Uma reinvenção da esperança

Recursos da Esperança
Recursos da Esperança

Recursos da esperança é uma coletânea de ensaios feitos por Raymond Williams, em que o autor olha de forma crítica a cultura, a comunicação e a política.

Raymond Williams foi um intelectual galês, que passou boa parte da vida na Inglaterra e que teve uma produção científica na área social relevante para o que hoje chamamos de Estudos Culturais. Williams concedeu entrevistas, escreveu ficção, fez crítica literária e estabeleceu novas ideias para as discussões em torno dos rumos de uma teoria cultural, que não estava circunscrita à abordagem somente de problemas relacionados à cultura das elites, mas que se debruçava sobre a cultura do cotidiano, dos que estavam na base, em resistência às coerções do dia a dia do donos do poder. Williams foi um dos pensadores que ao analisar a realidade imergia em profundidade nas dinâmicas tanto da superestrutura, quanto da base, pontos fundamentais para entendimento do social.

Na coletânea o leitor se deparará com três ensaios, que se relacionam e dão uma ideia sobre o pensamento de Williams quanto à concepção de teoria cultural. São eles: A cultura é algo comum, Comunicações e comunidade e A ideia de uma cultura comum. Nos textos fica evidente a preocupação do autor em demonstrar como os acontecimentos do cotidiano se entrelaçam com os acontecimentos sociais mais abrangentes dando origem às questões históricas de uma época.

Em outro momento, Williams faz indagações prementes em torno dos inter-relacionamentos entre a teoria e a prática nos textos Por que me manifesto?, Você é marxista, não é?.

O escritor: engajamento e alinhamento e Arte: liberdade como dever são textos provocadores, para desestabilizar o interlocutor, mas, de longe, não se constituem momentos para destruir argumentos alheios, mas sim de construir pontes sobre projetos de vida, de construção de recursos de esperança.

Raymond Williams tem uma preocupação com a base, lugar onde se localizam os que não estão no poder, mas que, nem por isto, simplesmente se subordinam. Ele então tece comentários sobre A importância da comunidade e esmiúça os usos da linguagem, quando esta interfere nas dinâmicas do poder, em Garimpando o significado: palavras-chave na greve dos mineiros. É preciso muito fôlego para ler Raymond Williams.

E assim os textos vão fluindo em abordagens de assuntos como a da questão do trabalhismo, do desarmamento nuclear, das interlocuções entre o socialismo, a economia, a política e a ecologia, as dimensões do campo e da cidade; a possibilidade da existência dos múltiplos socialismos, do descentralismo na gestão pública, da autogestão nas diversas instâncias públicas até chegar a uma ideia de planejamento socialista.

No final do livro há uma entrevista concedida a Terry Eagleton, que foi aluno de Williams, intitulada A prática da possibilidade, um bate-papo aberto, pensando o passado, o presente e se preparando para o futuro.

O título do livro foi inspirado em um termo de uso recorrente de Raymond Williams: “Resources for a journey of hope”. Para um começo de ano como o de 2022, a leitura de Williams é mais que necessária. Que tal pensar um futuro diferente, com base em uma teoria, baseada no propósito de construção de uma vida alicerçada em Esperança?

Até a próxima!


Sobre a obra

O que é? Recursos da esperança – cultura, democracia e socialismo {livro impresso}
Quem escreveu? Raymond Williams
Quem foi o editor? Robin Gable
De que editora? Unesp
Quem traduziu? Nair Fonseca e João Alexandre Peschanski



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Pensar faz bem com Clarice Lispector III

Pensar faz bem com Clarice Lispector
Pensar faz bem com Clarice Lispector


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Retrospectiva 2021 – uma viagem pela leitura

Retrospectiva de leitura em 2021
Retrospectiva de leitura em 2021

Que tal rever o ano de 2021 em termos de leitura? Vamos lá!

