Abraço no tempo enquanto ainda é tempo

Abraço no Tempo
Abraço no Tempo

Abraço no tempo enquanto ainda é tempo

Abraço no tempo é um encontro do teatro, a música, a poesia e a dança em um estado de cópula com o tempo. Em 45 minutos de deleite temos a oportunidade de deixar fluir o corpo, a mente e o espírito em um só tempo e lugar.

Abraço no tempo foi o presente que a comunidade do complexo de artes do Teatro Castro Alves (TCA) ofertou ao público como forma de refletir acerca da questão do tempo, em um encontro multicultural que reuniu as múltiplas faces da arte representadas pelo Balé do Teatro Castro Alves, Orquestra Sinfônica da Bahia e Caetano Veloso, inspirados nas manifestações artísticas de Caetano Veloso e Ludwig Beethoven.

Em uma sala escura a orquestra toca, enquanto em espaços abertos e semiabertos corpos dançantes criam a jornada de abraçar o tempo sob a aura de luzes naturais nos arredores das arquiteturas do TCA.

Nos espaços do prédio do complexo Castro Alves, a destreza de corpos que se movimentam em passos das diferenças sob a batuta de toques sincopados em busca de harmonia. 

Tudo isto dá uma sinergia ao espetáculo, fazendo a gente navegar nesse tempo sem medo do fim e vívido. A dança nos é ofertada como ato e meditação, observando a música em cópula com a dança, em uma mistura de corpos negros, brancos e de diversas tonalidades de cinza buscando as próprias almas em passos agitados como são os tempos que vivemos hoje: é um meditar diante de muito alvoroço.

Os músicos tocam enquanto dançam e dançam enquanto tocam, desencantando emoções em meio a uma técnica com tanto vigor e disciplina.

Eles são os dançarinos libertos que voam pelo chão e navegam no ar, deixando fluir novos corpos mudos cheios de sons.

Não é de estranhar que quem esteja assistindo se entregue em deleite e comece a cantarolar, na tentativa de imitar os instrumentos musicais daquele círculo escuro tão luminoso, ou ouse se levantar e viver a dança nos abraços no tempo. 

Até a próxima!


Sobre a obra

O que é? Abraço no tempo, espetáculo multiartístico
Quem dirigiu? Carlos Prazeres
Como foi o enredo? Em três atos: O passado é grave, O presente é nervoso e O futuro é aqui
De que ano foi? 2019
Onde assisto? Canal Youtube do TCA

Pensando com Neri Oxman

Pensar faz bem com Neri Oxman
Pensar faz bem com Neri Oxman

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Como posso começar 2021?

Imagem Ano 2021
Ano 2021

A gente começa o ano falando geralmente dos nossos sonhos e desejos para o futuro. A gente pede também energias positivas para que as coisas boas aconteçam e que o ano seja melhor ainda que o anterior.

Mas não é simples falar do futuro sem pensar no ano de 2020. Um ano controverso ao que parece para a maioria da população mundial.

Jamais pensei que iria passar dias em casa, recluso, ou mesmo que iria sair de máscara em plena Salvador com um vasilhame de álcool no bolso.

Durante a infância, em casa, com sete irmãos, pai e mãe, eu adorava ficar em casa: aquela casa minúscula, com pouca possibilidade de lazer. Tive de aprender a ficar em casa empurrado pelas desigualdades sociais que eram muito fortes nos anos 1970/1980. Mas agora as questões sociais haviam mudado, e eu estava novamente dentro de casa aprendendo mais sobre eu mesmo.

Outra coisa, nunca pensei que fosse tão cansativo passar mais de duas horas em videoconferências. Quando passava dos 90 minutos me sentia como o jogador cansado, com raiva de ter optado pelo futebol como carreira e desejoso que a partida acabasse. E olha que adoro tecnologias.

Vou parar por aqui!

O leitor percebeu que ainda estou em 2020, por este ano ter sido marcante em minha existência e eu preciso reelaborá-lo para continuar a jornada nesta vida.

Para 2021 ainda estou juntando os cacos, reorganizando a vida, sabendo que a vida individual está mais do que nunca entrelaçada à vida social.

Começo 2021 cheio de incertezas, isto é bom, pois as circunstâncias pedem buscas de novas perspectivas de vida.

Tudo isto volta ao título deste texto: Como começar 2021?

Com tudo que aconteceu em 2020, e aqui a gente não trouxe nem uma migalha do que aconteceu, o que posso vislumbrar para este ano é um pensamento e uma prática mais voltados para a humanidade, pois não há como se sentir feliz sozinho.

Continuamos na luta em 2021!



