De 7 a 18 de Outubro de 2024, acontecerá o III Seminário Internacional Conexão Escola-Mundo, organizado pelo Grupo de Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC), da Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia, com o objetivo de discutir Educação e tecnologias digitais e ativismo digital. O evento será uma forma de comemoração dos 30 anos de existência do GEC.
O evento abrangerá os municípios de Salvador, Teixeira de Freitas, Ilhéus e Itabuna, Itapetinga, Camaçari, localizados na Bahia, e a UFBA terá como parceiras a Universidade do Sul da Bahia (UFSB), a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), o Instituto Federal Baiano (IF Baiano), o Instituto Federal da Bahia (IFBA), o colégio Isaías Alves (Iceia) e o Instituto Oyá.
O Evento foi organizado para ter a participação de professores da Educação Básica e do Ensino Superior, estudantes da Educação Básica, estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, membros de coletivos sociais e representantes de entidades governamentais.
A expectativa dos organizadores do Evento é “consolidar e ampliar tanto a rede nacional como a rede internacional de investigadores, com destaque para o fortalecimento de uma rede latino-americana, criando um momento de interlocução entre academia, escola e movimentos sociais reunidos em torno da temática do commons, ciência e educação livres, abertas e cidadãs, em práticas de investigação e ação que articulem ciência-cultura-educação-criação.”
O III Seminário Internacional Conexão Escola-Mundo dá continuidade ao projeto interinstitucional e internacional de pesquisa e de comunicação científica, Conexão Escola-Mundo: criação de espaços inovadores para a formação cidadã, que teve apoio do CNPq e foi desenvolvido entre 2018 e 2022, mediante as parcerias das UFBA e de Santa Catarina UFSC, em conjunto com a Universidade de Barcelona, Espanha.
Para mais informações sobre o III Seminário, visite o site do Evento ou entre em contato com os organizadores por meio do e-mail do Projeto Escola-mundo.
A seção Pensar faz bem! traz para os leitores reflexões de diversas áreas do saber, vinculados à cultura e ao cotidiano. Uma parte significativa dos textos Pensar faz bem! é fruto das leituras que fazemos para construção dos artigos, crônicas e resenhas aqui publicados. O pensamento da quinzena é de Airton Krenak Boas reflexões!
A questão é estender o debate para além da ideia de direitos humanos: os direitos da natureza. O que está se discutindo agora é o direito da natureza, não porque já se conseguiu atender toda a lista de demandas dos direitos humanos, mas porque é impossível atender aos direitos humanos sem atender ao direito da natureza, da Terra. Não é em outro lugar que vamos tirar esses recursos para a gente continuar vivendo. Airton Krenak, em entrevista a Tainá Aragão, do Instituto Socioambiental (ISA)
Hoje faremos uma breve leitura de Vidas secas, romance de Graciliano Ramos, escritor brasileiro, que viveu no século XX. O livro que tenho em mãos foi lançado pela editora Principis (São Paulo) em 2024.
Vidas secas trata da vida de uma família de camponeses, sem terra, que migra pelas regiões secas nordestinas atrás de comida, moradia, trabalho, dinheiro, lazer, espiritualidade; enfim, todas essas coisas que um grupo familiar deseja.
A história se desenrola por meio da jornada feita pela família de camponeses na tentativa de sobreviver frente às adversidades climáticas e sociais próprias das comunidades nordestinas brasileiras que vivem no campo.
Os capítulos que narram a referida jornada da família de camponeses são intercalados por lapidares momentos que tratam de descrever os personagens que compõem a história, uma feliz opção de organização narrativa feita pelo autor. Não vamos aqui detalhar cada modo de ser dos personagens, para que o leitor não perca o prazer de ler a obra, mas é possível trazer alguns trechos do livro, como estímulo ao acesso direto ao texto original. Vamos aos trechos?
Personagens de Vidas secas por Graciliano Ramos
Fabiano
Estava escondido no mato como tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca, andaria com a cabeça levantada, seria homem.
