Dominados pelos números?

Dominados pelos números?
Dominados pelos números?

A tríade computacional de algoritmos, big data e internet das coisas constituem as três dimensões que regem a convivência cotidiana do início do terceiro milênio.

A combinação de códigos computacionais com dados em conexões contínuas exercem influência em muitas das coisas que os homens e as mulheres fazem no dia a dia, e essa combinação é tão sutil que só uma parcela mínima da sociedade compreende o que está acontecendo.

Muitas das formas culturais construídas pela humanidade é mediada por tecnologias da informação e comunicação, e isto se reflete em atividades como compras domésticas, direção de veículos automotivos, exames médicos, exercícios físicos, uma infinidade de práticas culturais, 

E como aprender sobre essas novas relações sociotécnicas quando o conhecimento sobre esses objetos técnicos está restrito aos criadores desses objetos e a grandes operadores econômico-financeiros que são os donos das diversas tecnologias que são lançadas constantemente no mercado?

Ah, há profissionais da computação dispostos a compartilhar os modos pelos quais funcionam os bastidores dessa nova convivência mediada.

Mas o leitor poderá ficar cético e perguntar: mas esses profissionais têm uma linguagem própria que só é compreendida por um público bem específico.

Pois é, claro leitor, esse é o desafio a ser vencido pelo pesquisador David Sumpter com o livro Dominados pelos números – do Facebook e Google às fake News – os algoritmos que controlam nossa vida. No livro Sumpter trata de assuntos oriundos das relações mediadas, com ênfase nos algoritmos, em uma linguagem acessível, demonstrando que na verdade esses objetos atravessam nossa rotina todos os dias e como é necessário conhecê-los.

Por meio de uma comunicação leve e fluida, Sumpter discute como os algoritmos estão sendo aplicados nas negociações financeiras, nas contratações de seguros e até em processos eleitorais.

No texto não há códigos e códigos para o leitor aprender a dominar nem tão pouco listas exaustivas de linhas de programação para o leitor exercitar.

Mas, pela leitura, o leitor inicia um processo de entendimento da lógica de construção dos algoritmos computacionais e como eles podem ser utilizados para construir vieses, fazer previsão de comportamentos ou mesmo provocar situações de racismo ou sexismo.

A linha de argumentação do livro é construída por incursões que vão demonstrando como os algoritmos podem ser elaborados para, desde atividades de imitação de atos que pertencem ao humano até atos de influência sobre o que o humano pode fazer durante e após uma interação. Interessante pensar que esse poder de influência pode levar a interações permeadas de fake news, um problema que precisamos nos debruçar mais.

O capítulo que mais chamou minha atenção foi 17º, Cérebro bacteriano, que trata de inteligência artificial. Nela o autor trata da inteligência artificial geral, aquele tipo de inteligência que funcionaria com a mesma complexidade que a inteligência humana. 

Dominados pelos números é um presente para os cidadãos que não conhecem ou conhecem bem pouco sobre as mediações algorítmicas comuns do dia a dia. É claro que o livro não é  aquele texto superfácil para ler e de entendimento rápido do conteúdo, mas com um pouco de esforço e interesse pelas questões sociais do mundo contemporâneo, é possível aprender um pouco mais sobre esse novo mundo que nos rodeia e ficar mais esperto quanto ao exercício do próprio direito de cidadania.

Até a próxima!


Sobre a obra

O que é? Dominados pelos números – do Facebook e Google às fake news – os algoritmos que controlam nossa vida {livro}
Quem escreveu? David Sumpter
De que ano foi? 2019
Quem editou? Bertrand Brasil

Pensar com Tommaso Venturini

Pensar faz bem - com Tommaso Venturini e outros
Pensar faz bem – com Tommaso Venturini e outros


Pensar

Uma longa jornada em educação a distância

Uma jornada de educação a distância
Uma jornada de educação a distância

É provável que nunca tivemos tanta gente fazendo educação a distância no Brasil como estamos vivenciando durante a da pandemia do coronavírus.

Durante a semana navego de tela em tela, assistindo a aulas, apresentando trabalho, olhando vídeos, analisando fotos: uma viagem sem fim.

Apesar de estar cansado quando chega a sexta-feira, confesso que me identifico muito com a educação a distância, e esta modalidade faz parte da minha história.

Conheci cursos a distância quando tinha 10 anos. Meu pai e minha mãe se reuniram no quarto e depois me chamaram para conversar. Eles queriam voltar a estudar e iriam fazer cursos a distância para melhorar o currículo de cada um deles. Minha mãe optou por um curso na área de saúde, e meu pai, por um curso na área de eletricidade.

O interessante é que eles queriam que eu os ajudasse nos estudos. Veio um medo muito grande, pois teria de aprender e ajudar meus pais ao mesmo tempo em áreas de conhecimento tão distintas.

Mas os módulos iam chegando, eu me debruçava sobre os textos e depois partíamos para estudar juntos. Foi uma experiência emocionante: estudar com os meus pais. Nunca me esqueci daqueles dias.

Anos mais tarde, com 16 anos, formei uma pequena poupança e me inscrevi em um curso a distância sobre a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Como estava fazendo o curso técnico em contabilidade, resolvi que o primeiro assunto que eu deveria aprender com profundidade era sobre os fundamentos dos direitos do trabalhador.

