De manifestação em manifestação, o Brasil vai se desconstruindo como nação

De manifestação em manifestação
De manifestação em manifestação

A palavra manifestação assume muitas vezes sentidos positivos, como algo que provoca rupturas sociais ou contribui para promover mudanças significativas na sociedade.

Há também as  manifestações que provocam divergência entre as pessoas, como as que acontecem por meio de barreiras nas estradas para defesa de direitos básicos de uma comunidade ou mesmo aquelas oriundas de invasões e ocupações de espaços públicos. 

Mas há manifestações que não recebem o atributo de manifestação, mas que mudam a ordem social de uma dada época, alterando os rumos da história de um país. 

Vou fazer um exercício de memória histórica, como cidadão, de coisas que presenciei ou aprendi na escola, que considero como manifestações de poder e de ordem que interferiram sobremaneira na vida dos brasileiros durante a nossa existência como nação. 

A primeira manifestação que vem à memória é a Carta de Pero Vaz de Caminha. Nela o português revela para a corte portuguesa o que havia de riquezas nos recursos naturais da nação brasileira e inaugura uma jornada de saque transcontinental que dura até hoje.

Depois veio o célebre Dia do Fico, no qual um português se manifestou preocupado com o destino do Brasil-Colônia e declarou que permaneceria por aqui para ajudar na construção nacional. Tempos depois, a promessa manifestada com um “Diga ao povo que fico” não se consolidou, e o colonizador português abandonou de vez as terras brasileiras.

Mas antes de abandonar o Brasil, Dom Pedro I, o português do parágrafo anterior, ainda foi protagonista de outra manifestação, também célebre, por meio do grito “Independência ou Morte”, que segundo ele ratificava a separação entre os colonizadores portugueses e os colonizados brasileiros. Mas aquela declaração (ou manifestação) não se concretizou em ações também, pois os brasileiros tiveram que continuar lutando pela independência do Brasil de setembro de 1822 a julho de 1823 em prol da independência brasileira de fato.

D. Pedro I, ainda, na condição de imperador brasileiro, constituiu o poder Moderador, que estava acima dos poderes tradicionais (Executivo, Legislativo e Judiciário). Iniciava-se aqui a política do “manda quem pode”…

Depois de se cansar de tanta manifestação, D. Pedro parte para Portugal. 

Com a ida de Dom Pedro I para Portugal, emerge outra manifestação histórica: a declaração de maioridade de D. Pedro II ainda no início da adolescência. Como um país poderia ser regido por um infante? Esta é uma pergunta para um trabalho de arqueologia histórica.

Anos mais tarde, é promulgada a Lei Áurea, uma manifestação que visava conceder direitos aos homens e às mulheres advindos das terras africanas. A declaração da Lei Áurea já tem mais de 200 anos, e a população afrodescendente até hoje luta pela equidade quanto aos direitos básicos de cidadania.

Apenas um ano depois da Lei Áurea, outra manifestação histórica sobreveio: a da Proclamação da República: os militares se aproximariam do poder e não o abandonariam mais. 

Anos depois, uma parcela da população brasileira foi às ruas em defesa da pátria, da ordem e da família, e o Brasil mergulhou em outra manifestação chamada de “Revolução de 1964”, um golpe militar, político e empresarial, que até hoje traz repercussões para a nação brasileira.

Mas as manifestações por golpe de Estado não terminaram com os movimentos dos anos 1960. Em 2016, um grupo articulado de políticos, empresários e parte da sociedade brasileira criou uma manifestação, cujo slogan foi “Tchau, Querida!”. Aqui o golpe foi regado a humor, a desinformações e a selfies intermitentes.

Com o golpe, um novo representante nacional vai a público declarar que veio para “desconstruir”. Floresce de todo lado tudo que lembra relativismo, intolerância, desinformação, negacionismo, discurso de ódio, pseudociência, necropolítica e discriminação.

E o que estas manifestações têm em comum? Elas são manifestações de poder, de quem está no controle e dita os caminhos da continuidade do estabelecido. As manifestações também servem como instrumento de manutenção de privilégios e benefícios para determinados públicos e freios contra ações que possam tentar diminuir as injustiças e desigualdades sociais, políticas, culturais, jurídicas e educacionais existentes em uma determinada sociedade.