– Um homem, Fabiano
Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro. Não, provavelmente, não seria homem: seria aquilo mesmo a vida inteira, cabra governado pelos brancos, quase uma rês na fazenda alheia.
Vidas secas secas, p. 18-19
Sinha Vitória
Sentou-se na janela baixa da cozinha, desgostosa. Venderia as galinhas e a marrã, deixaria de comprar querosene. Inútil consultar Fabiano, que sempre se entusiasmava, arrumava projetos. Esfriava logo – e ela franzia a testa, espantada; certa de que o marido se satisfazia com a ideia de possuir uma cama. Sinha Vitória desejava uma cama real, de couro e sucupira, igual à de seu Tomás Bolandeira.
Vidas Secas, p. 35
O menino mais novo
Retirou-se. A humilhação atenuou-se pouco a pouco e morreu. Precisava entrar em casa, jantar, dormir. E precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar cabras a mão de pilão, trazer uma faca de ponta à cintura. Ia crescer, espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru.
Vidas Secas, p. 40-41
O menino mais velho
Ele, o menino mais velho, caíra no chão que lhe torrava os pés. Escurecera de repente, os xiquexiques e os mandacarus haviam desaparecido. Mal sentia as pancadas que Fabiano lhe dava com a bainha da faca de ponta.
Vidas Secas, p. 40-41
Baleia
Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se esponjariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás gordos, enormes.
Vidas Secas, p. 69
O soldado amarelo
De repente notou que aquilo era um homem e, coisa mais grave, uma autoridade.
(…)
O soldado, magrinho, enfezadinho, tremia.
(…)
O soldado encolhia-se, escondia-se por trás da árvore.
(…)
Por que motivo o governo aproveita gente assim? Só se ele tinha receio de empregar tipos direitos. Aquela cambada só servia para morder as pessoas inofensivas. Ele, Fabiano , seria tão ruim se andasse fardado? Iria pisar os pés dos trabalhadores e dá pancada neles?
A seção Pensar faz bem! traz para os leitores reflexões de diversas áreas do saber, vinculados à cultura e ao cotidiano. Uma parte significativa dos textos Pensar faz bem! é fruto das leituras que fazemos para construção dos artigos, crônicas e resenhas aqui publicados. O pensamento da quinzena é de Karl Marx Boas reflexões!
Os filósofos apenas interpretaram o mundo de maneiras diferentes; o que importa, contudo, é transformá-lo.
Karl Marx e Friedrich Engels, em A ideologia alemã, p. 91
Uma das coisas que mais fazemos na vida é a atividade de leitura. Desde a nossa vivência útero até a velhice estaremos descobrindo alguma coisa do mundo por meio da leitura.
Mas a leitura não se resume apenas à leitura do mundo e à leitura de textos, mas se expande como prática social, alcançando múltiplas formas, como a leitura de imagens, de vídeos e, hoje, a leitura de códigos digitais.
Fui descobrindo a leitura de textos bisbilhotando a pequena biblioteca do meu pai. Ele tinha uns 20 livros de capa dura, a maioria sobre assuntos da área de saúde, que ficavam em uma pequena mesa no canto da sala. Eu ainda não sabia ler, mas fiquei fascinado com aqueles pequenos registros que ocupavam a página e, para mim, ampliavam o mundo, trazendo coisas que eu desconhecia.
Aqueles livros criaram em mim uma vontade de ir para a escola para aprender a ler e escrever. Foi na escola que encontrei dois colegas que me fascinaram pelos hábitos que eles tinham de ler. Um deles vivia durante o intervalo na biblioteca, procurando coisas para ler, enquanto a outra colega ficava lendo a cada semana um novo livro, no intervalo, muitas vezes na sala de aula durante o intervalo.
Se todos iam brincar no intervalo, por que eles tinham aqueles hábitos tão peculiares? Não sabia eu que a leitura também é uma forma de brincadeira.
Lembro que a maioria dos estudantes lia com interesse em obter boas notas, mas só isto, mas os dois colegas tinham prazer em ler tudo o que aparecesse.