O ano de 2020 no EPraxe

O ano 2020 no EPraxe
O ano 2020 no EPraxe

O ano de 2020 foi desafiador. Não utilizarei outro adjetivo para não me entregar a um pessimismo que não ajudará a resolver os problemas sociais aos quais passamos neste ano.

Aqui no EPraxe enfrentamos os desafios mês a mês. E é o que o leitor poderá ler nos textos que sugerimos abaixo para você. É um texto para cada mês: de desafio a desafio.

Boa leitura!

Janeiro no EPraxeViagem, diversão e outras histórias – começamos o ano tocando em um assunto um pouco delicado: as viagens a trabalho. Viagem a trabalho é o mesmo que viagem para diversão?

Fevereiro no EPraxeÉ hora de compartilhar? – mais uma vez abordamos um assunto sensível e muito caro para muita gente: a questão do compartilhamento de dados na Internet. Veja lá o que pensamos sobre o assunto.

Março no EPraxeA condição de não saber e as tardes com Margueritte – neste texto nos entregamos à magia do cinema. A resenha é sobre um filme que fala de afetos e aprendizagem.

Abril no EPraxeDesigualdades digitais em tempos de pandemia – com a pandemia ficaram visíveis os graves problemas de desigualdades entre as pessoas que precisam usar a Internet. Este assunto precisa está na pauta de discussões do nosso cotidiano.

Maio no EPraxeCrises e desigualdades educacionais – continuamos discussões sobre o contexto da pandemia do Covid-19. Desta vez abordamos algumas consequências da pandemia sobre a educação.

Junho no EPraxeNo enxame – a convivência no mundo digital – o digital é assunto corrente no EPraxe. Desta vez a postagem foi uma resenha sobre o livro No Enxame: perspectivas do digital, de Byung-Chul Han.

Julho no EPraxeA desproteção social dos fazedores de artes – quase impossível ficar omisso às consequências trazidas pela pandemia do Coronavírus. Foi necessário explicitar alguns dos problemas que a classe artística brasileira tem enfrentado durante a pandemia.

Agosto no EPraxeAnseios – entre o pessoal e o político – sabe um livro gosto de ler. É Anseios: Raça, Gênero e Políticas Culturais. Leitura essencial para quem deseja discutir as questões sociais considerando multiplicas perspectivas do olhar.

Setembro no EPraxePaulo Freire por ele mesmo – em setembro de 2020 Paulo Freire completaria 99 anos de vida. Nada melhor do que homenagear o educador, trazendo algumas das reflexões filosóficas de Paulo em torno da educação.

Outubro no EPraxeQuando os ninhos não nos acolhem mais – Mildred é uma personagem do filme Um estranho no Ninho. Na série Ratched, ela assume o papel de protagonista. Muitas surpresas nessa série metalinguística.

Novembro no EPraxeNara Couto: linda e preta – beleza negra do Curuzu – muita gente imagina que a música baiana do século XXI está circunscrita ao “Axé Music”. Ledo engano!

Dezembro no EPraxeA reação de mãe Netinha – eis aqui uma crônica dos idos de 1970 na Bahia. É preciso compreender como vão-se construindo as relações sociais aqui no Brasil.

Até a próxima!


Dexter – entre a luz e a sombra

Dexter - entre a luz e a sombra
Dexter – entre a luz e a sombra

A gente está acostumado a comentar e categorizar como clássico produtos de filmes, discos e livros, o que geralmente não acontece quando o produto cultural vem da televisão, como as séries de TV.

Primeiro por que costumamos classificar a televisão como indústria cultural, o que acaba por nos afastar de produtos oriundos desse meio de comunicação de massa quando o assunto é arte. Depois por que estamos perdendo cada vez mais o gosto pelas narrativas longas, afinal de contas novelas e séries são elementos vinculados à sociedade de massa e acabam por serem taxados de produtos de consumo, distanciados das artes.

Mas obras como Dexter, Mad Men e Breaking Bad são ícones nesse tipo híbrido diferenciado de produção comercial com arte. Elas são as séries de TV de consumo, mas que buscam se aproximar dos produtos da chamada “arte”.

Mesmo que muitos não rotulem esses produtos culturais como obras de arte é necessário apreciá-los culturalmente, e é o que faremos nas próximas linhas comentando um pouco da série Dexter.

Dexter Morgan é um personagem controverso, pois possui uma dupla personalidade. Daquele tipo de O médico e o monstro, adaptado para o terceiro milênio.

De um lado Dexter é um analista forense muito bem reconhecido entre os pares. Casou e teve filho, ajudou na criação dos filhos da esposa; é um irmão solícito e quando pode participa das atividades de lazer com os colegas de trabalho.

