O pensamento faz bem – Sérgio Amadeu

Pensar faz bem!
Pensar faz bem! – Sérgio Amadeu
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Ao vencedor, as batatas

Ao vencedor, as batatas

Ao vencedor, as batatas é um jargão usado por Machado de Assis no romance Quincas Borba. O romance é multifacetado e traz discussões sérias sobre a natureza humana, cuja capacidade de dissimulação parece não ter limites e nos engana para ganhar sempre mais, e nisso acabam todos perdendo.

Isto me traz uma certa melancolia, pois fico lembrando da nossa acirrada disputa por ganhos financeiros a ponto de nós, como humanidade, transformarmos uma planta a ponto de a semente não reproduzir mais outras plantas.
Mas nem só de melancolias vive o humano. Dias desses comprei uma raiz de batata doce, daquelas cuja casca é avermelhada, e para minha surpresa, alguns dias depois daquela pequena raiz estava florescendo uma planta muito bela, aos meus olhos de melancolia, é claro.
Oh, leitor, meus olhos não eram os olhos de ressaca de Capitu, eram sim olhos de esperança, pois estava ali um sopro de vida que se rebelava contra a necropolítica do humano.
No início pareciam dois pequenos botões verdes sobre um objeto vermelho e hoje aparece a mim como uma jovem e frondosa planta, restituindo à Terra a força da natureza.
Na primeira visão do nascimento da planta, pusemos a raiz em um vaso onde já havia outra planta. Dias depois, quando percebemos que o novo ser estava em estado de florescimento, trocamos para um vaso independente, e hoje o pé de batata transmite a mim que é possível a todos, como seres vencedores, conviver com as batatas.
Até a próxima!

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Gil na Academia

Gilberto Gil soube utilizar com maestria a régua e o compasso na construção de uma jornada artística, política e intelectual de tirar o fôlego. Ele produziu célebres canções para o…

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O pensamento faz bem Juan Mairena

O pensamento faz bem com Juan Mairena
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Chico César, aos vivos

Aos Vivos

A publicação da semana traz reflexões sobre o disco Aos vivos, de Chico César, que completa 30 anos de lançamento em 2025.

Há 30 anos passei um bom período ouvindo quase diariamente o disco de Chico César, Aos vivos. Do CD saía um som tão realista, que quando eu fechava os olhos parecia que Chico César estava na mesma sala que eu, tocando um violão vertiginosamente, tal era a qualidade daquela tecnologia na época.
Sei que nos anos 1990, muitas pessoas, que gostavam de música, eram apaixonadas por sons graves de alta fidelidade e não davam tanta atenção aos recursos técnicos do CD, pois eram adeptas dos sulcos encravados no velho bolachão, o LP, mesmo com os ruídos que a tecnologia trazia.
Mas a prova de que o som que saía daquele CD era de excelente qualidade foi a visita de uma vizinha que foi nos visitar e que, curiosamente, perguntou se eu sabia tocar violão. Pois é, do lado de fora do apartamento, a impressão da vizinha era parecida com a minha: havia alguém no apartamento tocando violão sem parar.
Quanto às músicas em si, Aos vivos fazia uma revisitação à música popular brasileira, reverenciando o cancioneiro popular por meio da ressignificação de ícones como Jackson do Pandeiro, Caetano Veloso, Gilberto Gil e por aí vai…
O interessante era que a revisitação tinha identidade própria, em cada música havia um João Bosco, um Luiz Gonzaga, mas com o jeito de ser de Chico César.
Aquelas imagens de Chico César no disco me traziam uma imagem mística e misteriosa de Buda. Chico César nos convidava a transcender por meio da música, o disco era uma viagem única em um mergulho harmonioso pelas ondas das melodias culturais brasileiras.
Os temas eram uma encenação à parte. Chico César toca poeticamente, com os pés bem fincados no chão, registrando nas letras temas como o racismo, as desigualdades sociais, as questões de gênero, mostrando que arte e política dão uma boa feijoada filosófica.
Voltei a ouvir Aos vivos 30 anos depois com uma sensação de saudosismo e renovação. Quanto ao som do violão? Continua o mesmo, provocando nossos ouvidos e nos convidando a continuar nossa viagem de cultivo à sensibilidade em mundo cheio de motivos para roubar nossa atenção .
Até a próxima!
Dados da obra
O quê? Aos vivos {CD}
Quando? 1995
De quem é? Chico César
Alguém mais? Lenine Lanny Gordin (guitarrista)

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O pensamento faz bem – Oscar Wilde

Pensar faz bem!
Pensar faz bem – Oscar Wilde
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Os algoritmos em nós

Os algoritmos em nós
Estava na Faculdade de Educação da UFBA, esperando a hora de iniciar a reunião com o grupo de pesquisa, quando resolvi passar na loja da Editora da UFBA (Edufba) para passar o tempo.
O interesse inicial era vasculhar textos sobre educação, mas para minha surpresa encontrei o livro Os algoritmos e nós, do professor Paulo Nuno Vicente, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa (Portugal).
O livro está escrito em português de Portugal, mas isto não impede a leitura fluida do texto. Em Os algoritmos e nós, o professor Nuno faz uma apreciação antropológica e social dos algoritmos, por meio de uma escrita leve e bem organizada.
A introdução é um convite à reflexão sobre as implicações sociais dos usos dos algoritmos na vida em sociedade. Depois o autor busca, sem abusar de termos técnicos, tecer comentários sobre os modos de existência dos algoritmos, trazendo as especificidades desses códigos computacionais, em uma abordagem que articula a face técnica e a face cultural desses objetos próprios do século XXI.
Nuno também faz um breviário da história dos algoritmos, com um jeito não enfadonho e sistematizando os principais marcos de construção desse que é um dos maiores bens construídos pela humanidade.
O livro levanta um elenco de situações sociotécnicas vão sendo discutidas durante a escrita da obra, trazendo esclarecimentos sobre questões como predição, opacidade, vigilância, coleta de dados, assimetria social, política, diversão, vieses e outros assuntos, ajudando os leitores a entender um tema tão atual para compreensão da vida cotidiana no século XXI.
Apesar da linguagem leve e organizada, Nuno não perde o rigor da narrativa e presenteia o leitor com informações fundamentais sobre esses inventos técnicos que fazem parte do dia a dia de todos nós.
O mais: entrei na livraria com um objetivo e, no acaso, sem interferências algorítmicas, encontrei um livro cuja leitura tanto me enriqueceu e me levou para outros rumos.
É hora de o leitor conhecer Nuno por ele mesmo!

A autocracia corresponde, nesses casos há uma racionalização assimétrica do poder social: os cidadãos são diminuídos na sua capacidade de ação e reinterpretados como instâncias de procedimento algorítmico. O mesmo é dizer: os cidadãos reduzem-se ao maquinal. Daqui decorre que a adoção de procedimentos algocráticos no seio das organizações transforma a natureza das instituições: não se trata apenas da adoção de um novo sistema informático, mas da modelação de novo exame de gestão.

Nuno, 2023, p. 66-67

Até a prp

Mediados por milênios e convertidos a oráculos digitais, procuramos nos sistemas algorítmicos a segurança que os antigos encontravam nas práticas ancestrais de artes divinatórias. Desejamos mudar o mundo assente na previsão do futuro, fonte de adicionais garantias em tempos conturbados, enquanto desviamos o olhar do que essa ambição faz de nós, enquanto sociedade, no tempo presente.

Nuno, 2023, p. 90