Na idade adulta fiz cursos presenciais em nível de licenciatura, depois em especialização e mestrado. Mas não deixei de lado os cursos a distância. Também participei de cursos de extensão e aperfeiçoamento. A vida de estudante continuava.

Fiz cursos em nível de especialização em instituições, como Senac, Senai, Universidade de Brasília e Universidade Federal do Rio de Janeiro: todos na modalidade de educação a distância. 

Participei de eventos de aperfeiçoamento, também em educação a distância,  em instituições como Senac, Senai, Universidade de Brasília, Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), Instituto Paulo Freire, revista Cult, Movimento sem Terra, Fundação Perseu Abramo e Universidade de Santa Catarina. Foi um longo processo de aprendizagem.

No trabalho recebia elogios dos colegas e clientes em torno de aprendizagens que desenvolvi em cursos a distância. Eles nem sabiam disto. Assim, fui criando o sentimento de prazer e orgulho por participar de cursos a distância.

Comecei o doutorado em Educação, na Universidade Federal da Bahia, em 2020. E não é que aparece a pandemia e tenho de voltar a estudar a distância. Que encontro agradável! Tenho aprendido muito e descoberto muitas ferramentas de tecnologias da informação e comunicação para uso em educação a distância, feito amizades e aprendido bastante, é claro.

Mas o leitor perguntará: a educação a distância não é limitada? Ela é indicada para crianças? Ah, isto é coisa para uma próxima postagem.

Até a próxima!



Pensar com Vilém Flusser II

Pensar faz bem - com Vilém Flusser
Pensar faz bem – com Vilém Flusser


Navegando nas águas do Opará

Navegando nas águas de Heloá
Navegando nas águas de Opará

Tanto barulho aí fora
Aqui dentro, silêncio

Héloa e Luedji Luna

A pandemia me tirou muitas coisas: pessoas próximas se foram, tenho de ficar em casa, quando saio tenho de usar máscara e minhas mãos já estão desbotadas de eu desinfetá-la tantas vezes no dia com esse álcool em gel.

Mas uma coisa a pandemia ainda não conseguiu me tomar. Foi a noção, mesmo que caótica, do tempo. Todo dia olho para o tempo. Essa entidade tão difícil de a gente lidar. 

E foi em um domingo desses que senti o tempo fugindo de minhas mãos. Já tinha feito tantas coisas, e o tempo insistia em se mostrar como rotina e cotidiano. Há momentos em que a novidade nos fortalece e nos faz continuar a viver.

Lembrei de Héloa. Durante algum tempo, procurei alguma música dela no celular, depois resolvi ir atrás de algum videoclipe da cantora na Internet. Encontrei então o vídeo Héloa – Opará Acústico com Webster Santos, um show em forma de live que ela gravou com as músicas do disco Opará.

Antes de comentar a live, preciso dizer algo sobre Héloa. Ela é uma afro-sergipana, filha de Oxum. Ela não teme nem água salgada nem água doce, pois sabe navegar entre as fortes correntezas do rio e as ondas turbulentas do mar. Ela é multidiversidade: atriz, cantora, diretora e bailarina.

Sem ser panfletária, mas filosófica e religiosa, ela exalta a natureza do rio São Francisco e tece ritmos ribeirinhos nos chamando para a celebração do que as águas nos oferecem e não sabemos como aproveitar.

Na live, tecidos brancos desfilam no palco em consonância com as músicas que estão sendo cantadas, em um jogo de luzes que insiste em acompanhar a voz da cantora, uns sussurros me acalmam e me tranquilizam.

O que Héloa faz no show é religar o nós à natureza, tornando o espetáculo um reencontro de vertentes afro e indígena que povoam a cultura brasileira. 

Héloa não somente canta, ela faz pequenos gestos seguindo o ritmo da música. São movimentos solenes, tendo o corpo no centro e os braços em movimentos sincopados, com leveza para que não nos dispersamos do rito musical. 

No acompanhamento e na direção musical um violeiro batuta, que reconhece os acordes necessários para dar luz ao espetáculo anunciado pela cantora brasileira. Com você: Webster Santos.

Olha, mesmo em um domingo à tarde, havia muita zoada ao redor. A pandemia trouxe consigo muitos barulhos interiores, que desestabilizam as praças, as ruas e os lares. Mas aquele barulho de fim de tarde não conseguiu me tirar o centro e pude curtir os sopros musicais que Héloa consegue fazer tão bem. Foi um momento muito belo.

Depois do show percebi que retomar o próprio tempo é coisa para cada instante em que vivemos.

Até a próxima!


Sobre a obra

O que é? Héloa – Opará Acústico com Webster Santos {live}
Quem dirigiu? Webster Santos
Quem interpretou? Héloa e Webster Santos
De que ano foi? 2021
Quanto tempo durou? 49:08 h
Onde posso assistir? <a href="https://youtu.be/VxE-gc4-P20
/” style=”text-decoration:none;color:red;”>Héloa – Opará Acústico com Webster Santos

Pensando com Eli Pariser

Pensar faz bem - Eli Pariser
Pensar faz bem – Eli Pariser