O pensamento faz bem – Ecléa Bosi

Pensar faz bem!
Pensar faz bem – Ecléa Bosi
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Memórias do Axé Music – capítulo 5

EPraxe – Cultura & Cotidiano

Ligações entre os Doces Bárbaros e o Axé


Quem influenciou quem na música da Bahia? Os Doces Bárbaros (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa) foram seguidos pelos novos músicos baianos dos anos 1970-1980 ou os novos músicos baianos dos anos 1970-1980 foram seguidos pelos Doces Bárbaros?

É uma questão difícil de ser respondida. O que sei é que há muitos traços da nova música produzida na Bahia nos anos 1970-1980 e também há muitos traços nas músicas criadas e interpretadas por Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil naquele período.
Maria Bethânia sempre esteve próxima da música produzida no Recôncavo Baiano e das manifestações aproximadas com as matrizes religiosas afro-brasileiras. Não à toa, ela gravou Reconvexo, de Caetano Veloso, e Salve as Folhas, de Ildásio Tavares e Gerônimo, registros artísticos onde se percebem os nítidos traços da música baiana produzida na época.
Caetano Veloso e Gilberto Gil construíram canções fundamentais naquele período como, Marcha da tietagem, Filhos de Gandhi, Afoxé, de Gilberto Gil, e Atrás do trio elétrico e Badauê, de Caetano Veloso. Os dois compositores viveram muitos momentos nos desfiles das agremiações do carnaval da Bahia do período 1970-1980. Já vi Caetano Veloso em cima dos trios do Baiana System e Cortejo Afro. Gilberto Gil já andou muito pelas ruas de Salvador cantando com os Filhos de Gandhi. Gilberto Gil já cantou nos palcos do Ilê Aiyê, e Caetano Veloso foi intérprete de uma música do primeiro disco do Ilê.
Já Gal Costa lançou o icônico disco álbum Plural (RCA, 1990), com músicas como Salvador não inerte (Bobôco e Beto Jamaica), Ladeira do Pelô (Betão), Brilho de beleza (Nego Tenga) e Zanzando (Carlinhos Brown).
Haja fôlego para tanto intercâmbio!
O que sei e vivi foi testemunhar um casamento harmonioso e cheio de criatividade entre os Doces Bárbaros e os artistas do Axé Music.
Até a próxima parada!
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Encantos do Axé – Gilberto Gil

Encantos do Axé: Missinho
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Memórias do Axé Music – capítulo 4

EPraxe – Cultura & Cotidiano

Uma arqueologia da cultura africana no Brasil


Nos textos aqui criados está evidente uma preocupação em resgatar no movimento Axé Music as influências de matrizes africanas sobre a cultura baiana. É nada melhor do que trazer um pouco da produção fonográfica dos blocos afros e afoxés que tão bem fizeram uma arqueologia da cultura africana que foi ressignificada dentro da cultura baiana. O primeiro registro que traremos aqui é o do álbum Núbia Axum Etiópia, do Olodum. Vamos lá?


Um dos propósitos dos blocos afros desde os momentos iniciais em que foram concebidos era de cultivar a ideia de coletivismo entre os integrantes das agremiações afro-baianas, e isto ficou evidente no álbum Núbia Axum Etiópia, lançado em 1988 pela Continental. Era o ano dos 100 anos da promulgação da Lei Áurea, em que as desigualdades de toda ordem ainda continuavam atravessando a sociedade brasileira e que lutar ainda era preciso, segundo os princípios filosóficos do Olodum.
Para o leitor ter uma noção do sentido de coletividade no Olodum, Núbia Axum Etiópia foi construído envolto de contribuições de vários músicos, cantores e compositores, que produziram uma obra de arte com os olhos na África, em um ritmo que cruzada os sons afro-brasileiros com os da cultura jamaicana também, outra cultura que ressignificou a cultura africana.
No encarte do álbum, uma mensagem para os ouvintes, demonstrando o quanto de compromisso político havia nos artistas comprometidos com a música afro-baiana:
“Este disco é dedicado a Nelson Mandela, ao Movimento Negro Brasileiro, ao Maciel-Pelourinho, a Socialista Etiópia, a força e luz do Rastafarismo, a João Rodrigues da Silva (+), a nossa luta contra o racismo no mundo, contra o apartheid, pela paz mundial e contra todas as formas de guerra.”
Grupo Cultural Olodum
Ainda sobre a coletividade, além dos cantores e compositores, a banda do Olodum tinha como instrumentistas mestre Neguinho do Samba, na regência e nos timbales, Mapia, Dedezinho, Melo, Carranca e Nelson na marcação II, Fernando Macaé e Coroa na Marcação I, Long-Dong na caixa, Memeu, Ivan e Roseval no repique, Cristina Rodrigues, Alice, Euzébio Cardoso, Nego e Germano no coro, e Bira Reis, Euzébio Cardoso e Felipe Cavalieri nos efeitos (metais).
Para dar um gostinho do disco, trazemos abaixo um pouco dos conteúdos da letras, para o leitor se deliciar:
“O povo trazido do seio da África
Fez o Pelourinho virar páginas
Trouxeram o primeiro, o segundo e terceiro
E foram tantas cabeças que não sei contar a a a…
(..)
Espalharam o negro no mundo intereiro
Para, para para nos enganar á á á
(...)
Vai Olodum e ensina esse povo a lutar
Com seu canto forte Olodum
Esses guetos precisam acabar”
Em um outro momento:
“Aids se expandiu
E o terror já domina o Brasil
Faz denúncia Olodum Pelourinho
E lá vou eu..”