  • Olhos D’Água, Conceição Evaristo: quando o mágico puxa nossos pés para o real
  • Vilém Flusser, uma introdução, de Gustavo Bernardo, Anke Finger e Rainer Guldin: fiquei impressionado com o texto de Anke Finger sobre Vilém Flusser e os estudos culturais
  • Gestos, Vilém Flusser: descobri novas questões a respeito de algo tão humano quanto são os gestos
  • O mundo dado, cinco breves lições de filosofia digital, de Cosimo Accoto: ah, esse digital rondando a nossa vida
  • Discurso e mudança social, de Norman Fairclough: aprender mais sobre os discursos e pensar maneiras de intervir na realidade
  • A era do capitalismo de vigilância, a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder, de Shoshana Zuboff: muito fôlego para tentar entender o mundo em que vivemos
  • Cultura da interface, de Steven Johnson: o que as interações mediadas por objetos técnicos tem a nos ensinar?
  • As teorias da cibercultura, perspectivas, questões e autores, de Francisco Rüdiger: ainda temos de aprender sobre a vida no digital
  • Big tech, a ascensão dos dados e a morte da política, de Evgeny Morozov: não sejamos ingênuos: é preciso lutar e se pronunciar no mundo da cultura digital
  • Políticas da imagem, vigilância e resistência na dadosfera: cuidado com as mil imagens!
  • Tecnodiversidade, de Yuk Hui: vivam as gambiarras e cresçam novas formas de saber sobre a técnica
  • Algoritmos de destruição em massa, como o big data aumenta a desigualdade e ameaça a democracia, de Cathy O’Neil: guiados, teleguiados ou inconformados: eis a questão!
  • A cidadania digital, a crise da ideia ocidental de democracia e a participação nas redes digitais, de Massimo Di Felice: teremos de reinventar a democracia?
  • Pós-história, vinte instantâneos e um modo de usar, de Vilém Flusser: em que mundo estamos?
  • Análise de discurso crítica para linguistas e não linguistas, de José Ribamar Lopes Batista Jr, Denise Tamaê Borges Sato e Iran Ferreira de Melo (organizadores): é possível dissociar o discurso do social?
  • Recursos da Esperança, de Raymond Williams: vivemos sem esperança? Construiremos a esperança de cada dia?

E aí, leitor? Como foi o ano de leitura para você?

Até a próxima!


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Pandemia, afetos e toques

Pandemia, afetos e toques
Pandemia, afetos e toques

Gente, o texto desta semana foi escrito com mais perguntas do que afirmações. É um texto de incômodo mesmo, pois envolve o futuro de todos nós.

Estamos no período de final de campeonatos, e os estádios estão liberados para receber os torcedores. Estes torcedores que estão cansados do processo de isolamento físico imposto pela pandemia do Coronavírus desde o início de 2020, pelo menos aqui no Brasil.

O que esperar de um torcedor que esteja no estádio e presencie um gol, daqueles tão esperados gols do time querido? Os torcedores se abraçam? Se beijam? Gritam alucinadamente?

Que dizer dos pancadões, dos encontros nos bares e dos espetáculos musicais e teatrais? As pessoas ficarão distantes o suficiente para evitar contaminação pelo Coronavírus?

E as crianças nas escolas? Que educação daremos para elas quanto às emoções a serem vivenciadas com os encontros com os outros colegas?

E os adolescentes? Não se abraçarão mais nem se beijarão até terem certeza que o enamorado não está contaminado?

E como serão as relações entre pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, e entre irmãos quando se encontrarem? Como deverão se comportar? Como trabalhar tantos sentimentos?

A pandemia é um problema de saúde, de política, de economia, mas também é um problema de sentimentos, que atravessa as emoções das pessoas, e não fomos criados nem mesmo educados para lidar com os sentimentos relacionados à proximidade física e ao toque.

O toque tem peso de ouro na cultura brasileira: as pessoas se aproximam quando estão em fila, elas gostam de dar um toque na outra quando estão conversando, dependendo da região de origem, e esses gestos influenciam demais na forma como vida cotidiana se realiza.

Quantos estranhamentos acontecem quando alguém pede a uma outra pessoa que use máscara ou mantenha uma distância segura nos encontros face a face. Quantos constrangimentos quando alguém resolve não abraçar ou beijar o outro com receio de ser contaminado. Os toques são hoje motivos de afetos e desafetos ao mesmo tempo.

De toda esta situação surgem novas perguntas quanto à convivência nos dias pandêmicos (será que viveremos um período pós-pandêmico?): 

Só podemos ser afetados pelo toque?

Não querer tocar o outro é sinal de desamor?

Os micro-organismos mudarão a cultura humana do toque?

De que formas conviveremos de agora em diante?

E como os enamorados irão se comportar?

Comecei o texto cheio de dúvidas e acho que as carregarei comigo durante um bom tempo.

Observação: optei por escrever a palavra Coronavírus sempre como inicial maiúscula, pois preciso sinalizar para mim o quanto esses entes não humanos orientam a vida aqui na terra. E este processo de conscientização vai demorar muito tempo para amadurecer.

Até a próxima!


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Pensar faz bem com Clarice Lispector II

Pensar faz bem - com Clarice Lispector 2
Pensar faz bem – com Clarice Lispector 2
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