Lições do futebol na Bahia

Lições do futebol na Bahia
Lições do futebol na Bahia

Depois de 51 anos de existência, o Atlético de Alagoinhas, Bahia, conseguiu o título de campeão baiano. Um feito difícil de ser alcançado no campeonato baiano, em que tem, historicamente, a conquista do campeonato é polarizada: somente Bahia e Vitória ganham títulos durante anos, o que empobrece a competição se levarmos em conta o futebol como um esporte que deveria ser popular.

A população baiana acaba por não se ver representada, devido à hegemonia dos times da capital. Para o leitor imaginar, de 1980 a 2021, o Vitória conseguiu 21 campeonatos e o Bahia, 20. Somente nos anos de 2006, 2011 e 2021 houve times fora da capital baiana que se tornaram campeões. Os campeões não hegemônicos foram Colo Colo, de Vitória da Conquista , Bahia de Feira, de Feira de Santana, e Atlético de Alagoinhas, respectivamente.

Bahia e Vitória já nem dão tanta atenção assim ao campeonato baiano, pois participam simultaneamente de outros campeonatos como Copa do Nordeste, Copa Sul Americana e Copa do Brasil. A participação simultânea em diversos campeonatos provoca mudanças constantes no calendário do campeonato baiano. Isto é um problema.

Mas não podemos tirar o brilho do Carcará, como é chamado o Atlético, que em 2020 conseguiu ser vice-campeão do certame e se manteve firme na conquista do campeonato em 2021.

Os times profissionais do interior da Bahia participam de uma luta desigual, com orçamentos curtos para participar dos eventos esportivos, e precisam ter muita resiliência para seguir competindo no campeonato baiano.

Depois que se sagrou campeão, o time do Atlético subiu em um trio elétrico e foi passear na cidade de Alagoinhas para comemorar a conquista. Interessante foi a postura de um dos artilheiros do time, que, assim que terminou o jogo, dirigiu-se para a rodoviária da cidade, pegou um ônibus e foi para casa rever a família. Uma postura cidadã de solidariedade em relação aos acontecimentos da pandemia da Covid 19, em que as aglomerações são ações cotidianas.

Este também é o retrato da vida dos jogadores do interior, que ficam longe das famílias, não têm carros de luxo, muito menos salários altos ou contratos milionários de publicidade. É a vida. E ainda pensamos que a vida do profissional de futebol é uma maravilha; pode ser para uns poucos.

Fiquei duplamente sensibilizado com a situação. Primeiro por ver um time não hegemônico ganhar um campeonato estadual; segundo por ver a experiência do jogador campeão, preso às raízes, vivendo sem fama, sem dinheiro e sem luxo. 

Fiquei imaginando a ida do jogador à rodoviária, cheio de saudades dos parentes e dos amigos. Como deve ter sido a chegada à cidade natal? Como foi a comemoração? Quantos sonhos o título de campeão trouxe?

No final do túnel ainda há muito que aprender com o futebol na Bahia.

Até a próxima!



Pensar faz bem com Ferreira Gullar

Pensar faz bem com Ferreira Gullar
Pensar faz bem com Ferreira Gullar


O EPraxe no podcast

Podcast EPraxe
Podcast EPraxe

O EPraxe completará 15 anos de resistência escritural em setembro de 2021. O blog começou com o nome de Senso Comum e sempre buscou expressar o cotidiano do autor por meio de poemas, crônicas, resenhas e informes transversais da filosofia, da ciência, da religião e do senso comum.

São essas influências múltiplas do conhecimento humano que proporcionaram a sobrevida deste ambiente de escritura. É claro: os poucos fiéis leitores que acessam o blog com frequência foram o alicerce para a continuidade do blog. 

Agradeço a todos!

Muita gente conversa com a gente sobre a necessidade de o Epraxe se expressar por meio de áudios e vídeos, mas o Blog sempre se voltou mais para os textos. Mas, a partir de agora, o EPraxe também mergulhará, aos poucos, no mundo do áudio e publicará podcasts com frequência de 15 dias. Quem sabe não chegaremos a publicar vídeos em futuro próximo?