E assim, de manifestação em manifestação, o Brasil vai se construindo (ou se desconstruindo) como nação.

Até a próxima!

Este artigo foi publicado originalmente na seção Lugar de Fala da revista Cult em 24 de setembro de 2021.

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Lançamento do e-book Mestres do Amanhã

Capa e-book Mestres do Amanhã (propriedade Instituto Paulo Freire)

Dia 21 de outubro de 2021, o Instituto Paulo Freire (IPF) promoveu a Live de Lançamento do E-Book do Curso Mestres do Amanhã – Edição 2021. O e-book contém artigos que foram produzidos durante o curso da EaD Freiriana do Instituto Paulo Freire (turmas de 2020 e 2021) e teve a organização de Janaina M. Abreu e Paulo Roberto Padilha.

No e-book o leitor encontrará discussões a partir da filosofia de Paulo Freire em torno de temas como currículo, avaliação, linguagem, cidadania, formação de educadores, tecnologias, gestão pública, educação física, ecopedagogia, escrita, trabalho, política, educação popular, extensão universitária, artes, cultura, uma obra transdisciplinar que traz o vigoroso pensamento do patrono da educação brasileira. 

Neste centenário de nascimento de Paulo Freire, o livro é um convite para a continuidade das ideias de Freire na educação deste milênio e dos próximos milênios na perspectiva de promover os mestres do amanhã.

Também colaboramos com a escritura do livro com a publicação do artigo Interlocuções entre a Pedagogia da Autonomia e a cultura hacker e trouxemos o resumo do artigo para o leitor apreciar um pouco o que foi discutido no texto.

Resumo do artigo Interlocuções entre a Pedagogia da Autonomia e a cultura hacker

O artigo analisa a obra Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, quanto a práxis educacionais que defendem a convivência com liberdade de expressão para toda e qualquer pessoa, o direito à privacidade como fundamento das relações sociais e a autonomia como elemento fundante do desenvolvimento humano. A abordagem é baseada em estudo teórico, por meio de pesquisa bibliográfica que se circunscreve à concepção de educação na perspectiva da cultura hacker, com base em Peka Himenam e Nelson De Luca Pretto, e aos pressupostos filosófico-educacionais de Paulo Freire, a partir das ideias: Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando, Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível, Ensinar exige curiosidade e Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. A partir da análise feita, foi possível observar aproximações entre a concepção de educação em Paulo Freire quanto à Pedagogia da Autonomia e os modos de produzir cultura na perspectiva hacker.

Leia o e-book Mestres do amanhã: fazedores do futuro 

Assista ao vídeo de lançamento do e-book Mestres do Amanhã.

Até a próxima!





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Pensar faz bem com Stuart Hall

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Itinerário de um poeta em escrita incompleta

Poesias incompletas
Poesias incompletas

Enfim resolvi lançar o livro Poesias incompletas, intenção que já alimento faz alguns anos. A dificuldade de um iniciante em editoração de livros impressos, junto com o custo resultante de um projeto gráfico no impresso proporciona, resolvi navegar no mundo do livro digital e aí está a obra.

O livro foi lançado inicialmente na plataforma Amazon, mas estou organizando o material para lançamento na plataforma Apple.

Para o leitor do EPraxe vou deixar os poemas falarem por eles próprios.

Trechos do livro para você se apreciar:

O Luto

Em luto
Eu luto
E continuo de luto
Mas luto contra o luto
600 mil: um absurdo de luto

A chuva

Está chovendo
Mas eu sei que acima das nuvens
Existe um céu lindo cheio de estrelas e luar
O chover tem diversos significados:
A alegria do sertanejo no meio de uma seca
A criança que pula de felicidade nas poças d’água formadas pela chuva
O sofrimento dos desabrigados que não encontram agasalhos
Chove agora, e eu não sei qual o significado para mim.

Saudade

Sala vazia
Alma perdida
Uma noite fria
Dia sem brilho
A cama atormentada
Dúvidas...
Espera eterna

Visite a loja da Amazon para acessar Poesias incompletas. Lá você pode comprar o livro, ler uma amostra ou ler o livro por meio do programa da Loja de leitura ilimitada.

Até a próxima!


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