Um mapa da internet brasileira

TIC Domicílios 2022
TIC Domicílios 2022

O Brasil, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2022, possui 15 milhões de domicílios sem acesso à internet, o que atinge um contingente de 36 milhões de cidadãos. Do total de cidadãos sem acesso à internet, 29 milhões residem na zona urbana, a maioria tem até o ensino fundamental; 21 milhões são de pessoas não brancas; 27 milhões são oriundas das classes C, D e E. Outro dado interessante é que 92 milhões de brasileiros ainda acessam a internet somente pelo telefone celular. Este é um retrato dos sem acesso ao digital dentro da sociedade brasileira.

A coleta de dados para a pesquisa TIC Domicílios 2022 foi realizada em domicílios particulares permanentes com pessoas com 10 ou mais anos de idade, no período de junho a outubro de 2022, e teve como objetivo medir posse, uso, acesso e hábitos da população brasileira em relação às TIC. O trabalho abrangeu 23.292 domicílios, com 20.688 cidadãos que responderam à pesquisa. As informações globais abrangidas no estudo são uso da internet; habilidades digitais, uso de computador e celular e interação em comércio eletrônico.

Os resultados da pesquisa foram apresentados no dia 16 de maio de 2023. Segundo a TIC Domicílios 142 milhões de pessoas fizeram uso diário ou quase diário da internet no Brasil e 67 milhões fizeram compras on-line.

O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do NIC.br, realiza desde 2005 a TIC Domicílios, completando em 2023 18 anos de trabalho intenso de mapeamento das condições de usos da internet no Brasil.

Segundo o Cetic.br, a Instituição visa contribuir para “o desenvolvimento da internet no Brasil e para a construção de políticas públicas de inclusão digital. Além disso, permite que outros pesquisadores investiguem como a tecnologia pode beneficiar a vida das pessoas.”, ou seja, há rico acervo disponível para que a sociedade se conheça quando o assunto é sobre mediações sociotécnicas no digital e, quem sabe, atue de forma a lutar para a diminuição das assimetrias sociais quanto à cidadania no digital no país.

Conheça mais sobre o TIC Domicílios no site Cetic.br.

Até a próxima!


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Crise de civilidade, educação e democracia

Crise de civilidade, educação e democracia
Crise de civilidade, educação e democracia

Os atos antidemocráticos pós-eleições brasileiras em 2022 têm ocasionado um incômodo social, sobretudo nas redes digitais, por expor nossos resquícios bárbaros. Mas deixamos um dia de praticar barbaridades? Enquanto no Brasil mais de 30 milhões de pessoas afundam na linha de pobreza, uma outra onda de incivilidade, alicerçada por práticas correntes de xenofobia, atos antidemocráticos contra o processo eleitoral, racismo, discursos de ódio, desinformação e cancelamentos cresce nas ruas e nos espaços digitais após o resultado das eleições.

Os males aqui assinalados não devem ser atribuídos a crises como a da pandemia do coronavírus ou ao processo eleitoral em si, pois os sintomas da incivilidade são de datas bem remotas, que vão das práticas de escravização à destruição das culturas autóctones nos períodos colonial, imperial e republicano. A barbárie no Brasil atravessa diversas esferas, das Entradas e Bandeiras ao desmatamento das florestas tropicais; do assédio no trabalho ao assédio nas eleições.

Na história da humanidade, a incivilidade não ocorreu de forma diferente: do processo de colonização destrutiva, alcançamos as guerras mundiais; do fascismo e do nazismo alcançamos o apartheid, processos históricos esses que tanto mal ocasionaram ao mundo nos últimos séculos.

Mas é preciso lembrar que simultaneamente a esses embates de incivilidade, muitas vozes se lançaram em favor da construção de um mundo mais plural e democrático. No século XX, pensadores como o filósofo alemão Theodor Adorno se pronunciaram contra a incivilidade na perspectiva da construção de uma Educação contra a barbárie, uma educação para emancipação das pessoas, ou seja, desbarbarizar a incivilidade.

Na segunda metade do século XX, o educador Paulo Freire defendeu práticas pedagógicas dialógicas voltadas para a autonomia do cidadão. É necessário ressaltar que a dialogicidade é fundamental para a discussão democrática e para o enfrentamento de práticas sociais como discursos de ódio, desinformação e cancelamentos, pois quando conversamos com o outro, precisamos considerá-lo como um ser pensante e com autonomia suficiente para lidar com as controvérsias sociais próprias de uma sociedade em construção como é a brasileira.

Quanto à democracia, Anísio Teixeira, educador e gestor público, já propunha, na década de 1940, uma educação para democracia e para a justiça social. Para o filósofo, a Educação em si já seria um construto social de democracia e ambas poderiam ser articuladas em benefício de uma convivência respeitosa entre as pessoas.

Frente aos reclames pela incivilidade deste período pós-eleições no Brasil, retomar os ideários de pensadores como Theodor Adorno, Paulo Freire e Anísio Teixeira é fundamental e investir em uma educação contra a barbárie talvez seja nosso maior e mais necessário ato de civilidade.

Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde [impresso], seção Tempo Presente, em 23 de dezembro de 2022

Até a próxima!


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Entre autoria humana e o processamento computacional

Autoria Humana e Processamento Computacional
Autoria Humana e Processamento Computacional

Precisei fazer a operação matemática  abaixo e recorri a um aplicativo de cálculo 

185 X 12 = 2.220

Pergunta: posso usar o cálculo acima em textos autorais ou devo dá o crédito ao aplicativo de cálculo?

E se eu fizesse um gráfico de barras com base nos dados abaixo? O gráfico é de minha autoria ou eu teria de dar crédito ao aplicativo de planilha que formatou a imagem para mim, já que não fiz o gráfico de forma inteiramente manual?

Tabela 1:
Produto	Valor
Carro1		12 000,00
Carro2		15 000,00
Carro3		13 500,00
Carro4		22 000,00

A partir da tabela, criei com a ajuda de um aplicativo de planilha o gráfico abaixo. Com o gráfico pronto, alterei o título e mudei cores das barras.

Tabela de Carros
Tabela de Carros

De quem é a autoria do gráfico acima, se foi o algoritmo que realizou a maior parte da materialização da ilustração?

Depois, por curiosidade, fiz a seguinte tradução:

Do português: 

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura

Para o inglês:

Soft water on hard stone so much hits until it pierces

Toda vez que preciso fazer tradução de um resumo de artigo, por exemplo, faço a tradução manual primeiro, depois traduzo por meio de algum aplicativo; por último, reviso o texto traduzido manualmente, com base na solução algorítmica e na minha experiência com o conteúdo em tradução.

Seria necessário eu dar o crédito ao aplicativo de tradução também?

Como fica a questão da autoria com o advento da inteligência artificial ChatGPT que produz pequenos textos como  atas, relatórios e poesias, constrói imagens e interage com linguagem de programação?

Teremos de dar crédito a esses objetos técnicos? E a nossa cultura algorítmica de cada vez mais delegarmos a objetos técnicos a realização de coisas que antes eram feitas por nós humanos? Precisaríamos atribuir autoria também a muitas coisas que fizemos antes com a ajuda desses objetos?

Vai ser preciso acompanhar de perto essas discussões, pois há muito o que aprender com os próximos capítulos da celeuma existente entre a autoria humana e o processamento computacional.

Até a próxima!


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