A ideia é transformar em áudios os textos mais lidos do blog e traduzir para o áudio poesias, crônicas e artigos que por algum motivo não puderam ser publicados aqui.

O primeiro podcast é A reação de mãe Netinha, uma narrativa que mergulha nas questões controversas da existência e da resistência das religiões de matrizes africanas no território baiano. O texto é um misto de ficção e realidade e aborda alguns pontos da cultura da Bahia dos anos 1970 que não saem da cabeça do autor.

As publicações do próximo mês serão:

11 jun 2021: Os algoritmos e a vida cotidiana (artigo publicado no jornal A Tarde, impresso, em 28 dez 2020)

25 jun 2021: Faxina Eletrônica (poesia)

Fiquem ligados no EPraxe e boa audição!

Até a próxima!



Pensar com Ricardo Noblat

Pensar faz bem - com Ricardo Noblat
Pensar faz bem – com Ricardo Noblat


A fase Pré-Capitalismo de Vigilância

A fase Pré-Capitalismo de Vigilância
A fase Pré-Capitalismo de Vigilância

Hoje está muito forte a discussão em torno do Capitalismo de Vigilância, esse estado de convivência em que o comportamento humano é rastreado cotidianamente por algoritmos, formando base de dados gigantescas sobre tudo o que fazemos quando navegamos na Internet.

Mas o hábito de capturar dados, sejam eles demográficos (nome, CPF, idade etc.) ou dados comportamentais (as nossas ações costumeiras) não é de agora.

Já faz tempo que empresas de seguros calculam os valores dos seguros de carro, por exemplo, com base no comportamento pregresso do segurado. Os bancos também não ficam atrás, pois há muitos anos as instituições financeiras guardam dados sobre os clientes e, com base no histórico comportamental de quem deseja empréstimo, estabelece os limites aos quais os cidadãos poderão tomar algum dinheiro emprestado. Os empréstimos não são liberados tendo como base somente o nível de renda, mas levam em conta toda a vida pregressa do cidadão, ou seja, o que fizemos no passado importa muito. 

O Estado também tem prática constante de guardar nossos dados demográficos e comportamentais para estabelecer que tipo de política social será implantada, ou seja, há muito tempo somos vigiados, e os nossos dados se encontram em mãos de depositários, e nem sempre saberemos se eles serão fiéis a nós e responsáveis socialmente com as informações que lhes foram confiadas.

Todas essas práticas pertencem a uma era que poderíamos chamar de Pré-Capitalismo de Vigilância, em que a captura de dados sobre nós era feita de forma manual e semiautomática. Hoje estamos no contexto do Capitalismo de Vigilância, que é sustentado por avançados meios tecnológicos que facilitam o processo de colheita de dados. A vigilância se expandiu, e os nossos dados comportamentais viraram moeda. Eles valem muito, e a gente nem sempre tem consciência disto.

Informamos nosso CPF e data de nascimento de maneira rotineira, compartilhamos fotos e vídeos íntimos com frequência em mídias sociais digitais e já não nos preocupamos tanto com a nossa privacidade, algo que se constitui como um direito fundamental a ser preservado, mesmo para aqueles que acham que não há problemas em expor o privado no dia a dia.

A gente só se preocupa com o direito à privacidade no dia em que temos algum prejuízo, como ver nossa imagem exposta de forma jocosa em contextos inadequados ou quando temos prejuízo financeiro porque deixamos nossos dados à mercê da esfera pública. Ainda temos muito que aprender sobre privacidade.

Para o momento, o que precisamos compreender é que estamos em um contexto de ascensão do Capitalismo de Vigilância, em que nosso comportamento é moeda de troca e está trazendo lucros para pessoas que a gente nem conhece.

Pois é, ainda temos muito que caminhar para entendimento mínimo deste complexo contexto de convivência vigiada. E você, leitor, o que está aprendendo com tudo isto?

Até a próxima!



Pensar com José Reis

Pensar faz bem - com José Reis
Pensar faz bem – com José Reis