Do outro lado, Dexter utiliza o conhecimento forense e o que aprendeu com o pai policial para assassinar pessoas. Os assassinatos são violentos e acompanhados por um ritual bem peculiar.
Em Dexter há múltiplos em um homem: filho adotivo, filho de mãe solteira, esposo, irmão, analista forense. Tudo isto existe na mesma pessoa, um ser que tem uma vida sob os contrastes de ser um homem subordinado aos acordos sociais e também ser um criminoso, justiceiro, um miliciano solitário, movido por causas interseccionadas entre o social e o intrapsíquico.

Quando nos encontramos com Dexter, ele já cometeu muitos crimes trágicos, de forma fria e calculista. Ele é o tipo de personagem que fascina muita gente que aprecia filmes de violência, mas a narrativa contempla bem mais coisas em Dexter do que a mera violência.

Para atrair o público, Dexter tem um motivo para agir com tanta violência: as pessoas que ele ataca são, geralmente, pessoas más, de comportamento desviantes. Na verdade, as vítimas possuem muitos pontos em comum com Dexter Morgan, mas o protagonista não vai contra as pessoas consideradas boas, ele só ataca os considerados desviados da sociedade. Essa opção de ir contra os maus faz com que Dexter seja compreendido de maneira diferente dos indivíduos da marginália e se torne uma espécie de “herói”.

Não devemos esquecer que existe dentro da narrativa estadunidense um conjunto de obras em torno de personagens justiceiros. Personagens que buscam fazer justiça com as próprias mãos, cabeças e corações.

Hoje, início de século XXI, provavelmente, a rede cinematográfica que distribui mais narrativas de super-heróis seja a estadunidense. Por aqui o leitor já começa a perceber que a narrativa é construída para que o espectador sempre perdoe as atrocidades de Dexter e fique comovido pelas motivações criadas pelo personagem. Dexter é um jogo psicológico muito bem organizado, que brinca o tempo todo com os valores do espectador.

Quando observado de perto, o espectador verá um homem sem amigos, solitário, de hábitos ordenados. Um homem que quando se esconde dos outros pode se ver em pleno florescimento.

Dexter sobrevive entre a demência e a sanidade. Ele precisa se curar, se conhecer mais; pensar e falar dos próprios segredos. Enfim, aprender a navegar entre a luz e a escuridão e educar os próprios sentimentos.

Interessante é observar durante a narrativa que quanto mais Dexter se aproxima dos próprios sentimentos mais o personagem se descobre como gente e mais o caos emerge como regulador da vida.

Mesmo a série tendo um personagem tão denso, é preciso ressaltar o papel de Deb Morgan, a personagem irmã de Dexter. Deb é uma mulher-homem. Ela travessa os gêneros. Ela adora dormir com os homens, mas não se deixa submeter ao patriarcal. Ela fala alto, xinga muito, usa roupas desajeitas.

Ao mesmo tempo ela deixa os sentimentos em transbordos, constituindo-se como uma personagem controversa, por não se deixar ser subjugada pela condição de ser mulher. Deb também precisa se encontrar. E é justamente essa busca que a faz uma personagem tão fascinante. Deb é uma coadjuvante de peso na história. A personagem mexe como nossos sentimentos: ela vai crescendo a cada capítulo.

Deb está na narrativa para provocar, tocar as pessoas. Deb é o caos e a organização ao mesmo tempo. No fundo é como se os dois personagens estivessem confabulando o tempo todo por meio das inconsciências. Daí de eles serem irmãos. Irmãos de criação, irmãos de convivência.

Pelo até aqui narrado, Dexter possui elementos suficientes para manter a atenção do espectador durante muitas temporadas. Talvez, você, leitor, possa captar mais coisas e trazer mais insumos para a gente aprender sobre as formas de narrativas dessa história desafiadora e assim podermos discutirmos mais sobre o fazer artístico destes nossos tempos.

Até a próxima!

Sobre a série

O que assistir? Dexter
O que é isso? Série de TV
Quem editou? Showtime
Quando aconteceu? 2006-2013
Mais alguma coisa? Existe possibilidade de haver nova temporada em 2021.


EPraxe – Pensando com…

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Bom dia!

A Seção Pensando com voltará a publicar novamente reflexões filosóficas a partir de 1º jan. 2021. Estamos com um acervo de reflexões bem interessantes para o ano que vem.

Não esqueça que toda segunda-feira temos um artigo, uma crônica do cotidiano ou uma resenha para você.

Vamos que vamos nos preparando para 2021.

Reflexão para hoje:

Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer, Italo Calvino, em Por que ler clássicos, p. 11.

Até 2021!!!!!!

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