciar a próxima., p. 57. 4. Complexidade - você nunca estará completamente certo Um coletor de informação digital tende a ter uma abordagem ao conhecimento oposta a de seus ancestrais da era da escrita, que viam a pesquisa como uma desculpa para sentar e ler livros antigos. Em vez disso, a pesquisa pela internet é mais engajar-se com os dados com o propósito de dispensá-los e seguir adiante - como uma revista que se folheia não para ler, mas a para mas para ter certeza que não existe nada que tem de ser lido. A leitura torna-se um processo de eliminação em vez de profundo engajamento. A vida se torna a respeito de comonão saber o que não se tem de saber., p. 67. 5. Escala - não existe tamanho único Em um mundo tão cheio de representações como nosso, é fácil ficarmos tão encantados por sinais que perdermos de vista o aqui e o agora. Como os pós-modernistas nos lembrariam: temos coisas, temos sinais para coisas e temos símbolos de sinais. O que esses filósofos temiam era que, como viéssemos a viver em um mundo definido mais por símbolos, perderíamos contato por completo com a coisa real; nos tornaríamos encantados pela nossa realidade simulada; e nos desligaríamos as pessoas e dos lugares pelos quais temos apreço., p. 84. 6. Identidade - seja você mesmo Quanto mais anonimamente nos engajamos com os outros, menos vivenciamos as repercussões do que dizemos e fazemos., p. 87. 7. Social - não venda seus amigos Amizades, tanto virtuais quanto de carne e osso, realmente criam valor. Mas isso não quer dizer que as pessoas em nossas vidas devam ser entendidas como bens de natureza geral que possam ser arrebanhadas e contadas. Pessoas não são coisas que possam ser vendidas em poções, mas seres viventes de uma rede cujo valor apenas pode ser compreendido em um contexto social e de livre fluxo. Estamos ainda por descobrir qual seria esse valor., p. 106. 8. Fato - fale a verdade O modo de prosperar em um espaço de mídia que tende para não ficção e dizer a verdade. Isso significa ter uma verdade para dizer., p. 119. 9. Compartilhe, não roube Quer estejamos ou não nos direcionando para consciência compartilhada, essa "curva de aprendizagem" deveria ainda está em curso. Em suma, necessitamos desenvolver os modos e a ética que faça o viver e o trabalhar juntos, sob essas condições, agradáveis e produtivos para todos nós., p. 126-127. 10. Propósito - programe ou será programado Programação é o ponto de impacto, o ponto de apoio de alavancagem significativa em uma sociedade digital. Se não aprendemos a programar, arriscamos a ser programados., p. 142.
Segundo tempo com Rushkoff
"Quanto mais complexas nossas tecnologias se tornam e mais  impenetráveis em suas tomadas de decisão (especialmente para nossos cérebros recentemente simplificados com o essencial), tanto mais dependente delas nos tornamos.", p. 67.

"Em vez de aprender sobre nossa tecnologia, optamos por um mundo em que a tecnologia aprende a 《nosso respeito 》É nosso servo, afinal de contas, então por que não faz apenas aquilo que sabe que nós queremos e entrega isso de modo que puder? Porque quanto menos soubermos sobre como trabalha, tanto mais estamos inclinados a aceitar seus modelos simplificados como sendo realidade. Suas recomendações de restaurantes substituem nosso conhecimento pessoal da nossa vizinhança; seus mapas falantes substituem nosso conhecimento de nossas ruas (bem como a lógica ou falta de lógica no seu traçado); seus sinais de alerta do pregão da Bolsa verdes ou vermelhos substituem nossa experiência de valor e bem-estar.",p.68

E o terceiro tempo? Há esse tempo será todo seu, leitor.

O que é? As 10 questões essenciais da era digital - programe seu futuro para não ser programado por ele {livro}
Quem escreveu? Douglas Rushkoff 
De qual editora? Saraiva,
Quando foi lançado? 2012

Até a próxima!




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Pensar faz bem – com Gustavo Bernardo

Pensar faz bem – com Gustavo Bernardo
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Música para a memória histórica

Música para a memória histórica
Música para a memória histórica

Quando criança minha filha não gostava das músicas que eu ouvia. No carro só era eu colocar blues ou MPB que ela reclamava.

Certo dia chegamos ao clímax da discussão, coloquei uma música de Bob Marley, e ela nem quis conversar e já foi desligando o aparelho de som. Alguns instantes depois ela ligou o aparelho e colocou, na época, um CD de preferência dela. Imediatamente desliguei o aparelho e ela perguntou o porquê da minha atitude. Disse a ela que não era democrático a gente só ouvir as músicas que ela gostava. Ficamos em silêncio e dias depois iniciamos um longo processo de aprender a ouvir músicas juntos.

Com ela tive momentos gostosos de audição. Aprendi a ouvir Charlie Brown Jr., O Rappa e Pitty. Comigo ela aprendeu a ouvir BB King, Alpha Blondy, Paul Simon e Prince, por exemplo.

Tive o privilégio de curtir toda a adolescência de minha filha, tanto para ouvir música, quanto para assistir a filmes ou passear no parque.

Dias desses ela me chamou para ver o documentário Summer of Soul sobre o lendário Harlem Cultural Festival de 1969, que celebrou a música e a cultura afro-americana e promoveu o orgulho e a unidade negra estadunidense. O Harlem Cultural aconteceu simultâneo ao Festival de Woodstock. Este ficou mundialmente conhecido como um acontecimento revolucionário nas artes na década de 1960.

Quando ela me convidou, lembrei da história que contei para vocês e aqueles momentos de audição vieram fortes. Ela estava muito empolgada e dizia que já havia assistido o documentário e queria assistir novamente comigo.

Ao contrário do Woodstock, Harlem Cultural Festival ficou no ostracismo, esquecido, invisível na história da música estadunidense. A mídia só teve olhos para registrar Woodstock nesses anos todos. Até que alguém descobre as fitas do Harlem Cultural Festival e resolve produzir coletivamente o documentário Summer of Soul: um presente para os que gostam de música. 

Ver Nina Simone dançando, tocando e cantando foi um momento ímpar. E BB King na guitarra? Que momentos. E Stevie Wonder? Que voz! Ainda não havia experimentado assistir a Stevie tocando bateria. 

Ao ver tanta gente cantando e inspirando as pessoas do Harlem com aquelas músicas ritmadas em gospel, blues e tantos outros ritmos afros, fiquei pasmado com o que vi. O interessante foi que eu não conhecia muitos daqueles músicos maravilhosos. Foi um momento de muita aprendizagem e entretenimento. 

Mais maravilhoso ainda foi olhar para minha história de vida e perceber o quanto a música me ajudou a viver.

Até a próxima!

Dados da obra
O que é? Summer of Soul {Documentário}
Quem dirigiu? Questlove
Quem editou? Joshua L. Pearson
De quando é? 2021

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