Os 90 anos de Eduardo Coutinho

Os 90 anos de Eduardo Coutinho
Os 90 anos de Eduardo Coutinho

Para quem se interessa por documentários, a plataforma Itaú Cultural (IOS ou Android) fez uma homenagem aos 90 anos de Eduardo Coutinho, caso ele estivesse vivo. O cineasta nasceu em 11 de maio de 1933 e faleceu em 2 de fevereiro de 2014.

Coutinho é considerado um dos maiores cineastas brasileiros de documentários. Ele consegue construir uma narrativa que articula ficção e não ficção que cativa o espectador, contando histórias sobre a vida cotidiana brasileira. 

Na homenagem é possível assistir a seis significativos filmes do autor:

. Jogo de Cena (Rio de Janeiro, 2007, 105 mim), onde mulheres narram as próprias experiências de vida. Um diferencial deste documentário é a participação de atrizes brasileiras que encenam algumas das entrevistas;

. O fio da memória (Rio de Janeiro, 1991, 120 min), um olhar sobre a história da escravidão no Brasil, entrecruzando o passado e o presente;

. Edifício Master (Rio de Janeiro, 2002, 110 min), com depoimentos de moradores de um condomínio de uma cidade grande;

. Cabra marcado para morrer (Pernambuco, 1984, 120 min): por meio da história de um camponês, a narrativa conta também um pouco da história brasileira durante o período da ditadura econômico-militar;

. Santo Forte (Rio de Janeiro, 1999, 82 min): uma viagem pelas formas de manifestações religiosas no Brasil;

. Peões (São Paulo, 2004, 85 min): narrativa sobre a vida de trabalhadores migrantes no Brasil;

Se você aprecia as coisas da vida cotidiana e a forma como as pessoas da cultura comum constroem a própria história , visitar as obras de Eduardo Coutinho pode ser uma experiência significativa. 

Se aprecia boas entrevistas, terá oportunidade de conhecer as habilidades desse grande cineasta de fazer as pessoas narrarem histórias, soltas e leves, sendo elas próprias.

As obras de Coutinho são análises histórico-sociais sem ele ser cientista social; ensaios culturais sem ele ser antropólogo, psicanalistas sem ele ser um psicanalista, uma fonte de deleite e aprendizagem.

Caso você deseje mais informações sobre Eduardo Coutinho, leia o artigo publicado na Le Diplomatique Brasil em homenagem aos 90 anos do cineasta brasileiro.

Até a próxima!

Descubra um pouco de Eduardo Coutinho por você mesmo


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Pensar com Brian Davies

Pensar com Brian Davies
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Todo sujo de graxa

Flor Graxa (Hibisco)
Flor Graxa (Hibisco)

Ainda criança, antes de ir para uma escola de educação formal, aprendi as primeiras coisas da escrita com as professoras que tinham escola dentro de casa. Quando não estava na escola, gostava de ir para a casa da minha avó para brincar com os meus primeiros que lá moravam. Era uma sensação tão boa quando minha mãe anunciava que a gente iria passar o dia na casa de minha avó.

No início minha mãe nos levava até a casa de nossa avó e depois voltava para casa. Mas com o tempo ela foi nos ensinando a atravessar a pista da BR 324 para que aos poucos a gente pudesse ter autonomia de nos locomover. O movimento era assim: ela ia até a pista e atravessava a pista segurando a minha mão e a de minha irmã. Tempos depois, ela ia até a margem da BR com a gente, esperava não vir nenhum carro no horizonte da alta estrada e orientava para que atravessássemos a pista de mãos dadas. Na volta, a gente chegava na frente da BR e ficava esperando ela aparecer na janela para vir nos buscar. Certo dia, de ousados, atravessamos a pista na volta e ela levou o maior susto. Procuramos consolá-la informando que seguimos todas as orientações que ela havia nos ensinado. Naquele tempo a BR 324 era muito vazia, pois pouca gente viajava de carro; nos domingos, era um ermo só. Tudo era solidão naquele asfalto e parecia que todo mundo resolvera descansar no mesmo tempo.

Mas tão gostoso quanto chegar à casa da avó era curtir o caminho que levava nossa casa até o destino, no momento em que a gente passava na frente da Escola Reitor Miguel Calmon, administrada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). No prédio havia uma cerca de grades de ferros resistentes, que dava a impressão de que quem estivesse fora da escola nunca poderia lá entrar. As grades eram ornamentadas de várias plantas, mas a planta que mais chamava atenção era a Graxa. Aquelas folhas verdes que rodeavam flores vermelhas eram muito significativas para mim. Aqueles ornamentos significavam que um dia eu estaria dentro da escola, brincando pelos corredores, jogando bola, correndo no parque. Aquele realmente era o ponto central do passeio, era o sonho de mudar de vida.

Como menino curioso, eu tocava nas flores, tirava umas pétalas e, às vezes, levava algumas para casa. Minha mãe ficava irritada, pois eu chegava em casa todo sujo dos resíduos das graxas e aqueles pozinhos eram difíceis de tirar. Eu nem me importava com as reclamações, o que queria mesmo era me sentir embriagado com o colorido daquelas plantas.