Em casa, meu pai e meu tio, sempre que era possível, traziam revistas usadas do trabalho. Meu tio trabalhava em uma empresa de transporte intermunicipal. Lá os passageiros esqueciam várias revistas que depois eram descartadas no lixo. Meu tio, sabendo do meu interesse por leitura, catava a maioria e trazia para mim. Já meu pai era zelador de um prédio em área nobre de Salvador e recebia dos patrões diversas revistas usadas, que as crianças do prédio haviam lido e não se interessavam mais.
No meu primeiro emprego comprei o primeiro número da coleção Literatura Comentada, da editora Abril, e tive oportunidade de ler textos sobre Gilberto Gil e Álvares de Azevedo. A partir daquele primeiro número, busquei novos livros da coleção, o que me ajudou bastante a conhecer um pouco da cultura brasileira letrada. Daí em diante, passei a comprar livros para leitura e consulta até chegar ao acervo que tenho hoje.
Junto com a leitura de textos, fui aprendendo a ouvir músicas nas primeiras rádios FM dos anos 1970, ir ao cinema e teatro, o que ampliou mais minha vontade de ler. A leitura é um processo que leva a vida toda!
Passei por algumas situações bem interessantes sobre o processo de leitura. Certa vez recebi um amigo em casa, e ele pasmado com a quantidade de livros nas estantes, perguntou se eu já havia lido todos aqueles livros. Tive de explicar a ele que alguns livros servem para consulta, mesmo não sendo dicionários, mas que aquilo não tirava a importância de tê-los em casa. Em outro momento, uma colega de trabalho me confidenciou que havia tanta coisa para ler que não haveria tempo suficiente para a leitura durante a vida. Fiquei comovido com aquilo, uma vez que é um tipo de sentimento que também compartilho. Por último encontrei uma colega do tempo da escola no ensino fundamental que me confidenciou que acorda cedo para fazer a leitura diária e que tem o hábito de ler mais de um livro ao mesmo tempo sobre assuntos diferentes. Enquanto ela falava, meus olhos brilharam, pois tenho um hábito bem parecido há anos e como foi bom reconhecer alguém que comunga do mesmo hábito.
Procuro ler por meio dos mais diversos formatos, sejam eles papel, telas eletrônicas de computadores, aparelhos de livros eletrônicos, tablets, smartphones ou TV. Tudo é motivo para a prática da leitura.
Falta tratar de um último tipo de leitura que venho me dedicando nos últimos anos que é o de ler códigos computacionais. fico fascinado como o humano criou linguagens para que nós humanos nos comuniquemos com as máquinas. Pois é, não sei programar como fazem os cientistas da computação, mas busco entender como os algoritmos funcionam e como eles influenciam a vida cotidiana. Este é o meu atual desafio de leitura.
Estas são algumas das vivências que tive e tenho com as leituras que atravessam a vida cotidiana. É assim que vou descobrindo mais e mais coisas sobre o mundo em que vivemos por meio dessa prática tão deliciosa chamada leitura.
A seção Pensar faz bem! traz para os leitores reflexões de diversas áreas do saber, vinculados à cultura e ao cotidiano. Uma parte significativa dos textos Pensar faz bem! é fruto das leituras que fazemos para construção dos artigos, crônicas e resenhas aqui publicados. O pensamento da quinzena é de John Thompson. Boas reflexões!
Nós pressupomos, com outras palavras, que existe uma distinção entre provar uma interpretação e impô-la a outros, ou ser imposta sobre nós. Provar é apresentar razões, fundamentações, evidências, elucidação; impor é afirmar ou reafirmar, forçar outros a aceitar, silenciar os questionamentos ou as discordâncias. Provar é tratar o outro como uma pessoa capaz de ser convencido; impor é tratar o outro como uma pessoa que deve ser submetida. Esta distinção sugere que uma interpretação seria justificada somente se ela pudesse ser provada sem ser imposta.
John Thompson, em Ideologia e cultura moderna, p. 411.