Querem saber quem eram os intérpretes e compositores de Núbia Axum Etiópia, gente?

MúsicaIntérpreteCompositor
Olodum cosmopolitaTonho MatériaTonho Matéria e Rey Zulu
Ranavalona (Bravuras malgaxes)Beto do CarmoMarcelo Gentil e Julinho
Olodum, a banda do PelôBeto do CarmoJaguaracy Esseerre
O poder da trindadeBetãoBetão e Jamoliva
Influências egípciasNêgoAdemário
Etiópia mundo negroBira ReisBira Reis
DenúnciaLazinhoTita Lopes e Lazinho
Tempos de criançaGermanoGermano
Lutar é precisoValmir BritoCaj Carlão
Negra lutaValmir BritoMarcelo Gentil e Bobôco
Protesto OlodumBetãoTatau
Banda reggae Olodum ritmosNeguinho do SambaNeguinho do Samba

Até a próxima parada!

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Encantos do Axé – Jorge Portugal & Lazzo Matumbi

Encantos do Axé: Missinho
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Memórias do Axé Music – capítulo 3

Memória do Axé Music é uma sistematização de experiências vividas durante os 40 anos do Axé Music, movimento cultural que aconteceu e ainda acontece na Bahia
EPraxe – Cultura & Cotidiano

Entre o elétrico e o percussivo no carnaval da Bahia


O movimento Axé Music sofre influência sobremaneira do intercâmbio entre a música de base eletrônica, via guitarra, principalmente guitarra baiana, e os elementos percussivos cujos ritmos eram oriundos da África.

Neste sentido, os Novos Baianos têm papel fundamental nessa mistura, pois foi nos primeiros acordes da guitarra de Pepeu Gomes e nas vozes de Paulinho Boca de Cantor, Baby do Brasil, inicialmente conhecida como Baby Consuelo, e Moraes Moreira, que os primeiros trios elétricos foram aos poucos desfilando ao som de vozes e instrumentos eletrônicos e percussivos.
Os Novos Baianos, apesar de pioneiros em jogar uma banda comum em um trio elétrico, não chegaram a gravar um álbum dedicado ao carnaval da Bahia, mas as experimentações deles em cima do trio elétrico influenciaram muito a efusão de bandas de Axé Music no carnaval baiano durante anos 1980-1990.
Quanto à efusão de cantores em cima de trios elétricos, misturando tudo, do galope ao baião, do frevo ao reggae, do samba de roda ao samba-reggae, é preciso destacar os trabalhos do Armandinho, Dodô e Osmar, registrados nos álbuns Eletrizando o Brasil, com participação especial de Moraes Moreira (Music Color, 1983) e Aí eu liguei o rádio (RCA, 1987), dois trabalhos fundamentais para quem deseja entender a transição dos trios elétricos de alto falantes para os trios elétricos com as modernas caixas de som que produziam um som de alta fidelidade. Nos dois trabalhos, é possível perceber o trânsito dos artistas entre a influência do frevo pernambucano no carnaval da Bahia, para a ressignificação do Ijexá, resultando em vários tons musicais e dando nova forma à música baiana.
Naquele momento a cultura baiana não ficava mais presa aos acordes do frevo nem aos batuques das escolas de samba. A cultura baiana ressignificava não somente o frevo e o samba carioca, construindo identidade musical própria como também trazia para os círculos musicais baianos as sonoridades do reggae, do baião, do rock e do galope, tal qual se faz uma feijoada em uma cozinha baiana: tudo misturado, mesmo quando as dinâmicas sociais, raciais e econômicas da época não estivessem favoráveis para as mudanças que se anunciaram naquela época.
Até a próxima parada!

Memórias do Axé Music - número 5
Ligações entre os Doces Bárbaros e o Axé
Quem influenciou quem na música da Bahia? Os Doces Bárbaros foram seguidos pelos novos músicos baianos dos anos 1970-1980 ou os novos músicos baianos dos anos 1970-1980 foram seguidos pelos Doces Bárbaros?
É uma questão difícil de ser respondida. O que sei é que há muitos traços da nova música produzida na Bahia nos anos 1970-1980 e também há muitos traços nas músicas criadas e interpretadas por Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil naquele período.
Maria Bethânia sempre esteve próxima da música produzida no Recôncavo Baiano e das manifestações aproximadas com as matrizes religiosas afro-brasileiras. Não à toa, ela gravou Reconvexo, de Caetano Veloso, e Salve as Folhas, de Ildásio Tavares e Gerônimo, registros artísticos onde se percebem os nítidos traços da música baiana produzida na época.
Caetano Veloso e Gilberto Gil construíram canções fundamentais naquele período como, Marcha da tietagem, Filhos de Gandhi, Afoxé, de Gilberto Gil, e Atrás do trio elétrico e Badauê, de Caetano Veloso. Os dois compositores viveram muitos momentos nos desfiles das agremiações do carnaval da Bahia do período 1970-1980. Já vi Caetano Veloso em cima dos trios do Baiana System e Cortejo Afro. Gilberto Gil já andou muito pelas ruas de Salvador cantando com os Filhos de Gandhi. Gilberto Gil já cantou nos palcos do Ilê Aiyê, e Caetano Veloso foi intérprete de uma música do primeiro disco do Ilê.
Já Gal Costa lançou o icônico disco álbum Plural (RCA, 1990), com músicas como Salvador não inerte (Bobôco e Beto Jamaica), Ladeira do Pelô (Betão), Brilho de beleza (Nego Tenga) e Zanzando (Carlinhos Brown).
Haja fôlego para tanto intercâmbio!
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