Estudei oito anos no Sesi, fiquei adolescente e fui esquecendo daqueles momentos tão pueris. Segui por outros caminhos, bem distantes da beleza daquela planta maravilhosa.

Anos mais tarde, em um supermercado, deparei com um chá avermelhado, cujo nome era hibisco. Analisei o rótulo e resolvi levar para casa. Tomei o chá e me identifiquei muito com aquele sabor. Passei a pesquisar mais sobre aquela planta e descobri que o  hibisco na verdade era a própria graxa. Aquilo foi uma alegria para mim e uma volta ao passado, ao tempo de liberdade e descoberta das coisas boas da vida. Procurei nas ruas e avenidas perto de casa e não encontrava mais a graxa. No lugar dela a sociedade havia adotado outras plantas para ornamentar as praças e frentes de casas e prédios. Dias desses indo a pé a um supermercado da vizinhança, vi um pé de graxa. Fiquei surpreso com o acontecimento e pus a tirar fotos daquela relíquia.

Quanto ao chá, bebo com frequência, é gostoso mesmo, principalmente quando a gente adiciona um pouco de limão. Dizem que o hibisco tem muitas propriedades nutritivas e que proporciona muitos benefícios para a saúde das pessoas. O que posso testemunhar aqui é somente o sabor e a beleza de uma flor que muitas vezes passa despercebida na vida cotidiana.

Precisava fazer outros registros sobre a graxa, além da fotografia, e resolvi escrever estas memórias para compartilhar com você, leitor. E quem quiser que conte outra.

Até a próxima!


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Pensar com Álvaro Vieira Pinto

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O Reggae invadiu a Bahia

Documentário Reggae Resistência
Documentário Reggae Resistência

Cecília Amado vem se dedicando ao cinema há algum tempo. O leitor lembra do filme de ficção Capitães da Areia, uma adaptação do romance de Jorge Amado? Mas Cecília Amado não ficou somente na narrativa audiovisual de ficção e produziu e dirigiu em 2023 o documentário Reggae Resistência, tendo como parceiro Pablo Oliveira.

Reggae Resistência faz um mapeamento do movimento reggae no estado da Bahia, circulando entre Salvador, Cachoeira e Feira de Santana, de Feira de Santana para radiografar a cena Reggae por meio de diversos depoimentos de artistas e produtores que narram a origem e história de luta desse movimento artístico no estado da Bahia. O Reggae é originário das terras jamaicanas, mas foi muito bem acolhido nas terras brasileiras.

É assim que artistas, ativistas, produtores e admiradores que serviram para o desenvolvimento da cultura reggae na Bahia vão contando uma história que já chega aos 40 anos de muita caminhada, espalhando-se por todas as terras da Bahia de São Salvador. A fila de contribuintes históricos é grande: gentes e instituições como Edson Gomes, Nengo Vieira, Lazzo Matumbi, Jorge Alfredo, Gilberto Gil, Jeremias Gomes, Sine Calmon, João Teoria, Diorina, Nelma Marks, Jorge de Angélica, Serginho Nunes, Jôh Ras, Diamba, Mosiah, Alumínio e Ministério Público, Jussara Santana, Albino Apolinário, Rafael Costa louvam em uníssono coro em favor da música reggae da Bahia.

O Reggae invadiu a Bahia ainda na década de 1970 a partir de muitos acontecimentos, como a gravação de Nine of ten, de Caetano Veloso, a ida de Gil e Caetano à África, que quando voltaram para o Brasil iniciaram um processo criativo de maior influência africana. A viagem de Gilberto Gil à Jamaica, que deu origem ao ao Kaya na Gandaia, a luta dos cidadãos comuns vindos do povo, que insistiam em comprar discos de Reggae em um contexto de mídia que virava as costas para as músicas do terceiro mundo. O próprio repertório contido na discografia de Gil foi constante em inserir Reggae como marca da produção. As comunidades de Feira de Santana e Cachoeira contribuíram sobremaneira a existência de público distinto que valorizava o legado artístico-cultural vindo da África, que não era restrito somente à cena musical, mas se estendia  na culinária, na moda e no modo de existir e resistir desse povo.

 Mas o leitor deve estar curioso para saber quem foi toda essa gente, formada de artistas, ativistas, produtores e entusiastas (acima listados), que ajudou no processo de revolução na cultura da Bahia. Ora, ora, o jeito é assistir ao documentário e desfrutar de uma história contada pelos próprios homens e mulheres históricos que estiveram lá nas origens e que ainda continuam em luta contra o colonialismo cultural. É isto, O Reggae é resistência e invadiu a Bahia.

Até a próxima!

Dados da Obra
O que é? Reggae Resistência [documentário]
Quem dirigiu? Cecília Amado e Pablo Oliveira
Quem produziu? Tenda dos Milagres
Como faço para assistir?  Nos cinemas
Ou acompanhe a programação na TVE Bahia

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Pensar faz bem com Dante Galeffi

Pensar faz bem com Dante Geleffi
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